Entenda a visão do chef José Andrés sobre o ataque à sua ONG em Gaza
Três civis britânicos, um palestino, uma americana-canadense, um australiano e um polaco foram mortos por mísseis de alta precisão disparados por drones no ataque de Israel a três carros da World Central Kitchen (WCK), ONG do chef José Ramón Andrés Puerta, mais conhecido como José Andrés, na última segunda-feira.
Espanhol de Astúrias, o chef é a concretização do “American dream”: chegou sem nada aos Estados Unidos em 1991 e hoje possui mais de 20 restaurantes, inclusive em Dubai, com destaque ao duplamente estrelado Minibar, em Washington.
Cozinhou na Casa Branca e foi condecorado por Barack Obama, inclusive pelo trabalho desempenhado com a WCK. Famoso por programas de TV na Espanha e programas e podcast nos Estados Unidos, José Andrés é o personagem que brinca com a própria careca e barriga pronunciada, que entrevista cozinheiro de food truck como se fosse chef três estrelas, que repete odiar selfie, mas não nega nenhuma aos fãs.
Naturalmente engraçado, muda até o semblante quando fala sobre fome: “Dar comida não é caridade, é dar dignidade e respeito ao próximo”. E isso não veio do atual conflito. E é repetido a torto e a direito. Até no Cayman Cookout, evento gastronômico exclusivo, em que começou a ser anfitrião junto aos amigos Eric Ripert e Anthony Bourdain, o cozinheiro dá um jeito de puxar o assunto.
No momento, contudo, é a fome de mais de um milhão de pessoas em Gaza que o leva a acusar Israel de atacar seus trabalhadores humanitários “sistematicamente, carro por carro”. Devido à gravidade, José Andrés apela a um inquérito independente sobre o que foi chamado pelos agressores de “acontecimento trágico” e involuntário em contexto de guerra.
“As sete pessoas mortas numa missão da World Central Kitchen em Gaza na segunda-feira foram o melhor da humanidade. Eles não são sem rosto ou sem nome. Eles não são trabalhadores humanitários genéricos ou danos colaterais na guerra”, contestou a seu mais de um milhão de seguidores no Instagram.
Sem essas pessoas, aliás, ele não teria distribuído mais de 42 milhões de refeições na região. Soma-se à indignação do chef o fato de sua organização ter coordenado os movimentos de seu comboio com a defesa israelense e, ainda assim, ter sido fatalmente atingido após descarregar 100 toneladas de ajuda em um armazém de Deir al-Balah, no norte de Gaza.
A saber: sua WCK foi fundada em 2010 para alimentar as vítimas do terremoto que devastou o Haiti. Inicialmente, a ideia era socorrer a fome decorrente de desastres naturais, o que incluiu a pandemia de Covid. Desde a eclosão da guerra na Ucrânia, porém, José Andrés ampliou a ação da ONG, que somente por lá já serviu mais de 260 milhões de refeições.
Em documento publicado hoje, afirma: “A . A WCK orgulha-se de ter alimentado famílias em Israel depois de 7 de outubro e continuamos a exigir a libertação de todos os reféns. Ao mesmo tempo, acreditamos que as famílias palestinas têm o mesmo direito universal à alimentação, à água e aos medicamentos. Sabemos que os israelitas, no fundo, partilham os mesmos valores. Exigimos a criação de uma comissão independente para investigar os assassinatos dos nossos colegas”.