• Festas ampliam casos de covid-19 no litoral baiano

  • 04/02/2021 13:00
    Por Fernanda Santana, especial para o Estadão / Estadão

    Diariamente, o trabalho sobre as águas do Rio Caraíva era regido pelo fluxo de turistas. O canoeiro Benedito Borges, de 63 anos, transportava nove pessoas por vez até Caraíva, distrito de Porto Seguro, no sul da Bahia, em dez horas de trabalho diárias. Repetiu a rotina até acordar doente. O ar não chegava mais aos pulmões e o corpo mal se aguentava em pé. Estava com a covid-19.

    O sul da Bahia foi cenário de aglomerações entre o fim de dezembro e o início de janeiro, destaca o Estadão. Uma briga judicial entre o governo, promotores de festas e parte do setor turístico teve o Estado como vencedor – e ficaram proibidos eventos de qualquer porte. Mas as restrições não saíram do papel. Borges, canoeiro há 15 anos, disse nunca ter visto seu distrito tão cheio.

    A conta chega agora, no sistema de saúde, com cada vez mais infectados pela covid. Dos 28 leitos de UTI para pacientes graves distribuídos entre Porto Seguro e Eunápolis, a 55 km dali, 70% estão ocupados.

    Há três semanas, os primeiros sintomas da contaminação apareceram em Borges, apelidado de Dito. Como não tinha tempo para ter medo, e via naquele movimento de turistas uma oportunidade de passar o início do ano tranquilo, Dito se aventurava. Às vezes, um turista teimava em não querer usar máscara. O canoeiro selava um armistício. “Eu usava sempre, acho que contraí o vírus por pegar dinheiro, e porque nem sempre tinha álcool em gel”, contou. Por pessoa, a travessia para chegar ou sair de Caraíva, um tipo de península, custa R$ 5.

    A movimentação de turistas começou a crescer em 26 de dezembro – e, com ela, as aglomerações nas ruas. Um dia após o Natal, o Aeroporto Terravista, em Trancoso, distrito vizinho, registrou até engarrafamento de aeronaves para desembarque. As festas clandestinas em pousadas e condomínios fechados invadiam as madrugadas.

    Porto Seguro tinha, de março de 2020 até aquele momento, 4.346 casos da doença, segundo a Secretaria de Saúde. Duas semanas depois, em 15 de janeiro, eram 4.779 notificações. E no boletim da segunda-feira: 5.373 casos – um crescimento de 12%.

    O distrito de Caraíva, com cerca de mil pessoas, tem uma única UBS. Entre dezembro e janeiro, a população ficou até sete vezes maior, apesar dos avisos pela pandemia. Dito não conseguiu nem acesso a medicamentos no distrito. “Sorte que não precisei ser transferido, me isolei aqui. Minhas filhas vêm e deixam a comida na janela.” Quando falou ao Estadão, ele dava pausas para respirar, pois os pulmões ainda se recuperavam do baque.

    Setenta festas

    As aglomerações entre dezembro e janeiro se concentraram em Caraíva, Trancoso e Arraial D’Ajuda. Entre 28 de dezembro e 3 de janeiro, a PM baiana diz ter encerrado 70 festas ilegais. Uma delas, em 29 de dezembro, foi na casa da cantora Elba Ramalho, alugada por um empresário que reuniu 400 pessoas. Ela negou saber do evento. “No fim do ano, parecia carnaval. Só funcionários tinham a máscara. Mas, na praia, não existe isso”, disse a guia de turismo Cátia Campanholo, que recebe os turistas nos aeroportos e os leva a passeio pelas praias.

    A preocupação agora, segundo a secretária da Saúde de Cairu, Cíntia Rosemberg, é com o carnaval. Mesmo sendo cancelado o ponto facultativo no Estado, tradicionalmente o litoral sul da Bahia é destino certo para turistas de todo o País. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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