Fechamento Juros: Queda das taxas perde força com mercado em ‘modo espera’ por pacote fiscal
Os juros futuros perderam ímpeto de queda ao longo do dia, mas ainda fecharam a sessão com viés de baixa. A expectativa em relação ao pacote fiscal segue trazendo volatilidade e a curva só deve ter um rumo definido quando o governo divulgar a agenda de revisão aprovada pelo presidente Lula.
Os ministros Fernando Haddad (Fazenda), Simone Tebet (Planejamento) e Rui Costa (Casa Civil) tentaram aplacar a ansiedade dos agentes quanto às medidas, mas o efeito sobre os ativos foi limitado. O foco na questão fiscal deixou a agenda econômica em segundo plano e, no exterior, os juros globais do mesmo modo operaram sem tendência firme.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2026 encerrou em 12,73%, de 12,75% ontem no ajuste. A taxa do DI para janeiro de 2027 passou de 12,91% para 12,88% e a do DI para janeiro de 2029, de 12,95% para 12,89%.
O alívio visto na curva nesta quarta-feira se deu num ambiente de liquidez muito baixa – outro elemento que denota a pouca disposição do mercado em tomar posições contundentes. Enquanto não se tem ideia do que virá das medidas, o mercado tenta se posicionar, mas sem muita convicção.
Ontem, Lula, Haddad, Costa e o diretor de Política Monetária e futuro presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, além de outros integrantes da equipe econômica, estiveram reunidos por quatro horas no Palácio da Alvorada, reforçando a expectativa de que o anúncio não tardaria, mas ainda não foi dessa vez.
Haddad hoje disse entender a inquietação do mercado, mas ponderou que há muita especulação. Ele revelou que o governo está trabalhando numa “fórmula adequada” para o pacote, que abra caminho para a queda dos juros, do dólar e a ancoragem das expectativas. Já Costa reafirmou “o absoluto compromisso do governo com o equilíbrio fiscal”, durante a cerimônia da Nova Indústria Brasil, no Planalto.
Tebet disse que não há “pressa” na aprovação nem na “entrega” das ações, já que boa parte delas visa o cumprimento da regra fiscal em 2026, mas julga ser importante anunciar ainda em novembro. Segundo ela, Lula já tem ideia do montante de cortes e das medidas que o pacote incluirá. Mas o ministro do Trabalho, Luiz Marinho, buscou se descolar, afirmando que nunca foi consultado por integrantes do governo sobre a agenda e que não existe debate no Executivo sobre cortar recursos de benefícios como seguro-desemprego e abono salarial.
O analista de renda fixa da Connex Capital Gean Lima afirma que a casa tem posição atualmente neutra em prefixados, lembrando do ritmo forte da atividade, do nível de desancoragem das expectativas e a questão fiscal ainda em aberto. “Não há estímulo para ficar comprado, mas por outro lado a atratividade para aplicar depende do que o governo vai apresentar”, diz. Ele destaca que a curva de FRA aponta Selic de 13,5% no fim de 2025, o que aparentemente é exagerado, “mas quem vai dizer se isso é verdade ou não são as ações do governo”.
“Temos os juros reais em patamar bastante elevado, aproximadamente 1,2 ponto-base acima da inflação implícita, o que evidencia um nível alto de restritividade dos juros reais. Vemos as taxas atrativas para aplicar, sobretudo com hedge na compra de inflação implícita”, afirma.
A agenda do dia trouxe, entre outros indicadores, o saldo do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) referente a setembro, mas sem impacto nos preços, ainda que o resultado positivo de 247.818 vagas tenha superado o de agosto (239.113) e também a mediana das estimativas, de 225 mil.