As festas de fim de ano são um momento de alegria e confraternização. No entanto, também é motivo de preocupação e estresse para pessoas autistas e também para os animais, devido a soltura de fogos de artifício. Apesar da existência de uma lei municipal para impedir o uso dos artefatos, a prática continua sendo comum no município.
Nossa equipe conversou com o psicólogo João Gabriel do Carmo Severino e o veterinário Renan Caruso, que explicaram os impactos que os fogos de artifício podem causar em pessoas autistas e nos animais.
“Os fogos de artifício podem causar impactos significativos e negativos em pessoas com autismo, especialmente devido à intensidade dos estímulos sonoros e visuais. Durante as comemorações de Ano Novo, quando os fogos são mais comuns, indivíduos no espectro autista – sejam crianças, adolescentes ou adultos – frequentemente enfrentam essa situação de forma especialmente desafiadora. É importante destacar que, para crianças com autismo, os fogos de artifício podem desencadear uma sobrecarga sensorial significativa, provocando reações adversas como ansiedade e estresse. As luzes brilhantes, por sua vez, podem causar irritabilidade e desconforto, aumentando a chance de crises de agressividade, pânico e inquietação”, disse João Gabriel.
Já Renan explica que os maiores impactos dos fogos de artifício para os animais está relacionado à questão emocional, sendo considerado o primeiro e principal impacto. “Não é um som comum que se teria na natureza, então para os animais que já tem uma audição muito sensível, o estouro dos fogos realmente causa um impacto emocional de medo e de estresse, que não é aconselhável para nenhum animalzinho. E tem a questão dos animaizinhos que já tem algum problema neurológico, tipo convulsões e epilepsias, que podem se acentuar neste momento de muito barulho, muito estresse, principalmente nessa época de final de ano, e em jogos também”, explicou.
O veterinário ainda ressalta que os fogos também podem desencadear respostas indiretas, uma vez que, em alguns casos, o animal, com medo, acaba fugindo, e nessa fuga, às vezes se perde, correndo o risco de morrer atropelado ou de ter alguma lesão de trauma. Além disso, ele explica que os impactos podem ser mais fortes em animais idosos e filhotes.
“Todo animalzinho muito idoso às vezes tem uma comorbidade, cardíaca ou pulmonar, que pode, no estresse dos fogos, desencadear alguma crise ou algum choque que atrapalha principalmente os [animais] idosos. E nos filhotes, porque alguns nasceram depois do ano novo do ano passado e ainda não sabem o que é a questão dos fogos, dessa barulheira toda. E aí é a primeira vez que eles vão vivenciar isso. Então se é algum animalzinho que nasceu também com algum problema, com alguma coisa congênita e a gente não sabe, o estresse pode acabar desencadeando algo também”, explicou Renan.
Já em relação aos autistas, João Gabriel explica que apesar de ter aumentado a conscientização sobre as particularidades das pessoas com autismo, ainda há muito a ser feito para garantir que os momentos festivos sejam mais inclusivos.
“Promover campanhas de conscientização, implementar estratégias de apoio e criar ambientes calmos e acolhedores são medidas fundamentais para que todos possam participar das festividades com mais segurança e conforto”, explicou João Gabriel.
Lei Municipal
A Lei Municipal Nº 7.956, de 09 de Março de 2020 determina que, em Petrópolis, “ficam proibidos o comércio e a soltura de fogos de estampido e de artifício, assim como de quaisquer artefatos pirotécnicos de efeito sonoro ruidoso em todo o território”.
Os especialistas também comentam a importância da conscientização da lei, para torná-la mais conhecida.
“As leis estão ali e, na verdade, cabe aos órgãos públicos a fiscalização disso. Então, para conscientizar as pessoas, é a informação. Na verdade, se tem a lei, mas continua tendo a venda dos fogos que não são silenciosos, acaba que está infringindo a lei”, destacou Renan.
“É necessário pensar em campanhas de conscientização, pois o barulho e todo o estímulo dos fogos prejudicam as pessoas autistas. Por isso a importância das campanhas de conscientização, até mesmo em escolas e em ambientes públicos e privados. Além disso, precisamos de maior fiscalização. Pouco adianta ter uma lei se não houver fiscalização por parte dos órgãos competentes”, finalizou João Gabriel.