• Exposição de Di Cavalcanti, no rio, apresenta dois quadros desaparecidos

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  • 11/09/2022 08:00
    Por Fabio Grellet / Estadão

    Um dos principais artistas plásticos brasileiros e participante da Semana de Arte Moderna realizada em São Paulo há cem anos, o carioca Di Cavalcanti (1897-1976) produziu diversas obras, como alguns dos quadros mais importantes e valorizados do Brasil. Um deles, Samba, considerado por especialistas sua obra-prima, foi destruído em um incêndio que atingiu a coleção particular do marchand Jean Boghici (1928-2015), guardada em seu apartamento em Copacabana, em agosto de 2012. À época, era avaliado em US$ 10 milhões. Dez anos após essa perda, dois quadros do pintor, ilustrador, desenhista, caricaturista e muralista dos quais não se tinha notícia desde 1936 foram localizados. Agora, fazem parte de uma exposição gratuita com cerca de 40 obras do artista, que abriu no Rio.

    PARADEIRO. Será a primeira vez que Carnaval, produzido por volta de 1928, e Bahia, de 1935, serão expostos no Brasil. “Essas obras integraram uma exposição do Di Cavalcanti na galeria Rive Gauche, em Paris, em 1936, e, desde então, não havia notícia sobre o paradeiro delas”, conta Luiz Danielian, dono da Danielian Galeria, na Gávea, onde os quadros são exibidos na exposição Di Cavalcanti – 125 Anos, que vai até 22 de outubro.

    Di Cavalcanti havia se mudado para Paris naquele ano, logo após sair da cadeia. Fora perseguido e preso pelo governo do presidente Getúlio Vargas sob acusação de ser comunista. Em 1939, começou a Segunda Guerra Mundial e, um ano depois, diante do agravamento do conflito no território francês, o artista decidiu voltar ao Brasil. Não tinha, porém, condições de transportar suas obras. Pelo menos 56 ficaram na embaixada brasileira em Paris.

    Di pediu a um amigo que estava na França para despachar suas obras ao Brasil, a partir de Marselha, mas o transporte não deu certo, e algumas peças se extraviaram. Com o fim do conflito, o artista voltou à França e recuperou parte de seu acervo. Carnaval e Bahia, no entanto, tinham desaparecido.

    “Não dá para saber exatamente o que aconteceu com elas nesse período, se foram vendidas por Di Cavalcanti enquanto estava na França ou se se extraviaram, mas em algum momento foram compradas por um francês”, conta Danielian, responsável por procurar os quadros. “Conheço colecionadores e negociadores de obras de arte na França, e por meio deles havia localizado outra obra, anos atrás. Agora consegui encontrar essas duas.”

    Segundo o marchand, os donos dos quadros de Di Cavalcanti inicialmente não tinham noção da importância dessas obras. Também não sabem exatamente onde seus antepassados as adquiriram. “Acredito que os quadros tenham sido vendidos durante a exposição, em 1936”, diz. “Di Cavalcanti ainda não era um artista consagrado, então seus quadros não eram caros para os padrões franceses da época. A família manteve um pequeno acervo de obras de arte, e essas duas entre elas.”

    Para a exposição, os quadros foram cedidos pelos donos, que não querem vendê-los. “Acredito que, se fosse colocado à venda, Carnaval iria superar o valor de A Lua, de Tarsila do Amaral, e se tornar a obra mais cara de um artista brasileiro já comercializada”, avalia Danielian. A Lua, de 1928, foi vendida em 2019 para o Museu de Arte Moderna de Nova York por U$ 20 milhões.

    As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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