• Ensaio para o Rock in Rio une o sertanejo de várias gerações

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  • 11/set 07:15
    Por Sabrina Legramandi / Estadão

    Foi uma surpresa quando o Rock in Rio, que completa 40 anos em 2024, anunciou, em abril, que a música sertaneja estaria pela primeira vez no maior festival do Brasil. Chitãozinho & Xororó, Ana Castela, Luan Santana, Simone Mendes e Junior se unirão à Orquestra Sinfônica de Heliópolis para o show Pra Sempre Sertanejo no Dia Brasil, dedicado a atrações e ritmos do País. A dupla ainda convidou o rapper Cabal para participação especial.

    O Estadão acompanhou na terça, 3, Chitãozinho & Xororó no primeiro ensaio de Pra Sempre Sertanejo no “lar” da Orquestra Sinfônica: o Instituto Baccarelli, em São Paulo. Ana Castela, Luan Santana e Cabal também estavam presentes.

    A reunião deu um gostinho do que deve ser a apresentação no Rock in Rio. A Orquestra e a dupla devem ficar o tempo todo no palco, enquanto os demais artistas vão entrar, um de cada vez, para cantar os seus maiores sucessos.

    “Eu quis trazer uma proposta geracional”, diz o cantor e compositor Zé Ricardo, curador que atua no Rock in Rio desde 2007 e, neste ano, ficou responsável pelo Dia Brasil. Segundo o artista, apenas dois repertórios da data não foram montados por ele: o do Pra Sempre Sertanejo, a cargo de Chitãozinho & Xororó, e do Pra Sempre Samba, feito por Zeca Pagodinho.

    Raiz

    A dupla escolheu iniciar o show com o “sertanejo raiz” e vai cantar Saudade de Minha Terra. Depois, entrará Ana Castela, a mais jovem entre os sertanejos. Em entrevista coletiva realizada no camarim da cantora no instituto, ela brinca que levará “a criançada” para o festival.

    “Nem sei se pode ter criança no Rock in Rio, mas vai ter”, brinca Ana, já chamada de “Xuxa da nova geração” por atrair o público infantil. “A criançada que gosta de mim vai voltar a ouvir ‘modão'”, celebra.

    O ensaio também significou descobertas e emoção para a cantora. Ela conta ter visto uma orquestra “pela primeira vez na vida” lá, no Instituto Baccarelli. Ana apareceu visivelmente comovida ao ouvir os primeiros acordes da Orquestra Sinfônica de Heliópolis tocando dois de seus maiores hits, Nosso Quadro e Solteiro Forçado.

    “Muita coisa passando na minha cabeça”, diz. “Deixa a gente emocionada. Quero orquestra no meu show todo dia.”

    Entusiasmo

    Foi com entusiasmo e certeza que Xororó recebeu o convite para cantar com o irmão no Rock in Rio. “(Na ligação com Zé Ricardo), eu disse: ‘Vou falar pelo meu irmão já. Ele sempre achou que havia uma falha no Rock in Rio, porque não tinha sertanejo. Com certeza, ele vai topar, então está topado'”, relata, também na entrevista, ao lado de Chitãozinho.

    Para a dupla, “fazer um show bem bonito” pode significar mais espaço para o sertanejo no festival. “Pretendemos fazer lá o que já fazemos há muito tempo e pesar um pouquinho mais a mão nas guitarras”, diz Xororó.

    O peso das guitarras já pôde ser sentido no ensaio – mais especificamente quando Luan Santana cantou o sucesso que o apresentou para o Brasil, Meteoro. No festival, o artista vai mostrar seus maiores hits em um pot-pourri de várias músicas.

    O cantor afirma ter uma relação com o rock e com o Rock in Rio, ao qual foi uma vez para assistir ao show de Elton John. “A primeira versão da Meteoro já fala que é um pop-rock sertanejo. Esse arranjo (do Pra Sempre Sertanejo) acentuou esse lance do rock. Mas eu sempre gostei de ouvir rock”, afirma, também na entrevista.

    Da mesma maneira, a apresentação é uma novidade para a Orquestra Sinfônica de Heliópolis, que já tocou com os Racionais MCs no The Town e quer continuar em grandes festivais para “quebrar paradigmas”, conta o maestro Edilson Ventureli ao Estadão.

    “Quando começamos a ensinar música clássica na favela, 27 anos atrás, ninguém acreditava que era possível”, diz. “E hoje nós, de novo, vamos fazer história, nos apresentando no primeiro show de música sertaneja do Rock in Rio.”

    Com a participação em Pra Sempre Sertanejo, a orquestra e o maestro também querem mostrar “que a música clássica com uma orquestra sinfônica não é uma coisa ‘careta'”. “As pessoas ainda vivem muito no imaginário de que vão chegar a um teatro para assistir a um concerto e ver as pessoas de casaco e vestido longo, que é o que vemos nos filmes, nos programas de TV”, afirma. “Isso não é real. A música clássica aqui é tão acessível quanto a música sertaneja. A plateia só tem de abrir o coração e ouvir”, diz o maestro.

    Atraso

    O anúncio da inclusão dos sertanejos no festival provocou reações variadas. Há quem ache que ela veio até com certo atraso, mas outros avaliam que o evento deveria ser centrado no rock. “Já ouvi muito esse tipo de comentário, [de pessoas] falando que o Rock in Rio tem de ser só de rock, mas faz tempo que já não é assim”, comenta Luan Santana.

    Ana Castela, que quer assistir ao show de Katy Perry no festival, diz focar mais no significado da apresentação para a sua carreira e a história da música sertaneja. “Olha que legal, que bênção de Deus estar no Rock in Rio”, comemora. “Tem muitas pessoas reclamando, mas elas não sabem o quanto isso é bom para os artistas sertanejos.”

    Segundo Zé Ricardo, a ideia de criar o Dia Brasil foi de Roberto Medina, criador do Rock in Rio, mas a proposta de incluir os sertanejos, porém, foi dele. “Depois de várias noites sem dormir, eu cheguei à conclusão de que a melhor coisa era homenagear os estilos mais importantes da música brasileira. E como fazer um Dia Brasil sem falar de sertanejo?”

    Integrantes da história da música sertaneja, Chitãozinho & Xororó avaliam a participação do gênero no festival como a realização de um sonho. “Nós sentimos isso muito no começo[da carreira], que a gente não tinha o nosso trabalho reconhecido. Mas, com os anos e com tantas músicas que nós gravamos que se tornaram importantes na vida de tantas pessoas, fomos rompendo essa barreira”, diz Chitãozinho.

    As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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