• “Fila do osso” no Centro revela aumento da pobreza na cidade; depois da repercussão de foto, restos são proibidos de serem doados

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  • 15/10/2021 11:10
    Por Janaina do Carmo

    Chegar cedo ao Centro da Cidade para conseguir pegar ossos e pelancas de carnes é uma rotina na vida de uma aposentada, de 71 anos. Moradora do Bairro da Glória, em Corrêas, ela conta que o que consegue pegar é dividido para as refeições e para os cachorros. Na manhã desta quinta-feira (14), a idosa não conseguiu levar para casa os “restos” de carne que estava acostumada a pegar. Após a divulgação de uma foto nas redes sociais da “fila do osso” na Travessa Prudente Aguiar, as doações foram proibidas.

    “O que dá para comer eu como, o resto eu dou para os cachorros, mas hoje (quinta) não quiseram dar nada para gente levar”, disse a aposentada. A equipe da Tribuna esteve na manhã desta quinta-feira no local onde fica estacionado o caminhão que faz o recolhimento dos “restos” dos açougues do Centro da Cidade. Nesta quinta não havia fila, apenas duas pessoas estavam a procura dos ossos e pelancas.

    Os trabalhadores que fazem o recolhimento nos açougues disseram que não podem mais fazer as doações, mas não informaram os motivos. “Eu moro sozinha, pago aluguel e está difícil viver. Às vezes consigo uma cesta básica, mas ninguém ajuda a gente”, lamentou a aposentada.

    A comunidade do Bairro da Glória, onde a aposentada mora, faz parte do levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) feito em 2010, e está entre as 15 “favelas” existentes em Petrópolis. Essas comunidades são chamadas pelo IBGE de aglomerados subnormais e são classificadas assim devido a sua infraestrutura precária.

    Também estão na lista do IBGE as comunidades do Alto Independência, Cantinho da Esperança (Atílio Marotti), Caxambu – Buraco do Caxambu, Loteamento Elísio Alves (Centro), Comunidade São Francisco – Alto da Derrubada (Moinho Preto), Comunidade São João Batista e São Jorge (Duarte da Silveira), Comunidade Unidos Venceremos (Quarteirão Brasileiro), duas comunidades no Contorno I e II (Bingen), Duques (Quitandinha), Estrada da Saudade – Veridiano Felix, Leito BNH Pedro do Rio, Morro da Oficina – Rua dos Ferroviários (Alto da Serra), Morro do Neylor (Retiro) e Vila São Francisco.

    Os dados do IBGE são antigos e em 11 anos a situação pode ser considerada ainda pior. Agravada pela pandemia da covid-19, dados do CadÚnico do Ministério da Cidadania mostram que Petrópolis conta atualmente com cerca de 12 mil famílias vivendo na extrema pobreza, ou seja, que vivem com menos de R$ 89 por mês per capita.

    “É triste ver essa fila, né. E eles chegam cedo, com as sacolas e ficam aqui esperando”, disse um taxista, de 67 anos. Morador do entorno da Travessa Prudente Aguiar ele conta que a procura pelos restos dos açougues aumentou nos últimos meses. “Tem dia que a fila está grande, mas hoje (quinta) eles não apareceram”, ressaltou o taxista.

    Segundo o gerente de um dos açougues da Travessa Prudente Aguiar e entorno, a quantidade de pessoas a procura dos ossos e pelancas aumentou consideravelmente no início do ano. “Sempre teve gente procurando, mas eram poucas. De um tempo para cá é que a fila tem ficado grande. Eu chego cedo para trabalhar e por volta das 6h já tem gente esperando o caminhão. Tem dias, bem cedinho, que tem mais de 20 pessoas”, contou.

    A foto da “Fila do Osso” foi feita há cerca de 10 dias por uma moradora da região. O flagrante foi publicado nas redes sociais e gerou uma grande repercussão. A foto mostra cerca de 15 pessoas – homens e mulheres – em frente ao caminhão, pegando os restos de carne, por volta das 7h40 da manhã. “Eu só venho aqui pegar o que preciso, não fazemos mal a ninguém. Agora volto para casa sem nada”, disse a idosa.

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