Feira livre: muitas histórias em 103 anos de existência
Uma boa opção para quem quer comprar legumes, frutas e verduras frescos são as feiras livres. Inaugurada em fevereiro de 1917, a Feira Livre petropolitana completou na última semana 103 anos. O alimento que brota no campo, percorre um longo caminho até chegar as nossas mesas, e para isso, na cidade, cerca de mil trabalhadores estão envolvidos na venda direta entre consumidor e produtores rurais, nas 14 feiras existentes no município.
O hábito de escolher legumes, verduras e frutas frescas é passado de geração em geração, assim como o trabalho realizado pelos feirantes na cidade. “Acho que vivemos mais na rua da feira do que em casa”, diz Jadir Corrêa Júnior, que segue o legado da família iniciado por seu avô, Antônio, por volta do ano de 1962, junto com seus dois irmãos mais novos.
Com produtos de qualidade, inclusive orgânicos, o movimento na feira contribui para o sustento de muitas famílias petropolitanas, mas não é só isso. O prazer em conhecer cada um dos seus clientes, que todas as semanas retornam as mesmas barracas é o que mais encanta o já aposentado, Jadir Corrêa da Silva, 61 anos, que continua ajudando seus três filhos na feira. A presença de sua mãe, Maria, aos 77 anos, também é constante.
“Mesmo que a gente fique sem trabalhar lá, temos que ir falar um oi. Já é um costume. Conheci minha esposa lá. Comecei ajudando meu sogro, depois consegui uma banquinha e comecei a trabalhar com o meu pai. E agora quem toca são os nossos filhos, Júnior, Leandro e Vinícius. Eles foram criados dentro da feira”, disse Jadir, que já soma mais de 45 anos de feira, com a revenda de frutas compradas no Ceasa ou diretamente com os produtores. Ao todo, a família soma 53 anos de trabalho.
“Virou uma coisa hereditária mesmo, iniciada pelo meu avô, passado para os meus pais e agora para os meus filhos. Um dos meus irmãos fez Educação Física, e o outro, Economia, mas os dois continuam na feira, e agora nossas esposas também participam”, disse o filho mais velho de Jadir Júnior.
E a história começa a se repetir. Júnior e os irmãos participaram da feira desde a infância aos finais de semana, e os seus filhos já começaram a frequentar o local também. “Fomos adquirindo esse gosto pela feira desde criancinhas, trabalhando com minha avó, nossos pais e tios e agora somos nós. Tenho clientes que me viram crianças e hoje já conseguem ver a nova geração chegando com a minha filha e meu sobrinho, os dois de três anos”, conta Júnior.
A feirante Rosângela Loureiro, de 51 anos, não vem de uma família de feirante, mas o trabalho tem sido repassado aos filhos, que seguem nas feiras. Ela é feirante em Petrópolis há 33 anos, mas antes trabalhava na feira com uma vizinha em Pernambuco, de onde veio aos 13 anos. Chegou a trabalhar como balconista em uma loja de vestuário na cidade, mas, como se fosse destino, retornou aos campos e ao trabalho na feira com as verduras hidropônicas e convencionais e legumes processados ao conhecer o marido.
“Hoje, tenho três filhos e um enteado. Meu enteado trabalhou com a gente por uns 13 anos, mas há sete mora na Europa e trabalha em um restaurante. O nosso mais novo está com 23 e ainda está na feira, das meninas, a do meio apesar de formada em engenharia civil sempre trabalhou comigo na feira, mesmo quando estava empregada. A mais velha, também segue nas feiras, mas no Rio de Janeiro, por conta própria”, disse ela.
Assim com a família de Jadir, Rosângela conta que um dos maiores prazeres em ser feirante é o contato com as pessoas. “Com os clientes nós criamos uma relação de amizade mesmo, muitos eu vi crescer, a gente acaba participando da vida deles e eles da nossa, já fui a bodas de ouro de um casal de clientes”, conta Rosângela.
103 anos da Feira Livre
Inaugurada em 17 de fevereiro de 1917, no centro da cidade, a Feira Livre completou 103 anos na última segunda-feira. Hoje a feira conta com 327 barracas que vendem legumes, frutas, verduras, embutidos e até café.
Juntas, as 14 feiras semanais comercializam 350 toneladas de frutas e legumes por semana nas feiras, de acordo com a associação dos feirantes. A Prefeitura tem planos de estabelecer mais duas feiras na cidade esse ano. De acordo com o Departamento de Agricultura, as maiores feiras são a do Centro, Alto da Serra e Corrêas.
As feiras ocorrem das 6h às 13h30. No domingo, a venda ocorre no Alto da Serra, São Sebastião, Itamarati, Corrêas, Nogueira e Duarte da Silveira. Na terça-feira, tem a feira do Centro. Já na quinta-feira tem venda direta no Henrique Raffard (Bingen) e Praça Pasteur. Nas sextas, a feira ocorre na Francisco Manoel e General Rondon (Quitandinha). No sábado, no Centro, Valparaíso e Posse.