Fernando Judice da Motta Teixeira: o legado de talento e personalidade à cidade de Petrópolis
Fernando Judice da Motta Teixeira, afetuosamente conhecido como o ‘Dr Fernando’, nasceu a 17 de agosto de 1930, no Rio de Janeiro, onde cresceu e estudou no Colégio São Jose e se formou em Engenharia Civil pela Universidade do Rio de Janeiro.
Por parte de pai e mãe provinha de uma extensa família tradicional do Rio de Janeiro. Seu pai, Rubem da Motta Teixeira, foi fiscal portuário. Já a mãe, Yvonne Judice, mantinha os standards socioculturais de gerações dedicadas ao profissionalismo e civilidade. O ‘bom rapaz’ foi sempre consciencioso e recatado e sobressaia por sua inteligência técnica mesmo dentro de sua incomparável discrição. Um contraponto perfeito para sua única irmã, Vera Judice da Motta Teixeira, que com seu charme e criatividade encantava com igual doçura.
O ramo da família de sua mãe, os Judice, já se haviam radicado em Petrópolis. Seu tio, Ernani Judice, era renomado médico, influente na Sociedade Médica de Petrópolis – cidade com histórico distinguido na área. Ao formar-se, funda em Petrópolis, juntamente com seu primo, o arquiteto Sergio Judice, a Construtora Judice Motta, que viria a fazer história na cidade e região desenvolvendo projetos notáveis no boom dos anos 60 e 70.
Dizem que os opostos se atraem: o jovem sério e responsável enamora-se da carioca simpática e comunicativa Marcy Rocha. Se casam na Igreja de Santa Margarida Maria, com a privilegiada vista da Lagoa, a 26 de setembro de 1959, e formam seu ninho em uma casa de autoria própria na Rua Ipiranga, logo dando início a uma prole com os ‘3 Fernandinhos’ e mais tarde as ‘2 Marias’.
O talento e espírito empreendedor da dupla Judice-Motta marcou época na cidade, em breve se responsabilizando por projetos de residências de verão para a nata da sociedade carioca, realçando sempre o potencial paisagístico da geografia petropolitana. Mas também conjuntos de estilo e esmero apreciados pelos entendedores do assunto: o Edifício Aloha, a Colônia de Férias do SESC, o Edifício Cinda, o Edifício Dom Joao VI, a Igreja Nossa Senhora da Gloria, no Morin, e a reforma da fachada da UCP, em frente ao Relógio de Flores
Entretanto, da consciência conjuntural nunca esteve divorciado. No final da década de 70 foi Secretário de Obras por 2 anos, e a meados da década de 80 Secretário de Planejamento por 3 anos.
Ao longo dessas décadas, marcadas por um desenvolvimento acentuado da cidade e crescimento da população, Dr. Fernando cresceu junto com a cidade: seu conhecimento e entendimento dos bairros, topografia, polos industriais e comercias, e processos urbanísticos espontâneos era igualável somente talvez ao conhecimento que tinha a cidade dele mesmo: por sua competência, acessibilidade, expertise, e sobretudo pelo trato respeitoso e afetuoso que sempre ofereceu a todos, Dr. Fernando era a pessoa a quem todos recorriam.
A aposentadoria (e encerramento das atividades da Construtora Judice Motta) não poderiam nunca impedir o Dr. Fernando de continuar ativo, participante e criativo em sua área de escolha profissional. Trabalhou em parceria com Octavio Lobianco por muitos anos, até ser convidado para integrar o quadro profissional da Companhia Imobiliária de Petrópolis como consultor, com base no seu entendimento único de como funciona essa cidade de caráter único no Brasil, ao longo de todas essas décadas, desde suas lembranças da estação de trem, a que chegava com sua família quando criança, as sucessivas transformações por que passou a cidade desde o plano Koeler e a herança imperial e aristocrática do século XIX, aos correntes dias como polo turístico.
Em 27 de Junho de 2023 o nosso querido ‘Dr Fernando’ encerrou mais de 9 décadas dessa contribuição profissional e pessoal inigualável deixando-nos o legado de seu talento e personalidade, que seguirão no marco indelével de seu amor pela cidade, pela natureza, e pela beleza e inteligência do espaço construído.
Era homem de probidade ímpar, leal a sua religiosidade e princípios, mesmo quando estes eram testados pelas intempéries do mundo a seu redor.
Sempre humilde, nunca se gabava de todos essas glorias. Sempre fora artista nato, tocava piano e outros instrumentos de ouvido, desenhava, pintava, e esculpia obras que sempre traduziam sua natureza observadora e delicada. Sempre teve um relacionamento de intimidade profunda com a natureza, dedos verdes que cuidavam de orquídeas que deslumbravam, e um talento quase são-franciscano que atraia os animais, principalmente os pássaros. Nos últimos anos, com o avanço da idade e das limitações, continuava exercendo a dedicação de seus dons aos milhares de pássaros esculpidos e pintados à mão, com o carinho de detalhes e valorização da obra da natureza e de Deus que caracterizou toda a sua vida, que agora – e sempre – celebraremos.
Como diz o poeta Wordsworth: “a melhor parte da vida de um bom homem se encontra nos pequenos atos de gentileza e amor que não se podem nomear ou descrever e que não ficam registrados nos anais da história”. O homem a que muitos se referiam como um grande amigo, deixa como legado pessoal a todos os beneficiários muitos desses atos de bondades e carinho.
Seu caráter nobre (era descendente dos três primeiros reis de Portugal, e, através deles, de várias casas reais europeias na Idade Média) se traduzia em sua conduta impecável, um sentido de responsabilidade premente, e uma generosidade que só poderia prover de um grande coração, cuja presença nos privilegiou por tantos anos, deixando um exemplo da grandeza a que alma humana pode almejar.