• Epifania: Festa da Luz!

  • Continua após o anúncio
  • Continua após o anúncio
  • 03/01/2021 00:01
    Por Mons. José Maria Pereira

     

    A Epifania é uma festa da Luz. “Ergue-te, Jerusalém, e sê iluminada, que a tua luz desponta e a Glória do Senhor está sobre ti” (Is 60, 1). Com estas palavras do profeta Isaías, a Igreja descreve o conteúdo da festa. Sim, veio ao mundo Aquele que é a Luz verdadeira, Aquele que faz com que os homens sejam luz. Dá-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus ( Jo 1, 9.12). Para a liturgia, o caminho dos Magos do Oriente é só o início de uma grande procissão que continua ao longo da História inteira. Com estes homens, tem início a peregrinação da humanidade rumo a Jesus Cristo: rumo àquele Deus que nasceu num estábulo, que morreu na Cruz e, Ressuscitado, permanece conosco todos os dias até ao fim do mundo (Mt 28, 20).

    A Igreja celebra a Epifania, isto é, a manifestação do Senhor ao mundo inteiro. Os Magos representam os povos de todas as línguas e nações que se põem a caminho, chamados por Deus, para adorar Jesus (cf. Mt 2, 1-12). A luz de Cristo, como que encerrada na gruta de Belém, hoje difunde-se em todo o seu alcance universal. Aquela “luz nova” que se acendeu na noite de Natal, hoje começa a resplandecer no mundo, como sugere a imagem da estrela, um sinal celeste que chamou a atenção dos Magos e que os orientou na sua viagem rumo à Judeia. Vale a Palavra de Cristo: “Eu sou a Luz do mundo; quem me segue, não caminhará nas trevas, mas terá a luz da vida” (Jo 8, 12). Jesus é o Sol que apareceu no horizonte da humanidade para iluminar a existência pessoal de cada um de nós e para nos orientar todos juntos rumo à meta da nossa peregrinação, rumo à terra da liberdade e da paz, onde viveremos para sempre em plena comunhão com Deus e entre nós.

    Nos Reis Magos, vemos milhares de almas de toda a terra que se põem a caminho para adorar o Senhor. Passaram vinte séculos desde aquela primeira adoração, e esse longo desfile do mundo inteiro continua chegando a Cristo.

    A festa da Epifania incita todos os fiéis a partilharem dos anseios e fadigas da Igreja, que “ora e trabalha ao mesmo tempo, para que a totalidade do mundo se incorpore ao Povo de Deus, Corpo do Senhor e Templo do Espírito Santo” (LG 17). Nós podemos ser daqueles que, estando no mundo, imersos nas realidades temporais, viram a estrela de uma chamada de Deus e são portadores dessa luz interior que se acende em consequência do trato diário com Jesus. Sentimos, pois, a necessidade de fazer com que muitos indecisos ou ignorantes se aproximem do Senhor e purifiquem a sua vida.

    A Epifania é a festa da fé e do apostolado da fé. “Participam desta festa tanto os que já chegaram à fé como os que procuram alcançá-la. Participa desta festa a Igreja, que cada ano se torna mais consciente da amplitude da sua missão. A quantos homens é necessário levar ainda a fé! Quantos homens é preciso reconquistar para a fé que perderam, numa tarefa que é às vezes mais difícil do que a primeira conversão! No entanto, a Igreja, consciente desse grande dom, o dom da Encarnação de Deus, não pode deter-se, não pode parar nunca. Deve procurar continuamente o acesso a Belém para todos os homens e para todas as épocas. A Epifania é a festa do desafio de Deus” ( São João Paulo ll, Homilia 6-l-1979).

    A Epifania recorda-nos que devemos esforçar-nos por todos os meios ao nosso alcance para que todos os nossos amigos, familiares e colegas se aproximem de Jesus.

    Os Magos, seguindo a estrela, encontram o lugar onde estava o Salvador com Maria e José. E voltaram às suas regiões por outro caminho. Os Magos inauguram o caminho dos povos para Cristo; adoraram um simples Menino nos braços da Mãe, Maria, porque reconheceram n’Ele a Fonte da dupla luz que os tinha guiado: a luz da estrela e a luz das Escrituras. Reconheceram n’Ele o Rei dos judeus, Glória de Israel, mas também o Rei de todas as nações.

