Estudo aponta falta de ações do Poder Público como fator principal para tragédia de fevereiro de 2022 em Petrópolis
Um artigo publicado na revista Natural Hazards and Earth System Science, ligada à União Europeia de Geociências, mostra que a falta de ações do Poder Público foi o principal fator para a tragédia do dia 15 de fevereiro de 2022, não somente o volume de chuvas. O estudo foi feito por Enner Alcântara, coordenador do Programa de Pós-Graduação em Desastres Naturais (PPGDN), promovido pelo Instituto de Ciência e Tecnologia da Unesp de São José dos Campos e o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden).
De acordo com o artigo, os principais fatores para a extensão da tragédia foram: as fortes chuvas, o solo já saturado, a expansão urbana desordenada, a substituição da vegetação por superfícies com menor capacidade de infiltração e a falta de alertas precoces.
O estudo foca no dia 15 de fevereiro, mas leva em conta o evento do dia 20 de março para uma reflexão, já que o nível de chuva também foi elevado, mas o número de mortes foi bastante inferior. No dia 15, o evento teve um “Sistema Convectivo de Mesoescala (SCM),” algo que não é previsível pelos modelos de previsão do tempo, portanto o sistema de alerta do Cemaden não conseguiu emitir avisos antecipados, somente quando começou a chover forte. Por outro lado, o evento do dia 20 foi previsto alguns dias antes. Assim, até pela ocorrência da tragédia anterior, a chuva de março possuía menos áreas de risco em relação à primeira.
Utilizando dados de precipitação e assentamento humanos disponíveis, além de empregar dados de sensoriamento remoto na análise, o estudo mostrou que a expansão urbana tem um efeito significativo na estabilidade de encostas, aumentando a possibilidade de deslizamentos de terra. Em Petrópolis há o registro de perdas florestais em áreas urbanas. Deste modo, o terreno montanhoso e a falta de deformação do solo detectada antes do deslizamento, levou à conclusão de que a chuva enfraquece as encostas e causa deslizamentos do mesmo modo que as alterações humanas também o fazem.
Por fim, a análise sugere que haja melhora na gestão do risco de desastres no município, com restrição de assentamentos humanos dentro de 20º nas encostas, apoio financeiro e capacitação da Defesa Civil, além da limitação de alterações no solo, evitando deslizamentos. Tudo isso é apontado como fundamental levando as mudanças climáticas em consideração.
Procuramos a Prefeitura, mas até o fechamento desta matéria, não obtivemos respostas.