• Entre as vítimas em Gaza, 140 são terroristas, diz porta-voz da Defesa de Israel

  • 19/05/2021 14:53
    Por Fernanda Simas / Estadão

    Enquanto países tentam, por meio da diplomacia, acordar um cessar-fogo entre Israel e o Hamas, grupo radical islâmico que governa a Faixa de Gaza, o Exército israelense continua preparado para uma eventual escalada do conflito e explica as ações tomadas nesse território palestino.

    “Entre as vítimas na Faixa de Gaza, 140 são terroristas envolvidos no conflito”, conta ao Estadão o major Roni Kaplan, porta-voz das Forças de Defesa de Israel (IDF) em momentos de emergência. “Para que o custo da Defesa não recaia tanto na economia do país, temos um Exército relativamente pequeno e os reservistas são acionados em tempos de emergências. No dia a dia sou um empreendedor e nas emergências sou porta-voz da IDF”.

    O que aconteceu com as informações sobre a entrada por terra em Gaza?

    Foi uma confusão de superiores do Exército, uma confusão na leitura do que estava acontecendo no terreno. Fora da Faixa de Gaza, temos a divisão 162, que tem duas brigadas de infantaria e uma brigada de blindados. Nesse contexto, Jonathan (Conricus – porta-voz da IDF) pensou que havíamos entrado na Faixa de Gaza, se equivocou e se corrigiu e, em seguida, divulgamos uma carta pedindo desculpas. Estamos trabalhando de sol a sol e basicamente ocorreu um equívoco.

    Há a possibilidade de vocês entrarem na Faixa de Gaza?

    A possibilidade existe e isso depende basicamente de como vai se desenrolar esse conflito. Nós faremos tudo para debilitar consideravelmente os grupos terroristas na Faixa de Gaza, tentando maximizar os danos aos grupos terroristas e ao armamento e minimizar os danos à população civil em Gaza, mas defendendo a população israelense.

    O Exército foi muito criticado pelos ataques a prédios que abrigavam sedes de imprensa em Gaza e um campo de refugiados.

    No edifício onde estavam a AP (Associated Press) e a Al-Jazeera funcionava também um centro de inteligência do Hamas. Precisamos levar em conta várias coisas. Somos um dos países do mundo que têm mais jornalistas por quilômetro quadrado. Não temos nenhuma intenção de ferir ou atacar as posições de AP ou Al-Jazeera, mas o Hamas se escondia dentro do edifício onde estava a imprensa internacional, acreditando que dessa maneira estava fora do radar israelense e fora da possibilidade de serem atacados. Aqui foram lançados 3250 foguetes desde o início do conflito e cada foguete pode deixar vários mortos aqui e Israel não está disposto a ver o Hamas usar civis como escudos humanos.

    Temos uma operação para diminuir os danos na Faixa de Gaza porque esse não é um conflito entre palestinos e Israel, mas sim entre Israel e um grupo terrorista. Iniciamos então um procedimento chamado toc toc, ou batendo à porta. Israel entra em contato com os civis que estão no edifício onde há alguma estrutura do Hamas e aí as pessoas podem sair dali. Depois de cerca de três horas, Israel ataca. No caso do edifício em questão foi necessário uma hora e meia para poder atacar com a certeza de que não havia civis ali. Israel não tem nenhum problema com a liberdade de imprensa, mas é preciso deixar claro que o Hamas usa até a imprensa internacional para se esconder entre os civis.

    E é possível ter certeza de quando os civis deixam os edifícios?

    Na maioria dos casos damos três horas de tempo para que as pessoas deixem os locais. Tomamos todas as precauções possíveis para diminuir os danos a civis.

    Sobre a casa de refugiados. Estávamos tentando atacar a um dos principais líderes do Hamas. Naquele momento não podíamos divulgar o nome porque ainda não sabíamos se havíamos conseguido. Essa pessoa estava dentro da casa dessa família de refugiados. Nós lamentamos a morte de cada um dos civis na Faixa de Gaza e quero dizer que não temos menos sensibilidade no coração do que outras pessoas. Basicamente, o que vemos é que o Hamas usa os civis como escudos humanos. Não temos intenção de atacar civis na Faixa de Gaza. Ao contrário, o Hamas lança foguetes para matar os civis israelenses.

    É possível saber quantos comandantes são responsáveis pelos atuais ataques?

    É difícil saber, se trata de informação confidencial. Mas o que posso dizer é que entre as vítimas na Faixa de Gaza, 140 delas são terroristas envolvidos no conflito, seja do Hamas, seja da Autoridade Nacional Palestina. Temos seus nomes e apelidos. Outras 25 ou 30 foram mortos por fogo do próprio Hamas e da Jihad Islâmica. De todos os foguetes lançados pelo Hamas, 450 caíram dentro da Faixa de Gaza, tinham curto alcance. Esse dado revela que realmente o ódio do Hamas é tão grande que continuam atacando Israel mesmo que sua população morra por fogo amigo. Não é algo intencional, é uma falha técnica daqueles foguetes.

    Qual é atualmente a principal dificuldade de combate ao Hamas?

    O fato de que se escondem em meio à população civil. Se queremos alcançar a localidade dos foguetes da Faixa de Gaza por exemplo. Eles fabricam lá milhares de foguetes, mas os distribuem por casas, escolas, hospitais. É muito difícil encontrar os integrantes do Hamas entre a população civil.

    Como está a situação na Cisjordânia?

    A situação é estável e basicamente nosso principal problema é com o Hamas na Faixa de Gaza. Todas as partes internas de Israel estão sendo tratadas pelo Ministério de Segurança Interior de Israel e pela polícia.

    Como é a participação do Exército num eventual cessar-fogo?

    Como tudo em um Estado democrático, nós como Exército operamos decisões tomadas pelos líderes eleitos pelo povo. O Exército também prepara os trâmites operacionais para tornar possível a realização dessas decisões.

    Há algum plano para operar um cessar-fogo?

    Isso está na esfera política e diplomática. Neste momento, não temos nenhuma participação nisso como Exército. O que posso dizer é que entendemos que se Israel deixasse as armas por um minuto agora estaria colocando essa região em certa instabilidade porque não estaríamos dissuadindo o Hamas como é necessário para que deixem de disparar e pensem três, quatro, cinco vezes antes de disparar foguetes contra o coração, a capital de Israel, Jerusalém. Se o Hamas, a Jihad Islâmica palestina e outros terroristas que atuam na Faixa de Gaza deixassem as armas, rapidamente haveria estabilidade, paz e com isso, diríamos que chegamos à paz que tanto querem.

    Como o Hamas se financia? Não é possível sufocar o sistema financeiro do grupo?

    O Hamas recebe financiamento de alguns países árabes e de pessoas físicas dentro do mundo árabe e não apenas isso. Além disso, Israel nesses dias conseguiu atacar o Banco Islâmico que é onde ocorrem todas as transações financeiras para financiar o terror, em um edifício na Faixa de Gaza. Destruímos esse banco.

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