• EUA aceleram campanha de vacinação e americanos retomam suas atividades

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  • 04/04/2021 07:30
    Por Beatriz Bulla, correspondente / Estadão

    Centenas de pessoas de máscaras caminharam pelo National Mall, a esplanada da capital americana, nos últimos dois finais de semana para ver a temporada de cerejeiras. Uma cena comum em Washington, com crianças empinando pipa e famílias alegres, mas impensável no ano passado, quando os Estados Unidos atravessaram meses de terror com o início da pandemia de coronavírus.

    Desde que a prefeitura de Tóquio enviou 3 mil árvores de presente à cidade em 1912, milhares de pessoas visitam a região para ver a florada exuberante do início da primavera. Mas em 2020 o auge das flores coincidiu com o primeiro pico da pandemia de coronavírus no país. O entorno da região foi bloqueado para evitar aglomerações e os americanos mal saíam de casa para questões básicas, como ir ao supermercado.

    Um ano depois, a aceleração na vacinação no país levou as pessoas de novo às ruas para atividades antes triviais e agora novamente liberadas: como a visita às cerejeiras.

    Já são mais de 101,8 milhões de americanos vacinados com pelo menos uma dose. E eles começaram a retomar parte do que deixaram de lado por um ano. Encontrar a família, jogar futebol, viajar, fazer planos para celebrar o casamento, jantar fora e ver amigos.

    Na cidade de Nova York, primeiro epicentro do coronavírus no país, já é possível ir a academias de ginástica e ao cinema. Em Los Angeles, restaurantes e museus foram autorizados a receber o público na área interna.

    Em Washington, reuniões de até 50 pessoas ao ar livre passaram a ser permitidas e cerca de 5 mil fãs poderão assistir no estádio do Nationals a abertura da temporada de beisebol. Tudo isso no último mês, conforme o país aumentou o número de imunizados.

    Pianista e maestro, Abdiel Vazquez, de 36 anos, estava em um ensaio com uma orquestra em Flint, no Michigan, quando quarentenas começaram a ser estabelecidas nos EUA, em 2020. Ele pegou um voo para sua casa em Nova York e, desde então, nunca mais tocou para um público. Depois de tomar as duas doses da vacina da Moderna em fevereiro, ele já tem data para sua primeira viagem e também seu primeiro concerto, ainda que sem plateia.

    “Recebi um convite para tocar no México, onde nasci, em uma apresentação que será gravada em vídeo com alguns cantores e aceitei. Vejo a possibilidade de retomar os concertos, já me sinto seguro para viajar e estar em ambientes com plateias pequenas”, conta o músico.

    Mas coisas triviais também voltaram à rotina de Vazquez e sua mulher, também vacinada em Nova York. Os dois passaram a jantar fora. Desde o ano passado, a cidade permitiu a reabertura de restaurantes com área ao ar livre.

    O músico diz, no entanto, que toda saída era cercada de medo e, por isso, pouco frequente. “A maior mudança é a paz que a vacina traz. Eu tomo cuidados, uso máscaras, continuo a buscar o distanciamento social em público, mas já é possível ver amigos e finalmente ficar confortável em restaurantes”, conta.

    No México, a família do músico não conta com a mesma tranquilidade. De todos os parentes de Vazquez que vivem no país vizinho aos EUA, só o irmão, médico, já foi vacinado. “Fazer as coisas sem medo é a mudança mais importante”, diz.

    Os EUA têm vacinado em média 2,8 milhões de pessoas por dia, e o número é maior a cada semana. Em janeiro, quando Joe Biden tomou posse, o país vacinava em média 900 mil moradores a cada 24 horas. A previsão é que o ritmo aumente em abril, com a entrega de novos lotes das vacinas pelas farmacêuticas Moderna, Pfizer e Johnson & Johnson, e abertura de novos centros de vacinação em massa.

    Pelas contas da Casa Branca, 90% dos adultos americanos estarão elegíveis para receber a vacina até 19 de abril, antes da meta de Biden de permitir a vacinação a qualquer um a partir de maio. Em 22 dos 50 Estados, a vacinação já está disponível para qualquer morador com mais de 16 anos.

    É comum ouvir a pergunta “você já foi vacinado?”, em conversas, independentemente da faixa etária. A resposta é muitas vezes positiva, mesmo entre jovens. Quando negativa, vem seguida de uma previsão de quando será possível receber a imunização.

    “Desde que fui vacinado, sinto que corro muito menos risco e estou mais esperançoso sobre o futuro”, afirma o gerente de recursos humanos Jonathan Gottfried, de 33 anos, que recebeu a primeira dose da vacina há cerca de dez dias em Maryland. “Meus pais tiveram covid-19 em março do ano passado e meu pai ficou hospitalizado por uma semana. Os dois já tomaram duas doses da vacina e eu me senti muito seguro em celebrar com eles o pessach (páscoa judaica) no fim de semana passado”, conta.

    Gottfried sabe que ainda não completou o processo de imunização contra covid-19, mas diz que se sente mais à vontade para ver amigos que também foram vacinados e faz planos para o futuro que, até pouco tempo atrás, pareciam impossíveis.

    Em setembro, ele e a mulher irão como convidados a uma festa de casamento e, em dezembro, planejam celebrar a própria cerimônia adiada em razão da pandemia. Neste fim de semana, Gottfried pode se dar o luxo de voltar a jogar futebol com amigos – com limitação de participantes, sem público e com jogadores de máscaras.

    Os EUA ainda estão distantes, no entanto, da sonhada imunidade coletiva, que exige entre 70% e 80% da população vacinada. O Estado com uma campanha de vacinação mais avançada, atualmente, é o Novo México, onde pelo menos uma dose de imunizante já foi aplicada em 38% dos residentes.

    O relaxamento de restrições por parte de governos locais em meio à sensação de melhora da situação sanitária tem deixado a Casa Branca em alerta. Alguns Estados passaram a permitir que estabelecimentos comerciais operassem com capacidade de lotação máxima e derrubaram a determinação de uso de máscara, uma medida considerada precipitada pelo governo federal.

    A diretora do Centro de Controle de Doenças dos EUA, Rochelle Walensky, disse temer uma “desgraça iminente”.

    Novos casos

    Após um pico de novos casos entre novembro e o início de janeiro, período de festas de fim de ano e inverno, os EUA assistiam a uma queda sustentada de infecções por covid-19 desde o início de janeiro. Na última semana, no entanto, o número de novos casos começou a subir, apesar de continuar distante dos piores dias no país.

    A revogação de restrições parece irreversível. Mesmo cidades onde o número de casos se mantém em patamar elevado, como Nova York, têm flexibilizado as medidas conforme a vacinação avança. O apelo atual é para que os americanos continuem a usar máscara, apesar da vacinação, e evitem aglomerações.

    Nesta semana, Biden pediu aos governos estaduais e locais que mantenham ou restabeleçam a determinação para uso de máscaras em lugares públicos. “Por favor, isso não é política. Restabeleçam as ordens, caso tenham revogado”, disse o presidente, após afirmar que a batalha contra o vírus no país está “longe de estar ganha”.

    As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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