• ‘Falta de experiência em Série A pesou no início para o Bragantino’, diz Barbieri

  • 12/02/2021 15:00
    Por Ciro Campos / Estadão

    O Red Bull Bragantino experimentou uma grande arrancada neste Campeonato Brasileiro. Após ter um início ruim de competição e passar rodadas na zona de rebaixamento, o clube agora disputa vaga na Copa Libertadores e tem o artilheiro do torneio, o atacante Claudinho, com 17 gols. Um dos responsáveis por esse trabalho é o técnico Maurício Barbieri, que chegou ao cargo em setembro e comandou essa reação.

    De contrato renovado até o fim de 2022, o treinador concedeu entrevista exclusiva ao Estadão e comentou sobre o trabalho realizado no clube. Na opinião dele, o elenco jovem sentiu no início da temporada o peso de disputar pela primeira vez um Brasileirão, mas soube reagir graças ao trabalho e à paciência.

    A equipe que tirou ponto de líderes como Flamengo, Atlético-MG e São Paulo tem a expectativa de na próxima temporada incomodar ainda mais os favoritos. “Na temporada de 2021 o Bragantino será ainda melhor. Será uma equipe com mais rodagem e experiência”, disse. Confira os principais trechos da entrevista:

    Quais os principais acertos que fizeram o Red Bull Bragantino reagir?

    Primeiramente, organizar uma estrutura de jogo, um sistema que pudesse potencializar melhor as características dos jogadores. Procurei desenvolver uma ideia bem definida de atuar, que casasse com o que o clube esperava, recuperar a parte anímica e de confiança não só no projeto do clube, mas principalmente na crença dos próprios jogadores de que poderiam dar a volta por cima. Depois trabalhei com gestão do grupo, tratar todos da mesma maneira, oferecer as mesmas oportunidades.

    O que te atraiu no projeto do Red Bull Bragantino?

    Eu já tinha participado de um projeto do Red Bull Brasil entre 2014 e 2016. Já conhecia um pouco do funcionamento da empresa, da gestão. O que mais me atraiu é a possibilidade de realizar um trabalho de médio e longo prazo. E quando digo sobre prazo, não é nem sobre mim. Mas sim a mentalidade do clube. que tem uma visão de trazer jogadores jovens e desenvolvê-los e a partir desse trabalho, conseguir criar uma equipe cada vez mais competitiva e trabalhada. Todos têm essa visão, respeitam os processos e sabem que o resultado será consequência de um trabalho bem desenvolvido e não ao contrário.

    O clube costuma contratar treinadores jovens. O que acha disso?

    Eu acho que é interessante, porque vai dentro de um perfil de treinador que eles buscam. E isso acaba dando oportunidade para treinadores da nova geração. Acho que é fundamental. Nos últimos anos isso tem acontecido com mais frequência. É muito válido.

    O time tem conseguido ótimos resultados neste Brasileirão. Vocês esperavam essa arrancada?

    O sentimento foi de satisfação de ter a confirmação de que nós já vínhamos fazendo bons jogos antes, mas o resultado não veio. A gente sabia que estava construindo e estava no momento certo. As vitórias confirmaram esse trabalho e permitiram para nós colhermos os frutos. O ambiente é de satisfação e reconhecimento do trabalho. Nós queremos mais.

    Por que o time demorou a engrenar no Brasileirão?

    É difícil eu avaliar de forma precisa porque eu não estava aqui desde o início. Cheguei com o campeonato em andamento, mas tem alguns fatores que são importantes e não foram tão falados. A experiência da equipe na Série A foi importante. Mantivemos uma base do time que subiu da Série B, mas mesmo esse conjunto eram jogadores que não tinham uma grande bagagem em número de jogos da Série A. E se somou a isso uma grande quantidade de atletas jovens, de menos de 22 anos. Um pouco dessa falta de experiência de Série A, de jogos contra times de elite, acabou pesando no início. Aos poucos o campeonato foi avançando e o trabalho foi desenvolvido. Isso fez a equipe ganhar consistência, conseguir competir melhor e os jogadores adquiriram experiência. Hoje a gente consegue enfrentar qualquer adversário do campeonato sendo bastante competitivo e sendo aguerrido.

