Escalada nas listas traz mais contratos, shows e visibilidade
Artistas sabem o quanto suas vidas mudam a partir do dia em que conquistam o topo de alguma boa lista desde julho de 1940, quando a Billboard publicou a primeira delas dando a I’ll Never Smile Again, de Tommy Dorsey e Frank Sinatra, o título de canção mais vendida do ano. Agora, 82 anos depois, com o velho sistema imposto pelas gravadoras desmontado, elas voltam a ganhar status de cálice sagrado. Elas não, ela. Por liderar o mercado das plataformas de streaming, com mais de 172 milhões de assinantes, o Spotify tem estabelecido com seus charts mais do que efeitos comparativos, meritórios ou quantitativos. Estar por um tempo na lista dos 100, 50 ou 10 artistas com mais plays pode ser o início de uma escalada com impacto direto na conversão, ou no reforço, da vida online para a offline. Ou seja: estar nas listas é conseguir mais shows, mais convites para festivais, mais aparições em especiais de TV e, em uma retroalimentação sem fim, mais plays. Os charts do Spotify, como um dia foram os da Billboard, da Rolling Stone ou da Crowley, se tornaram a nova ambição de um artista pop.
O sobe e desce da lista desta nova era é frenético. Enquanto esta matéria é escrita, às 16h45 de 19 de abril de 2022, os dez primeiros colocados no chart Brasil são Vampiro, de Matuê; o remix de sentaDONA, com Davi Kneip, MC Frog, DJ Gabriel do Borel e Luísa Sonza; Fim de Semana no Rio, de Teto; No Ouvidinho, de Felipe Amorim; Dançarina, de Pedro Sampaio; As It Was, de Harry Styles; Mal Feito, de Hugo & Guilherme com Marília Mendonça; Abalo Emocional, de Luan Santana; Envolver, de Anitta; e Termina Comigo Antes, de Gusttavo Lima. Por trás de cada colocação há um tanto de “orgânico”, o que pode ser traduzido como plays provenientes da paixão honesta de seus fãs, outro tanto de algoritmos, aquilo que o Spotify executa segundo sua “consciência” do que está ou não está dando certo e, ainda, algum provável impulso de robôs, algo que os fãs de Anitta foram acusados de praticar para colocá-la no topo.
Há estratégias para se chegar a ser ouvido por uma média de 500 mil pessoas diárias, o patamar que leva ao time das dez mais, e elas nem sempre são edificantes. Uma das informações fornecidas aos músicos é a da frequência de skips em suas faixas. Skip, “pular” em inglês, é o ponto em que um ouvinte literalmente pula a música que está ouvindo. Skip demais enfraquece o artista e pode impedir que sua música vá para as chamadas playlists editoriais, as listas que são criadas pelo próprio Spotify de acordo com a frequência de audições. Estar em uma playlist editorial é um dos ingredientes para se chegar lá.
Luísa Sonza, 23 anos, fala do que simboliza um nome na lista: “É gratificante para a construção da carreira que pretendo.” Ao mesmo tempo, diz, é importante equilibrar forças: “Para conseguir durabilidade é preciso criar identificação com o público além dos números”. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.