• Falta de acessibilidade em Petrópolis dificulta empregabilidade de deficientes físicos

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  • 08/10/2017 08:00

    A falta de acessibilidade em Petrópolis impressiona, e coloca ainda mais obstáculos na vida de quem possui limitações físicas. Atualmente mais de 62 mil pessoas com algum tipo de deficiência vivem na Cidade Imperial, destes apenas 2.712 estão inseridos no mercado de trabalho mesmo com mais de 200 vagas disponíveis atualmente, segundo o vereador Marcelo da Silveira, que afirmou ainda que a causa disso está diretamente relacionada a falta de acessibilidade nos bairros e no Centro Histórico. 

    A simples tarefa de sair de casa e pegar um ônibus é um verdadeiro desafio. Isso, porque a maior parte das ruas da cidade são íngremes e desniveladas. Apesar de 90% frota ser adaptada muitos não conseguem nem chegar aos pontos de ônibus. Os que vencem os obstáculos logo na porta de casa normalmente contam com ajuda de familiares, amigos e até desconhecidos para chegar nos pontos e finalmente entrar nos coletivos. 

    Vencido o primeiro empecilho muitos outros surgem ao longo do caminho. Não existem rampas em todas as ruas da cidade, e algumas foram mal projetadas sendo impossível subir de cadeira de rodas, muletas, entre outros, com ou sem ajuda de quem não possui algum tipo de deficiência. As únicas alternativas são: dar diversas voltas na cidade em busca de rampas e calçadas mais acessíveis, ou depender de terceiros. 

    Uma dos petropolitanos que passa por isso todos os dias é o vice-presidente da Associação Pró Deficiente Luciano Monteiro Vianna. “Aqui na Galeria Vila Rica a rampa que foi feita é uma verdadeira vergonha. Para encontrar um único banheiro adaptado no Centro e locais que consigamos transitar melhor é quase impossível. As vezes é mesmo desanimador sair de casa sabendo a quantidade de obstáculos que precisarão ser enfrentados. Moro n bairro Floresta e lá só existem ladeiras praticamente, então andar de cadeiras de rodas é bem complicado”, desabafou.

    Luciano contou ainda que apenas este ano precisou trocar sete câmaras de ar do pneu da cadeira, quando o normal seriam duas o ano todo. Além disso três pares de rodas também precisaram ser substituídos, e na última semana ele precisou voltar para casa de táxi após ter a cadeira danificada após passar em um buraco na Rua Paulo Barbosa. “No Itamarati tem uma rua que a calçada se chama “A Calçada do Solteiro”, isso porque ela é tão estreita que só passa uma pessoa por vez. Você imagina então como nós ficamos quando nos deparamos com esse tipo de coisa!”, disse em tom de decepção.

    O vice-presidente ressaltou ainda a dificuldade para conseguir comprar roupas, ou até uma garrafa de água nos estabelecimentos da cidade. “A maior parte do comércio não é adaptada. Esses dias fiquei do lado de fora de um bar e pedi para um rapaz comprar uma água para mim porque devido ao degrau eu não conseguia entrar. Para comprar roupas é preciso fazer amizades com os donos da loja para que possa levar as peças e experimentar em casa. Afinal não consigo entrar na loja, muito menos ter acesso a um provador adaptado”, contou. 

    Os turistas também sofrem quando vistam Petrópolis e buscam conhecer os pontos turísticos. Segundo Marcelo da Silveira recentemente ele recebeu uma reclamação do pai de um jovem cadeirante. “Ele me contou que precisou comprar uma garrafa de plástico para que o filho pudesse urinar. Isso tudo por causa da flata de banheiros, que todo mundo já sofre, ainda mais quando se trata de sanitários adaptados. Um absurdo!”, contou indignado. 

    Marcelo ressaltou ainda que a falta de acessibilidade prejudica também idosos, mulheres grávidas e até mesmo pessoas que estão machucadas, e temporariamente com os movimentos restritos. 

    A prefeitura informou que a questão da acessibilidade é mais um desafio enfrentado pela atual gestão, considerando que, ao logo dos anos, o município nunca teve um planejamento voltado à acessibilidade. Parte dos principais prédios públicos, assim como algumas vias no Centro Histórico, são tombados pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) – que deve acompanhar e autorizar qualquer tipo de intervenção.

    O município disse ainda que vem fazendo um levantamento junto a todas as secretarias, identificando as condições de acessibilidade em prédios públicos e pontos turísticos. A intenção é que, a partir do diagnóstico, o município elabore um plano para permitir acessibilidade a esses locais.

    A questão da acessibilidade também vem sendo tratada ainda dentro do projeto do novo Código de Obras do município. O documento prevê que a acessibilidade deve ser garantida nas novas construções.

    Arquiteto afirma que planejamento auxiliaria problemas de acessibilidade em petrópolis

    Segundo o arquiteto petropolitano Adriano Arpad Moreira Gomes, do escritório Arqgom Arquitetura, os governantes ainda não perceberam que a cidade é para e de todos. E que é possível produzir cidades melhores se houver investimento em planejamento. Ele destacou ainda que o Centro Histórico é plano e equipado com calçadas, mas que elas, na maioria das vezes, são estreitas e possuem obstáculos como postes no meio, por exemplo. As rampas também são muito escassas e tendem a ser mal projetadas. Soma-se a isso a grande quantidade de construções públicas que não possuem qualquer tipo de equipamento que permita o acesso autônomo de pessoas com deficiência.

    “U turista que possua alguma deficiência teria sérios problemas para fazer um trajeto simples que é sair do Museu Imperial, ir até a Catedral e caminhar pela Avenida Koeler até a Praça da Liberdade. No centro ou reta de Itaipava é praticamente impossível de ser percorrido por um cadeirante, mesmo com as obras de urbanização. É preciso que mais investimentos sejam feitos nessa área para dar o mínimo de conforto para esse público. E não adianta construir rampas aleatórias, elas precisam ter continuidade, ou seja, é preciso que elas comecem em determinado local e de fato levam até outros pontos da cidade sem interrupções. O que se vê são rampas em alguns locais e logo em seguida os deficientes se veem sem ter como se locomover”, salientou.

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