• Eucaristia: Centro e Força de Toda a Vida Cristã!

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  • 04/ago 08:00
    Por Mons. José Maria Pereira

    No Evangelho (Jo 6,24-35), depois do milagre da multiplicação dos pães e dos peixes, Jesus  apresenta-se como o “Pão da Vida,” a Eucaristia.

    Entusiasmado com o milagre, o povo procura Jesus. Vê-se que o povo não entendeu o sentido daquele gesto. Quando viram que não conseguiam encontrar nem a Jesus nem os seus discípulos, subiram às barcas e foram a Cafarnaum.

    Quando O encontraram, novamente, Jesus disse-lhes: “Em verdade, em verdade, Eu vos digo: estais Me procurando não porque vistes sinais, mas porque comestes pão e ficastes satisfeitos”(Jo 6,26). Comenta Santo Agostinho: “Buscais-me por motivos da carne, não do espírito. Quantos há que procuram Jesus, guiados unicamente pelos seus interesses materiais! Só se pode procurar Jesus por Jesus”. Jesus quer ajudar a multidão a ir além da satisfação imediata das próprias necessidades materiais, por mais importantes que sejam. Deseja abrir a um horizonte da existência que não é simplesmente o das preocupações quotidianas do comer, do vestir, da carreira. Jesus fala de um alimento que não perece, que é importante procurar e receber. Ele afirma: “Esforçai-vos não pelo alimento que se perde, mas pelo alimento que permanece até a vida eterna, e que o Filho do Homem vos dará” (v. 27).

    A multidão não compreende e julga que Jesus pede a observância de preceitos para obter a continuação daquele milagre e pergunta: “Que devemos fazer para realizar as obras de Deus?” (v.28). A resposta de Jesus é clara: “A obra de Deus é que acrediteis naquele que Ele enviou” (v. 29). O centro da existência, aquilo que dá sentido e esperança firme ao caminho, muitas vezes difícil da vida, é a fé em Jesus, o encontro com Cristo. Também nós, perguntemos: “Que devemos fazer para ter a vida eterna?”. E Jesus diz: “Acreditai em mim”. A fé é o elemento fundamental. Não se trata aqui de seguir uma ideia, um programa, mas de encontrar Jesus como uma Pessoa viva, de se deixar comprometer totalmente por Ele e, pelo seu Evangelho. Jesus convida a não se limitar ao horizonte puramente humano e a abrir-se ao horizonte de Deus, ao horizonte da fé. Ele exige uma única obra: aceitar o plano de Deus, ou seja, “acreditar naquele que Ele enviou” (v. 29). Moisés tinha dado a Israel o maná, o pão descido do céu com que o próprio Deus alimentara o seu povo. Jesus não concede algo, doa-se a Si mesmo: Ele é o “Pão Verdadeiro, descido do Céu”, Ele, a Palavra viva do Pai; e é no encontro com Ele que acolhemos o Deus vivo.

    “Que devemos fazer, para realizar as obras de Deus?” (v. 29), pergunta a multidão, pronta a agir, para que o Milagre do Pão continue. Mas Jesus, verdadeiro Pão de Vida que sacia a nossa fome de sentido, de verdade, não se pode “ganhar” com o trabalho humano; Ele chega a nós somente como Dom do Amor de Deus, como Obra de Deus que devemos pedir e acolher.

    Jesus Cristo é o verdadeiro alimento que nos transforma e nos dá forças para realizarmos a nossa vocação cristã. Exorta vivamente São João Paulo II: “Só mediante a Eucaristia é possível viver as virtudes heroicas do cristianismo: a caridade até o perdão dos inimigos, até o amor pelos que nos fazem sofrer, até a doação da própria vida pelo próximo; a castidade em qualquer idade e situação de vida; a paciência, especialmente na dor e quando estranhamos o silêncio de Deus nos dramas da história ou da nossa existência. Por isso, sede sempre almas eucarísticas, para poderdes ser cristãos autênticos”.

    A igreja vive da Eucaristia. O concílio Vaticano II afirmou que o sacrifício eucarístico é “fonte e centro de toda a vida cristã” (LG, 11). Com efeito, “na Santíssima Eucaristia, está contido todo o tesouro espiritual da Igreja, isto é, o próprio Cristo, a nossa Páscoa e o Pão vivo que dá aos homens a vida mediante a sua carne vivificada e vivificadora pelo Espírito Santo” (PO, 5).

    A Igreja vive de Jesus Eucarístico, por Ele é nutrida, por Ele é iluminada. A Eucaristia é mistério de fé e, ao mesmo tempo, mistério de luz. Sempre que a Igreja a celebra, os fiéis podem, de certo modo, reviver a experiência dos dois discípulos de Emaús: “Abriram-se-lhes os olhos e reconheceram-no” (Lc 24,31).

    Referindo-se à Eucaristia, ensinava São Josemaría Escrivá: “O maior louco que houve e haverá é Ele (Jesus). É possível maior loucura do que entregar-se como Ele se entrega, e àqueles a quem se entrega?

