• Esquerda volta ao poder no Uruguai com Yamandú Orsi; opositores reconhecem vitória

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  • 25/nov 10:31
    Por Redação O Estado de S. Paulo / Estadão

    O candidato da centro-esquerda, Yamandú Orsi, venceu no domingo, 24, as eleições presidenciais do Uruguai. O presidente do Uruguai, Luis Lacalle Pou, já reconheceu a vitória do opositor e afirmou que espera uma transição tranquila. O adversário governista, Álvaro Delgado, também já reconheceu a derrota.

    Herdeiro político do ex-presidente e militante de esquerda, José “Pepe” Mujica, Orsi derrotou o adversário de centro-direita, Álvaro Delgado, apoiado pelo popular presidente, Luis Lacalle Pou, que não conseguiu transformar seu alto índice de aprovação em votos ao seu apadrinhado.

    A vitória de Orsi encerra um hiato na esquerda uruguaia a frente do governo. Hiato promovido pela vitória de Lacalle Pou em 2019, que na época deu fim a 15 anos de governo da Frente Ampla de Mujica e de Tabaré Vazquez.

    Apesar da diferença pequena, uma contestação de resultados não é esperada no Uruguai, país considerado a democracia mais sólida da América Latina.

    Quem é o novo presidente

    Orsi, de 57 anos, é professor de História e duas vezes prefeito da cidade de Canelones. É amplamente visto como herdeiro de Pepe Mujica, ex-guerrilheiro que ganhou a alcunha de “presidente mais pobre do mundo” quando governou entre 2010 e 2015.

    Mujica, agora com 89 anos e se tratando de um câncer de esôfago, foi um dos seus principais cabos eleitorais de Orsi, subindo aos palcos em comícios apesar da saúde debilitada.

    Embora prometa forjar uma “nova esquerda” no Uruguai, Orsi não planeja mudanças drásticas. Diferentemente do atual presidente e do adversário Delgado, ele prefere negociar qualquer acordo com a China por meio do Mercosul.

    Orsi propõe incentivos fiscais para atrair investimentos e reformas da Previdência Social que reduziriam a idade de aposentadoria, mas não chegam a uma reforma radical buscada pelos sindicatos do Uruguai.

    Disputa acirrada

    Embora marcada pela tranquilidade e quase apatia do eleitor, a corrida do segundo turno teve um constante cenário de incerteza. Ambos os candidatos apareciam tecnicamente empatados nas principais pesquisas de intenções de voto e tinham igual chance de levar a disputa do domingo.

    No primeiro turno, a Frente Ampla de Orsi obteve 44% dos votos, enquanto o Partido Nacional de Delgado teve 27%. Mas os outros partidos conservadores que compunham a coalizão do governo – em particular, o Partido Colorado do candidato Andrés Ojeda – obtiveram 20% dos votos coletivamente, o suficiente para dar a Delgado uma vantagem sobre seu desafiante e tornar a disputa final bastante aberta.

    Segundo analistas, as campanhas sem brilho de ambos os candidatos e o amplo consenso sobre questões-chave do país ajudaram a gerar uma extraordinária indecisão e apatia dos eleitores.

    A campanha foi dominada por discussões sobre impostos e gastos sociais, mas amplamente livre da fúria anti-establishment que impulsionou outsiders populistas ao poder em outros lugares, incluindo nos vizinhos latino-americanos.

    Dia da votação

    Assim como toda a campanha eleitoral, o dia da votação foi marcado pela ausência de distúrbios. Delgado e Orsi saíram de casa cedo e entregaram biscoitos à imprensa, de acordo com o jornal uruguaio El País.

    Antes de votar, o candidato de centro-direita visitou a casa do atual presidente acompanhado de sua filha mais velha, Agustina, e de sua cachorra, Karla. Delgado disse à imprensa local que a militância estava muito animada e entusiasmada. Lacalle Pou declarou que recebeu o aliado político em casa como um amigo.

    Orsi, por sua vez, saiu de casa tomando chimarrão – ele comemorou com jornalistas que a campanha eleitoral ocorreu sem incidentes. “A democracia tem que ser uma festa”, disse ele, de acordo com o El País.

    Mujica também votou pela manhã, no bairro Cerro. O líder de esquerda chegou antes da abertura das urnas. Ele disse à imprensa que era importante criar esperança entre os eleitores mais jovens. “Meu futuro mais próximo é o cemitério, mas me interessa a sorte de vocês, dos jovens que quando tiverem minha idade vão viver em um mundo muito distinto”, afirmou.

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