Era setembro e madrugava
Assim como tenho vaidade em dizer que possuo mil livros em minha estante, sinto orgulho em afirmar que li todos eles. Porém, poucos me deram tanto prazer de ler quanto o ”Era Setembro e Madrugava”, do colega acadêmico Fernando Magno. Nos primeiros capítulos viajei pelo extremo norte do país em terras que ainda não conheci. Já Recife, eu a adotei na minha infância, em várias viagens que fiz levado pelos navios do “Loyde” e da Cia. Costeira, os famosos Itas.
Não cheguei a adotar Salvador, mas passei a admirá-la por culpa de Jorge Amado. Assim que meus ávidos olhos foram se bater no Rio de Janeiro, deu-se em mim, na verdade, uma espécie de redescoberta de minha terra, por culpa do autor, através da primorosa descrição desse amazonense, inebriado que ficou diante da Cidade Maravilhosa. Passei então a viajar de bonde e de ”lotação”.
Dali para frente parece que nos demos os braços para caminhar pela Cinelândia, para escolher um filme, diante dos diversos letreiros dos cinemas. Dali fomos até a Praça Tiradentes para rever o Teatro Recreio do saudoso Walter Pinto, famoso empresário que importava lindas vedetes da França e da Argentina para suas revistas teatrais. Parece até que subimos os inúmeros degraus para chegarmos à Igreja do Convento de Santo Antônio, onde eu me casei.
De repente estava eu na Estudantina, aprendendo a dançar gafieira, para depois ir me exibir no Dancing Avenida, que ficava no final da Avenida Rio Branco. Se nas manhãs de domingo eu mergulhava das pedras nas águas translúcidas do Arpoador, já no início da tarde vibrava com meu Flamengo nos gramados do Maracanã. Hoje, raramente vou ao Rio e, quando vou não reconheço a cidade em que nasci. O Rio, por sua vez também, não me reconhece como seu filho.
Talvez me trate como turista. Se o Rio mudou, eu mudei também. Por lá costumo me perder, pois já não encontro os inúmeros endereços que tanto eu visitava. Entretanto, não posso deixar de agradecer a Fernando Magno, por ter me proporcionado mergulhar fundo nas mais belas imagens de meu passado, passado esse vivido nos anos dourados do meu Rio de Janeiro e faço minhas suas palavras: “Todo homem é um cais aonde chega e de onde parte todo dia”.