    Como foi o trabalho para o Claudinho se tornar artilheiro?

    Tudo o que ele está apresentando são atributos que ele sempre teve como potencial. O meu trabalho é ajudá-lo a se desenvolver dentro da equipe. O time não tem que jogar para ele, mas sim procurar explorar o potencial dele. O primeiro momento o que fiz foi colocar o Claudinho para atuar mais próximo do atacante, perto do gol, para aproveitar as finalizações dele, chutes da entrada da área. Ele precisa de liberdade, de espaço para criar, para ter o improviso. Mas também precisa se enquadrar dentro de um jogo coletivo. Ele evoluiu muito nas questões defensivas, de ocupação de espaço e de agressividade. Muitas vezes ele rouba a bola para iniciar a construção de jogadas. É um jogador que ainda está em evolução e vai crescer bastante.

    E como ele tem lidado com esse momento?

    É um cara muito tranquilo. Mas eu também procuro manter a rédea curta (risos). Temos sempre uma conversa muito franca e direta. Eu sempre peço para ele ser agressivo e procurar espaços para finalizar. Claudinho ainda tem margem para melhorar e fazer ainda mais gols.

    Ter um elenco jovem à disposição facilitou o seu trabalho?

    Todas as situações tem vantagens e desvantagens. Em geral, o jovem emocionalmente precisa evoluir mais, não apresenta a constância emocional do jogador experiente. No momento da dificuldade, ajuda para o treinador poder contar com um jogador que tem um lastro e uma experiência maiores. Acho que o início ruim do Brasileirão tenha tido um peso maior por eles serem jovens, com aquela dificuldade de assimilar e encontrar com calma as soluções. Para mim, de certa forma não foi novidade por passei por várias equipes de base, trabalhei muito com jovens. O exemplo mais expressivo foi com o Flamengo: Vinícius Júnior, Paquetá, Léo Duarte. Eu gosto de trabalhar com jovens. Eu não tenho dúvida que na temporada de 2021 o Bragantino será ainda melhor. Será uma equipe com mais rodagem e experiência, sem deixar de ser jovem e capaz de fazer jogos com intensidade.

    Trabalhar no Red Bull Bragantino é mais tranquilo e dá mais chances para o treinador?

    Eu acho que sim. Eu trocaria a palavra tranquilidade por talvez segurança. Aqui a gente também precisa entregar o resultado. O clube trabalha para isso. Mas o que existe aqui é um critério melhor sobre qual o resultado que o clube quer para cada momento. No início, não teve pressão para o time brigar por Libertadores, porque se entendia que isso era um resultado de um processo de construção. Nesse sentido, o treinador que está aqui encontra mais segurança e respaldo para desenvolver o seu trabalho.

    O clube foi o único que não reduziu salários durante a pandemia. O investimento é pesado. A pressão sobre você também pode ser grande por causa disso?

    Nós temos aqui a segurança de que vamos receber, que os acordos serão cumpridos. O clube investe e quer ter os resultados. Mas aqui tem uma grande clareza e consciência de quais são os resultados intermediários que precisam ser atingidos primeiro para depois se cobrar voos maiores. O foco de todo mundo da direção está nos processos. Nada acontece da noite para o dia. O clube passa serenidade para a gente trabalhar e saber que os resultados vão chegar. Não sabemos quando, porque não é matemática.

    Tem gostado da vida em Bragança Paulista?

    É uma vida mais pacata, mais tranquila. Você perde bem menos tempo em deslocamento para fazer as coisas. Eu acho que para os jogadores também é bom. Não tem tanta badalação, tantos excessos como a gente encontra nas cidades grandes. Aqui todos conseguem ficar próximos do estádio e do centro de treinamento. E têm mais tempo para ficar com a família.

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