
“Eutanásia” e “Em sociedade Tudo Se Sabe”
Recebi das mãos de meu confrade Luiz Carlos Gomes a quem prezo, não pelos laços consanguíneos, mas, em fraternal convívio, duas obras de seu irmão Antônio augusto Gomes, ambas editadas pela Starling Editora, de Belo Horizonte, Minas Gerais: “Eutanásia” e “Em Sociedade Tudo Se Sabe”.
A primeira, intitulada “Eutanásia”, nos presenteia com vinte e um contos onde a vivência e aguçada memória do autor expõe aos leitores instigantes temas onde aborda o sentimento e diversas fases existenciais, sobretudo, o amor, a vida e a morte na diuturna realidade humana.
Para além de seu esmero à retórica, semântica e prosopopeia predomina a sobriedade ao transitar pela alma coletiva, o tempo e os embates mundiais deixando fluir de suas mãos não o sangue oriundo das guerras, mas, a beleza sutil na interpretação do clamor, alegria, tristeza e embates no percurso da história.
Vários textos chamam a atenção. Pinçarei “exempli gratia” “Sonho de Bailarina” “Helga”, “Grace Kelly,” “Malas Prontas” e “Eutanásia”.
Refletem o fenômeno da vida, “as ruelas do desejo e o beco dos porquês”, dia e noite, ontem, hoje e amanhã temperados de uma pitada de humor ou por vezes da sátira.
A obra se intitula Eutanásia, em homenagem ao conto a ilustrar às fls. 112/131; relata o “Eduardo” encarnado num “golfinho em alto mar” ou, ao “se deparar com o diagnóstico de grave enfermidade e morte”, pergunta ao médico se teria como ser submetido à “eutanásia”. Ela se define como “a conduta pela qual se traz a um paciente em estado terminal, ou portador de enfermidade incurável em sofrimento…”
Longe de persuadir à personagem “Eduardo” a se curvar aos planos de Deus, assim me manifesta, porque em minha visão religiosa a vida é um dom de Deus, não temos o direito de dispor desse privilégio. É o fundamento de todos os bens. É sagrada. É nosso dever conservá-la e fazer frutificar, haja o que houver.
No entanto, não me cabe perquirir nestas tênues e perfunctórias palavras, mas, sim louvar o ilustre petropolitano, engenheiro e, portanto, profissional da ciência exata atualmente residente em Belo Horizonte, Capital de Minas Gerais.
Ao compulsar sua bibliografia encontramos coletâneas, antologias, e diversas obras de sua lavra, anteriormente publicadas, além de diversos lauréis conquistados em concursos locais e nacionais.
O luminar das belas letras J.G. de Araújo Jorge, a mim apresentado pelo, também, irmão no benquerer e baluarte das letras e cultura professor Paulo César dos Santos em agosto de 1983 cujo tempo cristalizou nossa amizade, certo dia me disse: “pelo anzol se conhece o peixe”.
Seguindo esse fio condutor, o parafraseio ao dizer: “Eutanásia” e “Em Sociedade Tudo se Sabe”, são suficientes a dizer do quilate desse ourives da literatura.
“Em Sociedade Tudo se Sabe” o autor se envereda pelas cercanias petropolitanas e cariocas, a Cidade Maravilhosa. Suas personagens, a exemplo de Doralice, bem merecia os palcos teatrais e realmente lembra as personagens de Nelson Rodrigues. Revive, dentre outras ícones da sociedade e do colunismo social Ibrahim Sued mencionado em bem construído texto de fls. 103/116.
Antônio Augusto Gomes pertence a diversas arcádias culturais e, ser seu confrade da centenária Academia Petropolitana de Letras, de cujo panteão é Membro Correspondente me honra e alegra.
O ilustre escritor constrói providencialmente a vida e merece lugar de destaque à mesa do Olimpo Cultural. Quando lemos textos agradáveis e inovadores é como se provássemos um vinho de especial safra.
Disse bem Antônio em proferir em sua dedicatória a mim dirigida: “Nós dividimos dois amores: pela literatura e por Petrópolis.” Mais um elo nos une, eu sou Antônio, também, por devoção a Fernando de Bulhões, depois, Santo Antônio de Lisboa ou Pádua, ao abraçar a confraria de Francisco e Clara. Mereceu a honra dos altares.
Brindemos, pois, Antônio Augusto e venham outras produções a enriquecer aos incontáveis leitores, admiradores e o escrínio da literatura brasileira.