Feminismo não é abortismo
Ser feminista e lutar pelos direitos das mulheres, algo louvável e necessário, não é sinônimo de ser favorável à legalização do aborto. Não existe apenas um feminismo, mas diversos feminismos. Rosemarie Putnam Tong em seu livro Feminist Thought elenca os seguintes: feminismo liberal, feminismo radical, feminismo marxista e socialista, feminismo psicanalítico e de gênero, feminismo existencialista, feminismo pós-moderno, feminismo multicultural e global e ecofeminismo. Outros autores classificam de maneira diferente ou apresentam, além desses, outros feminismos.
Atualmente, uma visão feminista mais midiática, rasa, radical e panfletária tem sido passada como se fosse a única existente. Qualquer questionamento às posições defendidas por ela é automaticamente visto como “heresia” e tachada como misógina, machista ou patriarcal, até mesmo pontos de vista são defendidos por feministas com outras visões de mundo. É comum, portanto, se associar a luta pela legalização do direito ao aborto à própria essência do que seria o feminismo, sobretudo quem desconhece o que de fato é feminismo. A afirmação de que “ser feminista e ser contra o aborto é uma incoerência” tornou-se comum, mas é uma falácia. Eu mesmo já defendi essa perspectiva no passado, mas hoje percebo o meu erro. Na verdade, não há incoerência alguma entre ser feminista e ser contra o aborto.
Muitas das pioneiras do feminismo posicionavam-se contrariamente à legalização do aborto. Susan B. Anthony (1820-1906) viu o aborto como o “assassinato de criança” e Alice Paul (1885-1977) afirmou que ele era “a exploração das mulheres no nível mais alto”. Essa não é uma posição antiquada e ultrapassada, como poderia se alegado, mas é defendida por muitas feministas, ainda hoje. Muitos defensores dos direitos das mulheres e de várias posições feministas têm passado a integrar as hostes da luta pelo direito à vida e os diversos movimentos pró-vida, contrários ao aborto, nos últimos anos.
Em discurso, a feminista Serrin M. Foster, presidente do Feminists for Life (“Feministas pela Vida”) afirmou que: “O aborto trai os princípios feministas básicos da não-violência, da não-discriminação e da justiça para todos. O aborto é um reflexo de que não estamos atendendo às necessidades das mulheres – e que as mulheres se conformaram com menos”. Outro exemplo é o da advogada e feminista americana pró-vida Erika Bachiochi, que escreveu um artigo cujo título vai direto ao ponto: “Sou feminista e contra o aborto”.
Afirmar que o aborto é questão prioritária para o feminismo é esquecer que a essência do feminismo é a luta pela garantia e a ampliação de direitos. Já o suposto “direito ao aborto” é uma diminuição da garantia do direito à vida. Há formas melhores para que os direitos e a liberdade sexual e reprodutiva das mulheres sejam assegurados, sem que seja preciso assassinar seres humanos inocentes e indefesos. Ou será que querem transformar o feminismo na defesa da cultura do aborto, da violência e da morte, ao invés de uma defesa da ética do cuidado, do direito à vida e do humanismo, como o feminismo de fato deve ser?