Exemplo de cidadão
Passou o dia 19 de setembro como outro qualquer. Não em minha lembrança. A data assinala o tristíssimo dia, ocorrido há 57 anos, do falecimento de um grande cidadão fluminense de Niterói e petropolitano por adoção: meu pai Joaquim Heleodoro Gomes dos Santos, morto aos 71 anos de ativa, intensa, mágica e edificante vida.
Quem por ele fala não é o filho, que segue suas pegadas, mas a atividade e o trabalho que Joaquim Heleodoro dispensou à família, ao trabalho, à cidade de Petrópolis..
Nascido para servir, trazia em sua bagagem genealógica a presença histórica de ilustres antepassados em linha direta : o pai, de mesmo nome, herói “Voluntário da Pátria” na Guerra do Paraguai, com 4 medalhas (uma delas, a de bravura na Batalha de Tuiuti), poeta e cronista, com os livros publicados “Primogênitas (1871)”, “Sertanejas (1873)”, “Versos (1898)”, e, ainda, inúmeras crônicas nos jornais “Opinião Liberal”, “O País”, “O Fluminense”, “A República” e na revista da Sociedade Brasileira Estudos Literários, competentes análises dos espetáculos teatrais e registro crítico de atualidades; participante do movimento republicano, assinou o “Manifesto Republicano”, dezembro de 1870, que fundou o jornal “A República” e o Partido Republicano. Foi funcionário público do Estado do Rio de Janeiro findando a carreira como Chefe da Diretoria de Assistência Pública do Estado, falecendo em Petrópolis, aos 51 anos de idade, em 1898; o avô de mesmo nome, , nascido na cidade do Porto, Portugal, dedicou-se ao teatro, como empresário, fundando e dirigindo o “Ginásio Dramático” (1855 a 1860), companhia pioneira introdutora do teatro realista no Brasil, faleceu aos 50 anos de idade, no Rio de Janeiro; o bisavô Manoel Gomes dos Santos, herói das batalhas no Porto em favor do reinado de Maria da Glória, filha de nosso D. Pedro I e IV de Portugal o qual, pelos feitos, recebeu a comenda da Ordem de N. S. da Conceição de Vila Viçosa, que passaria ao filho Joaquim Heleodoro.
Eis, então, que meu pai, Joaquim Heleodoro Gomes dos Santos vem de linhagem de guerreiros em favor das causas justas e pela difusão da cultura e da arte, predicados por ele herdados, sabendo-se que, autodidata, órfão total aos 10 anos de idade, foi funcionário público federal na profissão de telegrafista, escritor, poeta, cronista, dramaturgo, autor dos livros “Gaivotas” e “Suprema Dor” (poesia); a novela “Ismênia”, publicada em folhetim no Jornal de Petrópolis (1928); a peça teatral “O Plano do Ciúme” e farta colaboração na imprensa petropolitana com crônicas, contos, artigos e poemas. Exerceu a magistério em educandários técnicos, como a Liga do Comércio e o Liceu de Artes e Ofícios. Criou e dirigiu uma Cooperativa de Consumo; foi agente da “A Mutualidade, Seguros e Pensões”; presidiu a Escola de Música Santa Cecilia, por três décadas consecutivas, fundou e dirigiu o Centro Auxiliar dos Funcionários do Telégrafo; foi redator das revistas “Verão em Petrópolis”, “O Escoteiro de Petrópolis”, “Céus e Terras””; idealizou a Associação de Ciências e Letras, que fundou com amigos escritores, a hoje respeitada e querida Academia Petropolitana de Letras, na qual exerceu a presidência; Integrou-se ao movimento em favor da criação e manutenção das sociedades beneficentes, hoje absorvidas pelo INSS.
Exemplar cidadão e chefe de família, desposou Georgina Marcella, com 9 filhos; viúvo, desposou Astrogilda, com 5 filhos. Hoje, sobrevivem Maria do Carmo, Gilda, Ruth, Marilda e este que está relembrando a epopeia.
Recebeu da Câmara Municipal a honraria de “Cidadão Petropolitano” e títulos de “Benemérito” em todas as instituições com as quais colaborou. Ao falecer foi homenageado com a nominação de uma rua no 2º distrito, na área conhecida como Loteamento Itamarati.
Santo orgulho eu cultivo por tão bela ascendência e pelos exemplos com os quais plasmou a existência de toda a prole, seguidora de seus passos e com uma saudade que não tem tamanho.