• Espetáculos de dança destacam obra e trajetória de Portinari e Tomie Ohtake

  • Continua após o anúncio
  • Continua após o anúncio
  • 28/01/2021 07:27
    Por Estadão Conteúdo

    O espetáculo Por Ti Portinari, da Cia. Druw, é resultado de um antigo desejo da coreógrafa Miriam Druwe. A preocupação com os direitos autorais, contudo, fez a diretora engavetar o projeto. Em 2019, a partir de uma conversa com Marcela Benvegnu, curadora de um festival do qual sua companhia participava, a ideia tornou-se mais factível: Marcela sugeriu apresentar Miriam a João Candido Portinari, filho do artista, que não hesitou em acolher a proposta e acabou até mesmo colaborando com o espetáculo. “O João é de uma grande generosidade. Tem um amor pela obra do pai e, por isso, digo que é um herói. Só temos acesso a esse acervo por causa de todo o trabalho que ele desenvolveu, viajando pelo mundo, catalogando as obras. Foi muito acolhedor conosco”, conta Miriam.

    “Quando comecei a escrever o projeto, a obra que acabou me arrebatando foi Guerra e Paz, quando mal sabíamos que entraríamos na guerra”, brinca a diretora, referindo-se à pandemia. Em um processo criativo “colaborativo”, que envolveu a diretora, os bailarinos (dentre eles, os atores Thiago Amaral e Fabrício Licursi) e a consultoria de Cristiane Paoli Quito, o grupo passou a investigar qual era a “travessia” da guerra para a paz. Um dos “insights” que acabaram pautando o espetáculo foi que, no painel da Guerra, Portinari universalizou a dor, mas também imprimiu na tela as suas memórias de infância, ligadas aos retirantes. Vem daí também a travessia: “Ele foi para o mundo e quis voltar pra Brodowski; quis retomar a paz retornando ao estado de infância”, diz Miriam. Foi assim que surgiram os “ganchos” e as “pontes” para a encenação.

    A forma de conectar a tensão entre a paz e a guerra com o universo infantil foi a inserção em cena de uma série de brincadeiras que trazem conflitos dentro delas, como a amarelinha – que vai do inferno ao céu -, ou nos próprios nomes, como “cabo de guerra” e “vivo ou morto”. Tudo isso trazendo à tona, em projeções, outras obras do artista, como Os Retirantes (1944), Os Espantalhos (1959) e Meninos no Balanço (1960). A trilha sonora, assinada por Ed Côrtes, acompanha a tensão da dramaturgia, costurada ainda pela leitura de poemas de Portinari e de trechos do livro Meninos de Brodowski, de João Cândido. Uma das principais preocupações, segundo Miriam, era não tornar a produção do artista um mero “pano de fundo”. Assim, o título ressoa outros sentidos: “O ‘Por Ti’ não é apenas uma homenagem a ele; mostra que o espetáculo atravessa a obra dele”.

    Universo de Tomie. Pode-se dizer que AKA, mais do que uma homenagem, também propõe uma travessia – no caso, pela obra de Tomie Ohtake. “Nós não vamos mostrar as obras dela, mas é como se, pela dança, a pintura fosse nascendo do meu corpo”, explica a performer Emilie Sugai. Parceiros de longa data, desde a época em que integraram o Centro de Pesquisa Teatral de Antunes Filho, ela e o diretor Lee Taylor planejavam o espetáculo antes mesmo da morte de Tomie, em 2015. “A pesquisa para criação do trabalho teve como ponto de partida o pensamento zen, o vazio e a noção de infinito. Na busca por referências, me lembrei de Tomie e percebi que fazia muito sentido nos aprofundarmos em suas criações”, conta o diretor. A morte da artista acabou fortalecendo, segundo ele, a vontade de homenageá-la.

    Tendo como referência a dança butô – expressão surgida no Japão nos anos 1950 -, o espetáculo é dividido em quatro “estações”, ligadas às diferentes linguagens trabalhadas pela artista: esboços, gravura, pintura e escultura. As cores atribuídas a cada uma delas (o branco, o amarelo, o azul e o vermelho) eram as mais empregadas por Tomie em suas criações e reforçam agora a proposta sensorial da encenação.

    Com a pandemia, a solução encontrada para apresentar a produção foi adaptá-la ao formato audiovisual. A dupla convidou o cineasta Joel Pizzini para filmar a performance no Teatro Faap e, então, transmiti-la virtualmente. Eles reconhecem que o formato possibilita que a obra seja vista de qualquer lugar e por outros ângulos, lamentam a perda de contato mais imediato com o público, mas esperam que acabe por despertar a vontade de ver a produção ao vivo, quando isso for possível.

    SERVIÇO

    Por Ti, Portinari: hoje, 18h; 30 e 31/1, 12h, 16h e 18h; 29/1, 1º, 2 e 3/2, 12h e 18h. Grátis. Acesso em youtube.com/ciadruw.

    AKA: quinta-feira (4/2), 19h; sexta (5/2); sábado (6/2), 20h; domingo (7/2). Acesso gratuito por sympla.com.br/aka.

    Últimas