• Esportes em Petrópolis promovem inclusão social de pessoas com deficiência

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  • 05/06/2019 15:44

    Uma parte significativa da população brasileira é composta por pessoas com algum tipo de deficiência. De acordo com o Censo do IBGE, em 2010, mais de 45 milhões de pessoas possuem algum problema físico ou intelectual, o que representa um quarto da população do país. É muita gente, de fato. Já em Petrópolis, a preocupação com essa área tem levado o setores público e privado a desenvolverem, por meio do esporte, mecanismos de inclusão social.

    É inegável que o esporte se transformou em uma ferramenta eficaz no processo de incluir pessoas com algum tipo de deficiência na sociedade. Mais do que isso, tem transformado vidas graças ao trabalho incansável de profissionais da área que se debruçaram em pesquisas no setor, a fim de melhorar também a melhora em muitos aspectos. A Cidade Imperial tem mostrado um crescimento vertiginoso que tem até formado campeões do desporto, um orgulho para um atleta paralímpico e sua família – parte essencial para que qualquer esforço nesse sentido seja capaz de dar certo. A Tribuna foi atrás de personagens – quem ensina e o desportista que também contribui para números positivos em favor do município.

    Dados de 2010 apontam para um número pouco conhecido – mas não menos alarmante  – sobre a quantidade de pessoas com algum tipo de deficiência auditiva. Ou seja, quase cinco por cento da população local. Quem tem um trabalho reconhecido na área de inclusão dessas pessoas nas atividades esportivas é a professora de educação física e psicóloga Clévia Fernanda Sies Barboza, que desde 2007 se aprofundou nos estudos que unem qualidade de vida e deficiência com reconhecimento científico e tudo mais. Há 12 anos, Clévia recebe alunos e profissionais para a capacitação em atuar nesse segmento do desporto que cresce no país. Ela faz questão de ressaltar que o alicerce de seu trabalho está na diversidade e inclusão na acessibilidade para a comunidade de surdos. 

    Graças ao seu sucesso, a profissional se tornou coordenadora de Esporte Paralímpico do município. Apesar de se orgulhar de sua missão, fez uma ressalva importante: apesar dos números de pessoas com alguma deficiência auditiva ser grande, ainda há um contingente que não a procura para experimentar, ao menos, o projeto desenvolvido para essa massa. “Hoje, temos muitas informações para fazer com que a pessoa com deficiência pratique um esporte, que encontre seu caminho e reconhecimento. Mas muitos não o fazem e isto gera uma preocupação. No meu entendimento, quanto mais buscarem no esporte uma forma de inclusão será melhor para ela. Neste caso, as famílias são importantíssimas porque são delas que precisam ajudar seu parente a encontrar esse caminho. Hoje, o município tem condições de trabalhar com o esporte, mas o papel dos familiares é fundamental para que dê tudo certo”, disse Clévia. 

    Replicando os benefícios do esporte

    Bocha Paralímpica. Foto: Bruno Avellar / Tribuna de Petrópolis.

    Como prova de que o esporte com a inclusão da pessoa com deficiência traz uma transformação além das quatro linhas, o primeiro professor de educação física formado em uma universidade petropolitana replicou os benefícios para terceiros. É o caso de Marcelo Gonçalves, o “Marcelão”, que nasceu com um problema originado pela pouca oxigenação cerebral. Sua deficiência não o colocou à margem da sociedade ou do mercado de trabalho. Foi justamente isso que impulsionou a sua vida. Além de educador físico, foi durante muitos anos atleta de arremesso de disco, com títulos nacionais conquistados durante mais de uma década. No ano passado, anunciou a sua aposentadoria das competições e se tornou conselheiro fiscal da Confederação Brasileira de Esportes Paralímpicos e membro da Ande (Associação Nacional do Deficiente). No entanto, não se restringiu à parte burocrática, já que anteriormente deu o pontapé inicial ao ambicioso programa de treinamento para pessoas com deficiência cerebral através da bocha paralímpica. 

    Com o apoio da Associação Petropolitana da Pessoa com Deficiência (Adpef), a bocha paralímpica vem participando de campeonatos oficiais nos últimos anos. E com resultados  pra lá de expressivos. O petropolitano Roberto Saul Wigoda, o Betinho, conquistou a seletiva no fim do mês passado e garantiu vaga no torneio Regional Leste da modalidade que será disputado neste fim de semana na Arena 3, na Barra da Tijuca. Ele venceu cinco partidas na categoria BC2, categoria para jogadores com paralisia cerebral e que não é permitido o apoio de membros da comissão técnica aos deficientes. O competidor paralímpico, de 63 anos, não falta aos treinos em uma pista montada no interior do Centro de Cultura e exibe uma alegria incomum até mesmo para atletas que não possuem as dificuldades que enfrentou durante toda sua vida.

