• Filme mostra mãe devastada pela perda de filho

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  • 06/abr 07:02
    Por Simião Castro / Estadão

    Instinto Materno, o novo filme de Anne Hathaway e Jessica Chastain, em cartaz nos cinemas, não esconde que poderia ser melhor do que é. O longa foi dirigido e filmado em 24 dias pelo diretor estreante Benoît Delhomme, que caiu no projeto de paraquedas. Ou melhor, sem paraquedas, como ele mesmo definiu em entrevista ao Estadão.

    Experiente como diretor de fotografia, com títulos como A Teoria de Tudo (2014), O Menino do Pijama Listrado (2008) e O Mercador de Veneza (2004), entre os cerca de 40 que já filmou, foi a primeira vez que uma produção esteve totalmente sob o seu comando.

    A história de Alice (Jessica Chastain) e Celine (Anne Hathaway), duas mães da década de 1960, amigas e vizinhas, devastadas pela morte do filho de uma delas, tem origem no livro de mesmo nome da escritora belga Barbara Abel. A saga de culpa, luto e suspeitas já foi adaptada para o cinema em 2018, pelo diretor também belga Olivier Masset-Depasse. Ele mesmo faria a refilmagem americana, mas precisou deixar o projeto.

    Delhomme já estava escalado como diretor de fotografia. “Três dias antes do início das filmagens, Anne e Jessica disseram: ‘Benoît, se você não fizer, o filme não vai acontecer. Se aceitar dirigir, poderemos seguir'”, lembrou ele. “Precisava aproveitar a oportunidade.”

    Com o cronograma apertado – a equipe tinha 24 dias para fazer o filme acontecer -, Delhomme afirma ter deixado muitas decisões criativas para as atrizes, ambas vencedoras do Oscar. “Elas conheciam seus papéis e sabiam como contar uma história”, explica.

    A confiança de ter a personagem consolidada no próprio imaginário emerge quando Chastain fala de Alice dentro do contexto de repressão feminina da década de 1960. “Eu sempre a vi como uma leoa, então nunca senti que precisaria reduzir a minha força para interpretá-la”, disse à edição britânica da revista Elle.

    Habitualmente por trás das lentes, Delhomme diz que, na nova função como diretor, sua abordagem só poderia ser humilde. “Tive dois dias de preparação. Não cheguei como se eu fosse um grande diretor. Só falei ‘vamos fazer isso juntos’.”

    Uma vantagem de acumular as duas funções, tanto na direção quanto operando a câmera, é a de não necessitar dar instruções a outro profissional. “Eu podia falar sozinho: ‘Benoît-câmera: pode fazer isso? Benoît-diretor, pode fazer aquilo?’.”

    Segundo ele, foi fácil estabelecer uma ligação com Chastain, com quem já trabalhou diversas vezes, como em Salomé (2013), e com Hathaway, com a qual esteve em One Day (2011). E é para as atrizes que ele dirige muitos elogios. “Elas sabem o que querem fazer. Tenho certeza de que farão um filme como diretoras em breve.”

    Com recursos escassos, Delhomme acabou por se apoiar na maturidade das atrizes e não se preocupou em interferir demais. Ele revela que, com tão poucos dias para filmar, precisou ser rígido no set e não desperdiçar as duas tomadas por cena que poderia fazer para não estourar o cronograma.

    Mas o fato de exercer duas atividades ao mesmo tempo pode ter dificultado a atuação de Delhomme como diretor. Há uma carência em Instinto Materno. As protagonistas tentam, mas não conseguem alcançar a profundidade necessária ao retratar as emoções complexas de trauma, remorso e medo.

    MARGARINA

    O longa é descrito, inicialmente, como a história de duas famílias de propaganda de margarina, vivendo em um subúrbio confortável dos Estados Unidos, mas não demora muito para o peso da tragédia se fazer presente. Dali em diante, a trama vira um thriller, em que eventos suspeitos começam a acontecer e a sanidade de uma das mulheres é questionada.

    Com um drama difícil de segurar e um suspense que demora a engatar, nem os contornos de terror que brotam com a reviravolta um tanto previsível convenceram público e crítica.

    As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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