Ensinar tolerância
Com tempo de exercício no magistério é comum guardarmos anotações e revisitarmos anos após, avaliando a contemporaneidade destas notas, quanto a atualidade das informações, argumentações ou conclusões inclusas, que possam ser reutilizadas.
Com especialização em Século XX, meu olhar dirigiu-se para o clima de intolerância predominante nas mais variadas regiões do mundo e em diversos povos, notando esta constância pelo decorrer do século XX segundo relatos históricos.
Minhas anotações trabalhavam centradas no holocausto recuperando a teoria de Adorno, cruzando a história do tempo presente na atualidade de Charlottesville (Virgínia, EUA) com o período de constância nos ataques a cemitérios judeus, profanados e destruídos por grupos fascistas e neonazistas, Argentina (1997), Lisboa e Diespech em (2007), entre outros, que se sucederam nas décadas seguintes.
Intolerância é um significativo substantivo feminino, traduz uma ação radical, extremista, expressão onde se verifica a total falta de tolerância, compreensão ou aceitação em relação a algo ou a alguma coisa. Encontram-se presentes em discursos por nosso cotidiano emitidos por pessoas intolerantes e/ou grupos de indivíduos portadores de quadros de repulsa como forma de comportamento. Geralmente indivíduos que não aceitam qualquer divergência que se apresente por ideias ou cultura, que não compreendem fundamentalmente a formação do mundo, assim passam a discriminar, perseguir, avançar sobre o direito do outro.
Torna-se assim premente que a educação por intermédio de seus profissionais, desconstruir discursivamente a narrativa da intolerância, identificando procedimentos e estratégias utilizadas nesses discursos, assim como o quadro de valores em que estes se colocam atingindo diretamente nossas crianças e adolescentes.
Este exame pode encontrar resistências no seio das famílias, principalmente as desprovidas de informação que com ingenuidade não reconhecem o efeito que suas palavras possuem em seus filhos.
O resultado destes discursos intolerantes de diferentes matizes e composições – racista, fascista, separatista, sexista, purista e outros – está presente na linguagem coloquial reproduzida por alunos em sala de aula.
Uma simples manifestação religiosa popular pode atrair sentimentos e discursos adversos como os anti-islâmicos. Atualmente observamos os ataques aos centros espíritas no Rio de Janeiro, ações contrárias ao espírito de liberdade da sociedade das crenças religiosas.
Recentemente, um estudo constatou que as festas juninas, características da tradicionalidade cultural e religiosa na sociedade brasileira, deixaram de ocorrer na última década em inúmeras escolas do país, mesmo no seio da sociedade, pois os gestores indicados, portadores de religiosidades diferentes resolveram combater estes princípios, descaracterizando sua gênese cultural, dando voz à intolerância.