Exaltação
As aulas de história de nossa professora primária eram ricas. Discorria sobre o “Descobrimento do Brasil”, população indígena aqui encontrada, colonização, companhias hereditárias, ciclo do ouro, escravidão etc… Empolgantes temas. Alguns causavam perplexidade: a escravidão de nossos irmãos africanos. Dizia ela: “o trabalho escravo era exercido por eles, escravos, propriedades de um senhor e poderia ser tanto vendido quanto alugado, emprestado, confiscado ou até doado. O escravo não era detentor de direitos, mas, de obrigações, punições e castigos se insurgisse às ordens. Era o ano de 1538. Chegaram os primeiros escravos traficados para a Bahia destinados ao trabalho nas matas repletas de pau-brasil. Foram destinados, também, à obra nas lavouras, plantio de tabaco, algodão e cana de açúcar, inclusive nos engenhos, minas e fazendas em geral.” Muitos se refugiavam em quilombos quando, conseguiam fugir. A eles as homenagens pelos incalculáveis préstimos ao Brasil e o faço através do insigne mestre e historiador Paulo Roberto Damico, professor de História, formado pela Faculdade de Filosofia Ciências e Letras, da Universidade Católica de Petrópolis, membro do Instituto Histórico de Petrópolis e honorário da Academia Petropolitana de Letras. Autor de várias poesias publicadas em livros e na imprensa sobressai desta vez com a poesia intitulada “Agonia e desencanto de uma raça”, em que ele aborda com muito realismo e profunda sensibilidade o drama vivido pelos negros escravos africanos durante todo o regime escravocrata do Brasil colônia, enaltecendo de uma maneira significativa, a grande e importante contribuição que eles trouxeram e transmitiram na nossa civilização. Da alma do brilhante poeta nasce a poesia, ora alegre, ora triste, muitas vezes angustiado ainda assim ele não arreda os pés. Deixa fluir seu poema ainda que banhado de lágrimas que podem perfeitamente ser de esperança e de amor. Brotam livres de amarras, e o desobrigam de rimas ou métricas e se abrem à história e ao sentimento. Elas existem desde a eternidade para emocionar, rememorar e apaixonar. Fiquemos, pois, com o belo poema em que desnudam sua alma através do lirismo e beleza, eloquência e leveza: “De longínquas terras africanas, violentados em sua cultura, transportados em navios pelos “tumbeiros”, vieram para o Brasil os negros africanos… Nos porões imundos dos navios, marcados pelos açoites e chibatas, desembarcavam doentes e esqueléticos para serem vendidos como “peças” e transformados em pobres escravos. Sudaneses, Iorubas, Nagôs, Bantos, e Negro Mina, tantas nações assim ultrajadas. Nódoas que marcaram para sempre as páginas tristes de nossa História… Hoje, estão livres das correntes e dos gritos roucos dos capatazes. O seu triste lamento, porém, ainda se ouve nas ruas, nas sarjetas e nas calçadas… Atrasados culturalmente, alienados, como no passado, nas terras dos brancos eles lutam. Para reconquistarem sua felicidade. Da Redentora aos nossos dias, pouco se fez para minorar o drama dessa “raça” gigante. Trazida da África distante, Condenada a nunca mais voltar…Seus apelos manifestam-se na crença, no imenso vocabulário e na riquíssima culinária. Surgem na música e nos ritmos quentes e cadenciados. É a autêntica liberdade que ainda buscam nos grandes valores que lhes foram negados… Seus deuses ainda subsistem, como se nunca os tivessem abandonados. E as longas confidências que ainda dizem são reminiscências tristes do passado.”