Exército de Israel critica plano para erguer ‘cidade humanitária’ em Gaza
O plano do governo de Binyamin Netanyahu de confinar 600 mil pessoas em uma “cidade humanitária” no sul da Faixa de Gaza recebeu nesta segunda-feira, 14, críticas dentro e fora de Israel, incluindo do próprio exército israelense. Os civis ficariam reclusos e não poderiam sair do pequeno pedaço de terra destinado a eles.
Ehud Olmert, ex-primeiro-ministro de Israel, afirmou que a “cidade humanitária” seria equivalente aos campos de concentração nazistas na 2.ª Guerra. “É um campo de concentração. Sinto muito”, disse o ex-premiê, em entrevista ao jornal britânico The Guardian. “Se os palestinos forem deportados para a nova ‘cidade humanitária’, pode-se dizer que isso faz parte de uma limpeza étnica
A ideia foi anunciada na semana passada pelo ministro israelense da Defesa, Israel Katz. “Quem estiver dentro só poderá sair para outro país”, disse o ministro, que mandou o exército montar um plano de construção. Os militares, porém, bateram de frente com o governo, durante uma reunião do gabinete de segurança, segundo a imprensa israelense.
Militares
O chefe do Estado-Maior, Eyal Zamir, teria dito a Netanyahu que o projeto desviaria fundos e outros recursos das forças armadas, minando sua capacidade de lutar e prejudicando os esforços para resgatar reféns. De acordo com seu gabinete, a “concentração” de civis em uma “cidade humanitária” nunca foi um objetivo da guerra.
Segundo o Canal 12 de Israel, Netanyahu rebateu Zamir, dizendo que o plano apresentado pelo exército era “caro demais e muito lento”. “Pedi um plano realista”, teria dito o premiê, exigindo um cronograma mais barato e mais rápido – o projeto custaria até US$ 4,5 bilhões, que teriam um impacto grande em uma economia já em dificuldades após mais de 20 meses de guerra.
Yair Lapid, líder da oposição, chamou o plano do governo de “maluco”. “Os moradores terão permissão para sair? Se não, como serão impedidos de sair? Haverá uma cerca? Uma cerca comum? Elétrica? Quantos soldados ficarão de guarda?”, questionou.
Crise
Internamente, Netanyahu faz contorcionismos para manter sua coalizão. Ontem, partidos religiosos voltaram a ameaçar deixar o governo caso o Parlamento não aprove uma lei que isenta os jovens judeus ultraortodoxos do serviço militar. Em outra frente, o premiê tenta conter a revolta do ministro da Segurança, Itamar Ben Gvir, que fala em retirar seu apoio caso o governo acerte um cessar-fogo com o Hamas em Gaza. O gesto seria repetido pelo ministro das Finanças, Bezalel Smotrich, também radical de direita, que rejeita uma trégua.
Brasil
O Brasil decidiu aderir formalmente à ação movida pela África do Sul contra Israel na Corte Internacional de Justiça (CIJ), em Haia, na Holanda, em que os sul-africanos acusam o governo israelense de cometer genocídio contra os palestinos na Faixa de Gaza. A medida representa uma escalada na abordagem brasileira sobre o conflito, que até então vinha demonstrando incômodo com a guerra, principalmente por meio de declarações do presidente, Luiz Inácio Lula da Silva.
A informação foi dada pelo chanceler brasileiro, Mauro Vieira, em entrevista à TV Al-Jazeera. O conteúdo foi gravado durante a cúpula do Brics e veiculado no domingo pela emissora do Catar. “Fizemos um grande esforço pela mediação, mas os últimos acontecimentos dessa guerra nos fizeram tomar a decisão de nos juntar à África do Sul na CIJ”, disse o chanceler. (COM FELIPE FRAZÃO)
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.