Falso alarme
José Damião Sabino, mais conhecido como Zé da Escrita, era dono da “Tribuna de Glória de Goitá”. O único jornal da cidade. Vivia em desespero, cheio de dívidas, com poucos anunciantes e, o pior, sem ter assuntos relevantes para publicar, capazes de fazer vender jornal. Chegou a usar de ficção, inventando algumas histórias que, como não teve como confirmá-las, foi vítima de pesados processos judiciais. Bastava que alguém pagasse o valor da máquina impressora e passaria o jornal para o primeiro interessado. Porém, certo dia o improvável aconteceu como forma de ajuda. Dona Mariquinha estava com problema de vazamento de água em sua casa e pediu socorro ao Julião, o único bombeiro hidráulico da cidade. Este, por sua vez, custou a atendê-la e, quando lá chegou, encontrou a casa quase toda inundada.
-Por que não desligou os registros? – perguntou ele – Tentei – respondeu dona Mariquinha, a moradora, mas não tive forças, pois o registro está emperrado.
Fechado o registro, parte do problema estava parcialmente resolvido. Porém, faltava o principal: restabelecer a entrada da água na casa, sem os transtornos do vazamento. Para isso, Julião teria que consertar a bomba d água.
-Lamento informar, senhora, que não vou poder resolver seu problema de imediato, já que está em falta os reparos para esse tipo de bomba em nossa loja de ferragens e só vou conseguir encontrá-los amanhã em Pouso Alto. Dona Mariquinha não teve outro jeito e, durante aquele dia, foi obrigada a pedir baldes de água ao vizinho.
Julião, viciado em beber água que passarinho não bebe, embrulhou a bomba d´água dentro de uma caixa,colocou-a sobre o braço e foi direto ao botequim de seu Joaquim , como costumava fazer ao fim de toda tarde. Bebeu, bebeu, bebeu e se esqueceu da vida. Porém, antes de deixar o botequim, comentou com os outros cachaceiros de plantão, que ainda tinha serviço para fazer, ou seja: desmontar aquela bomba. E aí, aconteceu o que menos se esperava. Julião, completamente embriagado, trocando as pernas, voltou para casa e se esqueceu de levar a caixa com a bomba. Seu Joaquim custou a perceber o embrulho ali deixado e perguntou aos fregueses que ainda estavam por lá, o que estava naquele embrulho e de quem era. Logo um dos pinguços respondeu: – É uma bomba que seu Julião se esqueceu de levar.
Pronto, foi um Deus nos acuda. Apavorado, seu Joaquim logo tomou as devidas providências, telefonando para a Delegacia Policial local. A cidade vivia um grave momento político. Era época de eleições e já havia acontecido uma pequena explosão de um artefato deixado na entrada da sede de determinado partido político. Muito embora, veio a se saber, posteriormente, que tudo não passara de uma bombinha caseira, colocada ali por brincadeira. Entretanto, por via das dúvidas, o Delegado de plantão resolveu não assumir a responsabilidade sobre aquela nova situação, e transferiu o problema para a Polícia Federal. Resumo da história: um especializado esquadrão anti-bomba foi acionado para, com os devidos cuidados, desativar aquele misterioso artefato, sem antes obrigar a população a evacuar a área. Pronto, assim que a bomba d'água foi desativada, Zé da Escrita passou a ter uma explosiva matéria para publicar, capaz de vender bem a edição de seu jornal.