    Porque, na verdade, já teria sido loucura ficar como um Menino indefeso; mas, nesse caso, até mesmo muitos malvados se enterneceriam, sem atrever-se a maltratá-Lo. Achou que era pouco: Quis aniquilar-se mais e dar-se mais. E fez-se comida, fez-se Pão. Divino Louco! Como é que te tratam os homens?… E eu mesmo?” (Forja, 824).

    Na Eucaristia, a comunhão é tão perfeita que conduz ao apogeu de todos os bens: nela, alcançamos a Deus, e Ele Se une conosco pela união mais perfeita. A comunhão eucarística foi-nos dada para nos alimentarmos de Deus sobre esta terra, à espera da saciedade plena no Céu. Esta relação de íntima e recíproca permanência permite antecipar de algum modo o Céu na terra. É verdadeiramente um pedaço de Céu que se abre sobre a terra; é um raio de glória que atravessa as nuvens da nossa história e vem iluminar o nosso caminho. A Divina Eucaristia é penhor de vida eterna. É a continuação e ampliação real e universal do mistério do Deus que se fez carne e habitou entre nós, mistério de Deus que ama o seu povo a ponto de morar com eles. A presença de Jesus em nossos sacrários é por si um reflexo e uma ampliação desse fato: Deus fez-se carne e mora entre nós. É de justiça que, pelo menos de vez em quando, façamos visita ao Senhor no Sacrário.

    Da Eucaristia brotam todas as graças e todos os frutos de vida eterna – para cada alma e para a humanidade – porque neste Sacramento “está contido todo o bem espiritual da Igreja” (PO, 5).

    Quando nos aproximamos da mesa da Comunhão, podemos dizer: “Senhor, espero em Ti; adoro-Te, amo-Te, aumenta-me a fé. Sê o apoio da minha debilidade, Tu, que ficaste na Eucaristia, inerme, para remediar a fraqueza das criaturas” (Forja, 832).

    Façamos nosso (no bom sentido) o pedido do povo citado no Evangelho: “Senhor, dá-nos sempre desse pão” (Jo 6, 34).

    “Eis que estou convosco todos os dias” (Mt 28,20). Jesus não se contentou em dar a vida por nós na Cruz, não quis separar-se materialmente de nós. Eis Jesus aqui, sempre conosco. Permanece acessível, próximo. Mais acessível e mais próximo do que na Palestina há dois mil anos, quando se dizia que estava ora em Nazaré, ora em Jerusalém, ora em Betânia. Agora está materialmente aqui, com seu Corpo, com seu Sangue, com sua Alma, com sua Divindade. Aquele mesmo que as multidões buscavam encontrar e tocar.

    Maria pode guiar-nos para o Santíssimo Sacramento, porque tem uma profunda ligação com Ele.

    “Feliz daquela que acreditou” (Lc 1,45): Maria antecipou também, no mistério da encarnação, a fé eucarística da Igreja. E, na visitação, quando leva no seu ventre o Verbo encarnado, de certo modo ela serve de “sacrário” – o primeiro “sacrário” da história –, para o Filho de Deus, que, ainda invisível aos olhos dos homens, presta-se à adoração de Isabel, como que “irradiando” a sua luz através dos olhos e da voz de Maria. E o olhar extasiado de Maria, quando contemplava o rosto de Cristo recém-nascido e o estreitava nos seus braços, não é, porventura, o modelo inatingível de amor a que se devem inspirar todas as nossas comunhões eucarísticas?” Impossível imaginar os sentimentos de Maria, ao ouvir dos lábios de Pedro, João, Tiago e os restantes apóstolos as palavras da Última Ceia: “Isto é o meu corpo que vai ser entregue por vós” (Lc 22,19). Aquele corpo, entregue em sacrifício e presente, agora, nas espécies sacramentais, era o mesmo corpo concebido no seu ventre! Receber a Eucaristia devia significar para Maria quase acolher de novo no seu ventre aquele coração que batera em uníssono com o dela e reviver o que tinha pessoalmente experimentado junto da Cruz. (Carta Encíclica Ecclesia De Eucharistia, São João Paulo ll, 55 – 56 ).

    O primeiro domingo de agosto é dedicado à vocação Sacerdotal.

    Neste Dia do Padre, deixo, para a nossa oração pessoal, as palavras de São João Paulo ll, na Exortação Apostólica Pastores Dabo Vobis, n.33: “Reproponho a todos os sacerdotes aquilo que já numa outra ocasião disse a muitos deles: “a vocação sacerdotal é essencialmente uma chamada à santidade na forma que nasce do Sacramento da Ordem. A santidade é intimidade com Deus, é imitação de Cristo pobre, casto e humilde; é amor sem reserva às almas e entrega pelo seu próprio bem; é amor à Igreja que é santa e nos quer santos, porque assim é a missão que Cristo lhe confiou. Cada um de vós deve ser santo também para ajudar os irmãos a seguir a sua vocação à santidade”.

    Rezemos pelos padres! Rezemos ao Senhor para que continue enviando sacerdotes para a Igreja. Que Ele continue abençoando e plenificando a vida de todos os sacerdotes.

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