    A presidente da Apdef, Carla Vieira, salientou que é importante programas como incentivo ao esporte para a pessoa com eficiência, pois é um trabalho que dá frutos para todos os envolvidos. “É muito bom ver as pessoas que se dedicam ao esporte encontrarem ali uma forma de se valorizarem através do esporte. Elas são muito importantes para a sociedade, porque representa um modelo, uma inspiração para que pessoas com algum tipo de deficiência encontre nos treinos e nos campeonatos maneiras de se realizarem como um todo”, explicou a corredora e estudante do quinto período de educação física. “Marcelão” vai também nesse sentido e apenas lamenta que mais famílias não procurem as opções oferecidas pelo Governo Municipal a esse público tão importante para uma sociedade aberta e inclusiva.

    A nossa primeira para-atleta

    Atleta de esgrima Fabiana Soares. Foto: Divulgação.

    O processo de conscientização sobre a importância de um olhar para a pessoa com deficiência, sem o que muitos chamam de “vitimismo”, avança em Petrópolis a passos largos. Tanto é que projetos de esportes para essa turma não se restringe às autoridades públicas. O avanço nessa área, inclusive, pode render até mesmo um fato inédito na história do desporto municipal: podemos ter, no ano que vem, a primeira para-atleta a disputar uma edição paralímpica – nos Jogos de Tóquio 2020. A pessoa em questão é Fabiana Soares, de 40 anos, que trabalha forte desde o fim do ano passado no Magnólia, popular clube do bairro Bingen, onde, através do alto rendimento, tem alcançado seus objetivos técnicos, além, é claro, de sua inclusão na seleção brasileira de esgrima paralímpica.

    Fabiana encontrou no esporte, em 2015, uma forma de driblar os problemas em decorrência a cirurgias mal sucedidas, na infância e juventude, que a colocaram em uma cadeira de rodas. Formada em fisioterapia, a petropolitana foi na internet descobrir um esporte que se encaixava no seu perfil. Descobriu que o Magnólia possuía um trabalho com a esgrima e foi lá no clube buscar mais informações. Foi aí que conheceu o treinador Guilherme Giffoni, que faz parte da comissão técnica da seleção brasileira da modalidade e do Pentatlo Moderno. Em uma conversa, ela o convenceu a prepará-la. A evolução técnica foi tamanha que Soares integra o selecionado nacional que fará um giro na Europa em competições que servem como seletivas paralímpicas. Dubai e Itália são alguns dos países onde já competiu e no mês que vem vai para a Polônia, onde acontecerá a Copa do Mundo da modalidade. Em seguida a este evento, já tem programada uma viagem para um torneio na Coreia do Sul. Só para lembrar também que ela é a primeira do ranking nacional da esgrima em cadeira de roda e disputa as três categorias do esporte (florete, sabre e espada).

    “O esporte para pessoas com deficiência não é fácil no Brasil. Em Petrópolis não é muito diferente, já que, além da força de vontade, contei com a ajuda de muitas pessoas para alcançar o nível em que estou. Se para conseguir um patrocínio normalmente é difícil, para o paradesporto é maior ainda. Mas a gente supera isso. Pessoas como Hingo Hammes (ex-Superintendente de Esportes e hoje vereador) e a galera da academia K2, no Bingen, têm feito essa diferença para que eu consiga fazer a diferença”, contou Fabiana, que também treina aos sábados, em uma instituição militar carioca. 

    Exemplos de responsabilidade social

    Desde 2007, a professora de Educação Física e psicóloga Clévia Fernanda Sies Barboza (vestida de cor-de-rosa, na foto) tem se aprofundado em estudos que unem qualidade de vida e deficiência. Foto: Divulgação.

    A prefeitura mantém uma parceria com a Associação Petropolitana dos Deficientes Físicos (Apdef) no time de bocha adaptada. Além disso, a atual gestão criou, dentro da programação dos Jogos Estudantis, o Dia de Convivência, proporcionando mais saúde e qualidade de vida e promovendo a inclusão social de pessoas com deficiência (PcD), por meio do esporte.

    No ano passado, de forma inédita, foi realizada a I Copa Imperial de Futsal para Surdos – em parceria com a Associação Petropolitana de Surdos (Apes) – e o Campeonato Municipal de Futsal para Surdos. A capacitação gratuita para estudantes e professores de educação física que desejam trabalhar com pessoas com deficiência intelectual também já foi oferecida pela prefeitura. “As atividades oferecidas têm como objetivo aumentar a participação das pessoas com deficiência nas mais diversas modalidades oferecidas na cidade”, disse Leandro Kronemberger, superintendente de Esportes e Lazer.

    No calendário esportivo deste ano, estão previstos, mais uma vez, as competições de futsal e o Dia de Convivência, dentro da programação dos jogos estudantis. “É importante que os alunos com deficiência também ganhem mais espaço, participando também dos jogos estudantis. Desde o início da gestão do prefeito Bernardo Rossi, mantemos o Dia de Convivência buscando proporcionar a melhora na qualidade de vida dessas crianças”, completou Leandro.

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