• Então, a natureza responde

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  • 28/04/2019 07:00

    Temos acompanhado pela mídia a enxurrada de tragédias e prejuízos causados pelas chuvas que assolaram, a pouco tempo, como exemplo, o Rio e São Paulo. Como é consenso entre a grande maioria dos cientistas, a ação humana está contribuindo decisivamente para as mudanças climáticas em razão da emissão de gases e aerossóis que provocam o efeito estufa. As contínuas alterações no padrão de cobertura vegetal do Brasil, por exemplo, são um importante fator regional do fenômeno. A queima de florestas, além de comprometer a qualidade do ar, é uma fonte relevante de aerossóis e gases-traço. A mudança no regime de chuvas, a que se atribui uma frequência maior de eventos extremos como inundações e secas, promete ter efeitos econômicos na geração das hidroelétricas, na erosão do solo ou na oferta de água. A elevação da temperatura deverá ter impacto na biodiversidade, especialmente em áreas em que a vegetação original já se fragmentou, ou na agricultura, com a possibilidade de eclosão de novas pragas e a inviabilidade de manter em suas regiões atuais culturas agrícolas dependentes de temperaturas amenas. A provável elevação do nível do mar traz riscos tanto para os milhões de brasileiros que vivem no litoral quanto para os ecossistemas costeiros. Por outro lado, um relatório publicado nesta semana pelo Institute for Agriculture and Trade Policy (IATP) mostrou que as cinco principais fazendas de criação animal do mundo emitem juntas mais gases de efeito estufa que grandes petrolíferas, como a ExxonMobil, a Shell ou a BP. O levantamento coletou dados das empresas JBS, Tyson Foods, Cargill, Dairy Farmers of America e Fonterra. Cargill, Dairy Farmers of America e Fonterra são as maiores poluidoras. O relatório traz informações preciosas justamente em um momento em que quase todos os países do mundo, com exceção dos Estados Unidos, concordaram em reduzir as emissões de gases do efeito estufa, para manter os aumentos da temperatura global bem abaixo de 2ºC. A demanda por carne e laticínios tem aumentado cada vez mais em lugares em desenvolvimento, como a China, onde a classe média cresce a cada ano e está mais disposta a gastar com esses produtos. Como também observaram os autores do estudo, as grandes empresas de carne e laticínios conseguem escapar há muito tempo das críticas ao seu impacto ambiental, diferentemente de petrolíferas, como a Shell e a Exxon-Mobil. Isso ocorre porque a maioria das fazendas não divulga dados públicos sobre emissões de gases. Apenas quatro empresas, sendo uma japonesa e três européias, dentre as 35 maiores do setor, forneceram dados detalhados e que a IATP considerou confiáveis. As grandes empresas agrícolas mundiais contribuem para a poluição da atmosfera de três formas: algumas emitem gases diretamente das suas instalações, de maquinários ou até das fezes das vacas, que liberam gás metano; há as emissões indiretas provenientes da geração de energia necessária para manter as instalações funcionando; e existem também aquelas que vêm do transporte de animais, carnes e leite. O relatório ainda destaca que os maiores poluidores são um pequeno grupo de países e nele estão Estados Unidos, o Canadá, a União Europeia, o Brasil, a Austrália e a Nova Zelândia. Juntos, eles representam 43% das emissões de gases do efeito estufa do setor. Ou seja, não dá mais para fugir do aquecimento. O trabalho então, é impedir que a mudança do clima se torne catastrófica. Isso envolve cortar emissões para que a Terra possa se recuperar com o passar das décadas e se preparar para as adaptações que serão necessárias.

    achugueney@gmail.com.

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