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  • 28/08/2022 08:00
    Por Ataualpa Filho

    A realidade não está disposta a adaptar-se às nossas conveniências, ou seja, não tem o propósito de preservar a nossa zona de conforto. Atrevo-me a dizer que temos que ajustar o nosso banquinho se há interesse em tocar o piano da vida. Para manter a afinação, temos que respeitar as diversidades das cordas, reconhecer a importância das teclas pretas e brancas na condução da harmonia. Não vale o esforço de querer puxar o piano somente pelo desejo de não mover o nosso banquinho.

    Não há tanta “colher de chá” à disposição dos fregueses. A vida não pode ficar exposta na roleta da sorte, nem na dependência de alguém que possa estender a mão. Estamos fadados a ganhar o pão com o suor do nosso rosto. Por isso que o trabalho é fator dignificante.

    Um dos itens que favorece à submissão está vinculado ao desemprego. Em um país com alto índice de desempregados, a população fica exposta às manipulações movidas por interesses escusos. Há mais espaço para o clientelismo, para o tráfico de influência, para a política assistencialista alimentada por promessas demagógicas. Por isso que a educação é um dos principais caminhos para se alcançar uma melhor qualificação da mão de obra. E, com isso, abrir as algemas da submissão. Um profissional bem qualificado tem mais chance de viver fora dos cabrestos impostos pelos detentores do poder econômico.

    Ouvi várias vezes do meu saudoso pai, que foi um bom marceneiro, que o viver não é como bater prego em barra de sabão, não há moleza. Acho que a vida tem a consistência do jequitibá, madeira que carrega o perverso estigma de “pau de dar em doido”. E aqui vale abrir um parêntese: não é com cassetete, nem com choque elétrico que a loucura deve ser tratada.

    A resiliência é uma virtude. Ponderar não é criar conflito. O processo reflexivo leva ao bom senso que precisa ter como referência o bem comum que passa pela valorização do ser humano. A sensatez é fruto do discernimento proveniente de uma visão crítica que preza pelo equilíbrio. O ato de pensar uma sociedade não se restringe aos aspectos econômicos e políticos. É preciso considerar o ser humano em todas as dimensões. Por isso se faz necessária a manutenção de um sistema de regras pautadas em princípios éticos, morais, para que a conivência social transcorra de forma harmoniosa na preservação do respeito mútuo.

    Estamos mais uma vez em período eleitoral. Época em que a retórica ilusionista soa como canto de sereia. Precisamos estar atados ao mastro da verdade, como Ulisses em “Odisseia” – obra de Homero, para não cair nas ciladas. Temos que atravessar esse mar de demagogia, separando o joio do trigo. Não podemos nos deixar enganar por promessas inverossímeis. O discernimento em período de eleição é imprescindível, porque muitos candidatos não falam sério. Fazem promessas que jamais cumprirão.

    Temos que admitir que, em um mandato de quatro anos, ninguém faz milagre, principalmente quando se trata do poder legislativo. E aqui é válido lembrar que as cobras são praticamente surdas, portanto o encantamento de serpente é mais um rito folclórico. Mas nesse período que atravessamos, são as serpentes que tentam nos envolver com seus cantos. Precisamos ficar atentos para filtrar o que ouvimos…

    Os debates são importantes para que possamos identificar as contradições, para que tenhamos a oportunidade de visualizar as incoerências. Pela análise do discurso e das atitudes, pelo comprometimento com a verdade, podemos colher referências para nortear o nosso voto. Temos que participar. O exercício da cidadania requer a nossa participação no processo eleitoral. Não se trata apenas da prática da democracia, mas também da escolha das pessoas que possam participar, com honestidade, da gestão pública. O bem-estar da população depende também das ações governamentais. As mudanças a que aspiramos dependem do nosso voto e das nossas atitudes em prol da consolidação de uma consciência que valorize o bem da coletividade.

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