• Festival de Veneza entrega Leão de Ouro a uma mulher pelo terceiro ano seguido

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  • 11/09/2022 12:39
    Por Mariane Morisawa / Estadão

    Levando em conta que a seleção da mostra competitiva do 79º Festival de Veneza foi bastante equilibrada, sem favoritos absolutos, a premiação foi bem pouco inspirada. O júri era presidido por Julianne Moore e integrado pelo diretor, roteirista e produtor argentino Mariano Cohn, o diretor e roteirista italiano Leonardo di Costanzo, a cineasta francesa Audrey Diwan, a atriz iraniana Leila Hatami, o escritor e roteirista nipo-britânico Kazuo Ishiguro e o cineasta, roteirista e produtor espanhol Rodrigo Sorogoyen.

    Sim, o Leão de Ouro para o documentário All the Beauty and the Bloodshed, de Laura Poitras (de Citizenfour, sobre Edward Snowden), foi surpreendente. O filme fala sobre a fotógrafa Nan Goldin e sua luta para a responsabilização e punição da Família Sackler, grande patrocinadora das artes e dona de uma empresa farmacêutica que é a maior responsável pela epidemia de vício e mortes em opioides nos Estados Unidos. É uma obra competente, emocionante, bastante política, deixando claro como é difícil ir contra bilionários e grandes corporações no mundo em que vivemos. Também é otimista, de certa maneira. E é o terceiro Leão de Ouro seguido para uma mulher, depois de Nomadland, de Chloe Zhao, em 2020, e O Acontecimento, da agora jurada Audrey Diwan, no ano passado.

    Mas, nos outros sete prêmios dados pelo júri da competição oficial, apenas cinco obras foram contempladas, com vitórias duplas para Bones and All (direção para Luca Guadagnino e Marcello Mastroianni para jovem ator ou atriz para Taylor Russell) e The Banshees of Inisherin (Coppa Volpi de ator para Colin Farrell e roteiro para Martin McDonagh, que também dirige o filme). Não que eles não merecessem, mas, com uma competição sem favoritos, a impressão é a de que ou o júri achou a seleção pouco inspiradora ou houve grande divisão, e poucos filmes foram considerados premiáveis por todos.

    Chama a atenção ainda a predominância dos filmes falados em inglês. Tudo bem que dez dos 23 selecionados eram majoritariamente falados nessa língua, sem contar Bardo, de Alejandro González Iñárritu, que é parcialmente em inglês. Mas seis dos oito troféus entregues na noite do sábado foram para produções em inglês – além de All the Beauty and the Bloodshed, Bones and All e The Banshees of Inisherin, Tár, pelo qual Cate Blanchett levou a Coppa Volpi de atriz, também. As exceções ficaram por conta do Grande Prêmio do Júri para o francês Saint Omer, de Alice Diop, e o Prêmio Especial do Júri para o iraniano No Bears, de Jafar Panahi.

    No geral, foi uma seleção boa, mas pouco empolgante, sem muitos filmes para amar ou odiar. Havia muitos dramas políticos, seja Argentina, 1985, de Santiago Mitre, sobre o julgamento dos responsáveis pelos crimes da ditadura, Lord of the Ants, de Gianni Amelio, sobre um professor preso por ser homossexual, ou Beyond the Wall, de Vahid Jalilvand, sobre a repressão no Irã.

    Também disputaram o Leão de Ouro muitos filmes confinados ou isolados, em geral sobre relacionamentos – um efeito, talvez, da pandemia. Nessa categoria se encaixam The Whale, de Darren Aronofsky, Immensity, de Emanuele Crialese, Love Life, de Kôji Fukada, The Eternal Daughter, de Joanna Hogg, Other People’s Children, de Rebecca Zlotowski, Bones and All e The Banshees of Inisherin. Dentre esses, o júri claramente preferiu aqueles de conceito um pouco mais rebuscado. Os dois últimos envolvem violência e sangue, mesmo falando de um relacionamento amoroso e entre dois amigos, respectivamente.

    A Netflix, que tinha quatro produções em competição, saiu sem prêmios. Em compensação, Bones and All, Tár e The Banshees of Inisherin, distribuídos respectivamente por MGM/Warner, Universal Pictures e Searchlight (da Disney), ou seja, estúdios clássicos, levaram um total de cinco troféus.

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