EUA abraçam ‘novo consenso’, mas resto do mundo desconfia
Apesar de instituições como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial defenderem hoje políticas econômicas mais expansionistas, a ideia ainda está muito longe de ter o alcance que o antigo Consenso de Washington teve, admite o comentarista do Financial Times, Martin Sandbu.
Nos anos 1990, o Consenso surgiu como um pacote de políticas econômicas que pregavam sobretudo a austeridade como fórmula de crescimento. Agora, porém, os organismos internacionais passaram a repensar essa fórmula. “Certamente isso não está bem estabelecido. As instituições internacionais e o governo dos EUA estão muito à frente nessa curva. Não vejo outros lugares em que essas ideias foram realmente abraçadas. É algo muito único sobre como Biden, Janet Yellen (secretária do Tesouro americano) e Jerome Powel (presidente do Banco Central dos EUA), no topo da economia mais importante do mundo, estão pensando as coisas.”
Sandbu destaca que há, sim, outros movimentos nessa direção, porém em estágio mais incipiente. “No Reino Unido, mesmo antes da pandemia, o partido de Boris Johnson vinha sendo expansionista”, afirma. “As coisas estão avançando um pouco em cada lugar. Mas só porque Washington está fazendo isso, você tem de levar a sério, porque ainda é o lugar mais importante do mundo para a criação de políticas públicas.”
Segundo o economista, na Alemanha, onde a academia tem uma tradição conservadora e ortodoxa, economistas começam a argumentar na direção de uma menor preocupação com endividamento. “Há um debate sobre as regras de dívida da Constituição alemã. Isso vai se tornar importante na eleição no fim do ano. Mas as mudanças levam tempo. Suspeito que você vai ver essa mudança em muitos países. Talvez o modo como isso aconteça não é com pessoas mudando de ideia, mas com pessoas novas com opiniões diferentes começando a se tornar mais dominantes no debate.”
Sandbu lembra que, para o economista que cunhou o termo “Consenso de Washington”, John Williamson, as políticas a serem adotadas previam austeridade, mas também financiamento em áreas como saúde e educação. “O que normalmente pensamos sobre o Consenso é um conjunto de políticas muito neoliberais. As políticas de Williamson eram mais diversificadas. As críticas que surgiram ao Consenso foram em termos de como o FMI e o Banco Mundial deram conselhos nos anos 90: reformas estruturais que na prática forçaram países a cortar gastos sociais”, diz.
Coincidentemente, Williamson morreu no último mês de março, no mesmo dia em que Sandbu publicou seu artigo sobre o “novo Consenso de Washington”. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.