    Quem encontra Jesus Cristo muda de caminho. Toma outro caminho. Um caminho novo, o caminho de Jesus Cristo que se apresenta como o Caminho. O encontrar Deus no menino transforma a vida das pessoas. Já não podem voltar a Herodes. Voltaram por outro caminho à sua região. Importa seguir a estrela que pousará onde está Jesus Cristo. Precisamos estar atentos à estrela. A estrela são todos os sinais de Deus para que encontremos o Messias Salvador: a Palavra de Deus, os Sacramentos, o Magistério da Igreja, uma boa palavra do sacerdote ou de pessoas amigas, os acontecimentos da vida.

    Os Magos seguiram a estrela. Não duvidaram, porque sua fé era sólida, firme; não titubearam perante a fadiga de tão longa viagem, porque o seu coração era generoso. Não adiaram a viagem para mais tarde, porque tinham alma decidida. É importante aprender dos Magos a virtude da perseverança: mesmo durante o tempo em que a estrela se ocultou aos seus olhares continuaram à procura do Menino! Também nós devemos perseverar na prática das boas obras, mesmo durante as mais obscuras trevas interiores. É a prova do espírito, que somente pode ser superada num intenso exercício de fé. Sei que Deus assim o quer, devemos repetir nesses momentos: Sei que Deus me chama e isso basta! “Sei em quem pus a minha confiança” (2Tm 1, 12).

    Sejamos estrelas que vão indicando o caminho ao próximo para que ele encontre o Messias Salvador. Há muitas maneiras de sermos estas estrelas, dando testemunho de Jesus Cristo. Isso na família, na Igreja e na sociedade. Que na festa da Epifania nos deixemos guiar pela estrela, iluminar por ela, e poderemos ser luz para os outros.

       Voltemos aos Magos do Oriente! Eles eram também e sobretudo homens que tinham coragem; tinham a coragem e a humildade da fé. Era preciso coragem a fim de acolher o sinal da estrela como uma ordem para partir, para sair rumo ao desconhecido, ao incerto, por caminhos onde havia inúmeros perigos à espreita. Podemos imaginar que a decisão destes homens tenha provocado sarcasmo: o sarcasmo dos ditos realistas que podiam apenas zombar das fantasias destes homens. Quem partia baseado em promessas tão incertas, arriscando tudo, só podia aparecer como ridículo. Mas, para estes homens tocados interiormente por Deus, era mais importante o caminho segundo as indicações divinas do que a opinião alheia. Para eles, a busca da verdade era mais importante que a zombaria do mundo, aparentemente inteligente.    

    Queridos irmãos e irmãs, detenhamo-nos também nós idealmente diante do ícone da adoração dos Magos. Ele contém uma mensagem exigente e sempre atual. Exigente e sempre atual antes de tudo para a Igreja que, espelhando-se em Maria, está chamada a mostrar Jesus aos homens, nada mais do que Jesus. De fato, Ele é o Tudo e a Igreja existe unicamente para permanecer unida a Ele e dá-Lo a conhecer ao mundo. Ajude-nos a Mãe do Verbo encarnado a sermos discípulos dóceis do seu Filho, Luz das nações. A Virgem Maria, que com fé recebeu Jesus, nos ajude a não fecharmos o nosso coração ao seu Evangelho de salvação. Ao contrário, deixemo-nos conquistar e transformar-nos por Ele, o “Emanuel”, Deus que veio no meio de nós para nos doar a sua paz e o seu amor.

    Peçamos à Virgem Maria que nos conduza ao seu Filho Jesus. Os Reis Magos tiveram uma estrela. Nós temos Maria! Toda a nossa vida é caminho até Deus, e se percorre à luz da fé. Fé como a dos magos: nem o deserto e nem as tempestades devem impedir de chegar à meta: a felicidade plena em Deus.

     

     

    Últimas