• Ensinamentos da Mãe de Jesus

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  • 19/12/2021 08:00
    Por Mons. José Maria Pereira

    O Espírito do Advento consiste em boa parte em vivermos muito unidos à Virgem Maria neste tempo em que Ela traz Jesus em seu seio.

    A Liturgia nos fala e nos ensina por meio de três grandes guias: Isaías, João Batista e Maria; o profeta, o precursor e a mãe.

    Hoje é a vez de Maria; ela nos ajuda a intensificar e a concentrar nossa espera: “Aquele que deve vir,” já chegou; o mistério, escondido desde séculos em Deus (Ef 3,9), faz nove meses encontra-se no seio de Maria! Nossa Senhora fomenta na alma a alegria, porque, quando procuramos a sua intimidade, leva-nos a Cristo. Ela é “Mestra de esperança. Maria proclama que a chamarão bem-aventurada todas as gerações (Lc 1, 48).

    Se Advento significa espera de Cristo, Maria é a espera em pessoa. A espera teve para ela o sentido realista e delicado que esta palavra tem para cada mulher que espera o nascimento de uma criança. É assim que devemos imaginar Nossa Senhora na iminência do Natal: com aquele olhar amável, dirigido mais para dentro do que para fora de si, que se nota numa mulher que carrega no seio uma criatura e parece que já a contempla e com ela dialoga. Maria manteve com seu filho uma comunhão ininterrupta de amor, como uma pessoa que recebeu a Eucaristia.

    O Evangelho (Lc 1, 39-48), narra o encontro de duas mães que vibram de alegria com a realização das Promessas: a visita de Maria à sua prima Isabel. Este episódio não é um simples gesto de gentileza, mas representa com grande simplicidade o encontro do Antigo Testamento com o Novo. As duas mulheres, ambas grávidas, encarnam de fato a expectativa e o Esperado. A idosa Isabel simboliza Israel que espera o Messias, enquanto que a jovem Maria traz em Si o cumprimento desta expectativa, em benefício de toda a humanidade. Nas duas mulheres encontram-se e reconhecem-se antes de tudo os frutos do seio de ambas, João e Cristo. Comenta o poeta cristão Prudêncio: “O menino contido no seio senil saúda, pelos lábios de sua mãe, o Senhor filho da Virgem”. A exultação de João no seio de Isabel é o Sinal do cumprimento da expectativa: Deus está para visitar o seu povo. Na Anunciação, o Arcanjo Gabriel tinha falado a Maria da gravidez de Isabel (Lc 1, 36), como prova do poder de Deus: a esterilidade, não obstante ela fosse idosa, tinha – se transformado em fertilidade.

    A cena da Visitação expressa também a beleza do acolhimento: onde há acolhimento recíproco e escuta, onde se dá espaço ao outo, ali estão Deus e a alegria que vem d’Ele. Imitemos Maria no tempo de Natal, visitando quantos vivem em dificuldade, em particular os doentes, os presos, os idosos e as crianças. Imitemos também Isabel que acolhe o hóspede como o próprio Deus: sem O desejar, nunca conheceremos o Senhor; sem O esperar, não O encontraremos; sem O procurar, não O descobriremos. Com a mesma alegria de Maria que vai às pressas ter com Isabel (Lc 1, 39), vamos também nós ao encontro do Senhor que vem.

    Quem aguarda o Salvador, não pode esquecer a sua Mãe.

    Após a Anunciação, em que deu o seu SIM a Deus, Maria se põe a caminho… e vai às pressas à casa de Isabel. Maria nos ensina o melhor jeito de acolher: estar atento às necessidades dos irmãos, partir ao seu encontro, partilhar com eles a nossa amizade e ser solidário com as suas necessidades

    Dentro de poucos dias veremos Jesus reclinado numa manjedoura, o que é uma prova de misericórdia e do amor de Deus. Poderemos dizer: “Nesta noite de Natal, tudo para, dentro de mim. Estar diante dEle; não há nada mais do que Ele na branca imensidão. Não diz nada, mas está aí… Ele é o Deus, amando-me. E se Deus se faz homem e me ama, como não procura – Lo? Como perder a esperança de encontrá-Lo, se é Ele que me procura? Afastemos todo o possível desalento; as dificuldades exteriores e a nossa miséria pessoal não podem nada diante da alegria do Natal que se aproxima.

    Faltam poucos dias para que vejamos no presépio Aquele que os profetas predisseram, que a Virgem esperou com amor de mãe, que João anunciou estar próximo e depois mostrou presente entre os homens.

    Desde o presépio de Belém até o momento da sua Ascensão aos céus, Jesus Cristo proclama uma mensagem de esperança. Ele é a garantia plena de que alcançaremos os bens prometidos. Olhamos para a gruta de Belém, em vigilante espera, e compreendemos que somente com Ele poderemos aproximar-nos confiadamente de Deus Pai.

    Nas festas que celebramos por ocasião do Natal, lutemos com todas as nossas forças, agora e sempre, contra o desânimo na vida espiritual, o consumismo exagerado, e a preocupação quase exclusiva pelos bens materiais. Na medida em que o mundo se cansar da sua esperança cristã, a alternativa que lhe há de restar será o materialismo, do tipo que já conhecemos; isso e nada mais. Por isso, nenhuma nova palavra terá atrativo para nós se não nos devolver à gruta de Belém, para que ali possamos humilhar o nosso orgulho, aumentar a nossa caridade e dilatar o nosso sentimento de reverência com a visão de uma pureza deslumbrante.

    A devoção a Nossa Senhora é a maior garantia de que não nos faltarão os meios necessários para alcançarmos a felicidade eterna a que fomos destinados. Maria é verdadeiramente “porto dos que naufragam, consolo do mundo, resgate dos cativos, alegria dos enfermos” (Santo Afonso M. de Ligório). Nestes dias, que precedem o Natal e sempre, peçamos-Lhe a graça de saber permanecer, cheios de fé, à espera do seu Filho Jesus Cristo, o Messias anunciado pelos Profetas.

    “A Virgem Maria, é ela mesma o caminho real pelo qual veio a nós o Salvador. Devemos procurar ir ao encontro do Salvador pelo mesmo caminho pelo qual ele veio a nós” (São Bernardo). Haja em cada um de nós a alma de Maria para engrandecer a Deus; esteja em cada um o espírito de Maria para exultar em Deus” (Santo Ambrósio).

    Ajude-nos Maria a manter o recolhimento interior, indispensável para viver a profunda alegria que o nascimento do Redentor traz. Dirijamo-nos a Ela com a nossa oração, pensando, sobretudo, em quantos se preparam para transcorrer o Natal na tristeza e na solidão, na doença e no sofrimento: a todos a Virgem dê conforto e consolo.

    Hoje, como nos tempos de Jesus, o Natal não é uma fábula para crianças, mas a resposta de Deus ao drama da humanidade em busca da verdadeira paz. “Ele próprio será a paz!,” diz o profeta referindo-se ao Messias. Compete a nós abrir, de par em par, as portas para O receber. Aprendamos de Maria e de José: ponhamo-nos com fé ao serviço do desígnio de Deus. Mesmo se não o compreendemos plenamente, confiemo-nos à sua sabedoria e bondade. Procuremos, antes de tudo, o Reino de Deus, e a Providência ajudar-nos-á. Assim, possamos ter um Bom Natal!

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