Expectativas revelam que política monetária terá efeito em 2026, afirma diretor do BC
O diretor de Assuntos Internacionais e de Gestão de Riscos Corporativos do Banco Central, Paulo Picchetti, disse nesta quarta-feira, 15, que as expectativas em relação ao crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) para 2026 revelam que a política monetária terá “um efeito esperado positivo e significativo”.
Picchetti também mencionou que as expectativas para a inflação estão caindo e há inclusive “algumas pessoas” abordando a possibilidade de que o BC não precise escrever outra carta para justificar o descumprimento da meta de inflação de 3% até o final de 2025.
“Vamos ver se isso vai acontecer. O fato é que as expectativas de inflação estão diminuindo. E se olhar para 2026 e 2027, também há esse movimento”, disse, durante apresentação em seminário do JPMorgan, em Washington, às margens das reuniões anuais do Banco Mundial, Fundo Monetário Internacional (FMI) e do grupo das 20 maiores economias do globo (G20).
O diretor também enfatizou que o BC está comprometido em continuar perseguindo a meta da inflação, ajustando a taxa Selic conforme o necessário.
Picchetti mencionou ainda que os temas de inteligência artificial (IA), demografia e transição climática são pontos importantes para o longo prazo.
Expectativas
O diretor do BC foi perguntado por que a instituição incorpora as expectativas do mercado em seus modelos, já que nem sempre estão de acordo com a realidade. “Nós não questionamos as expectativas. Como eu disse, nós as incorporamos no nosso modelo”, disse.
Picchetti salientou que esta é uma variável importante no modelo monitorado pelo Comitê de Política Monetária (Copom) porque sempre incorpora vários aspectos que não são explícitos, como os cenários políticos e o que vai acontecer com a trajetória fiscal. “Nós reagimos à forma como essas expectativas afetam os preços em geral. Esta é a variável relevante para nós.”
Surpresas com o mercado de trabalho
O diretor do BC disse que a autarquia e o mercado têm sido surpreendidos constantemente por dados referentes ao mercado de trabalho. Contudo, ele frisou que as expectativas de inflação para 2026 estão caindo, mesmo que a taxa de desemprego esteja no nível mais baixo de sua série histórica.
“Não temos problema com o desemprego em si. Idealmente, claro, gostaríamos de ver desemprego zero com preços estáveis, mas não é assim que as coisas funcionam”, ccomentou Picchetti.
Desaceleração
O diretor disse que o BC espera desaceleração da economia em todos os componentes. Segundo ele, há uma desaceleração da atividade a caminho, conforme visto nos dados inclusive de agricultura do último trimestre, em linha com as expectativas da autarquia.
Picchetti também diz que o mercado projeta números mais fortes para investimentos, perto de 1,5% de crescimento para 2026, enquanto o BC tem um número muito menor, em torno de 0,3%.
Para serviços, o diretor do BC diz que espera revisões para baixo.
Cenário não é de recessão
O diretor afirmou ainda que o cenário base da instituição é de uma desaceleração da atividade econômica, mas não a ponto de levar a uma recessão. Segundo Picchetti, o crédito está fazendo sua parte na transmissão da política monetária. Há, inclusive, uma diminuição do apetite por risco dos bancos para fazer novos empréstimos, o que reforça a mensagem de que a política monetária restritiva está funcionando.
“Há um fluxo negativo em termos de fluxos financeiros de famílias e empresas, o que significa que as pessoas estão pagando suas dívidas em um grau maior do que estão fazendo novos empréstimos”, disse Picchetti.
Câmbio
Ele avaliou também que parte da recente mudança de patamar da taxa de câmbio está relacionada ao comportamento global do dólar. Já outra parte estaria ligada à política monetária doméstica e as perspectivas de carry trade.
“O que acho importante enfatizar neste cenário é que isso é um subproduto da nossa política monetária. Não temos uma meta para a taxa de câmbio”, assegurou Picchetti.
O diretor enfatizou que o BC não conta com a variação da moeda para levar a uma queda de preços.
Ele também ressaltou que a moeda flutua para absorver choques na própria definição de política monetária com a qual o Brasil conta hoje.
Mais cedo, o diretor de Política Monetária do Banco Central, Nilton David, também falou em Washington, em evento do Goldman Sachs.