Enfrentando o insuportável

Estar dentro do insuportável é como estar em cova dos leões. O bafo das feras, seus rosnados e ameaças, até seu aroma incômodo. Nada disso é confortável, nunca é agradável. Mas pode ser necessário. Já estive em cavernas assim. Situações opressivas. Injustas perseguições. Companhias indesejadas. Apedrejamentos sofridos. Claustros, poços, abismos… Foi preciso ali estar. Na verdade, às vezes, indispensável foi ali ingressar. Depois, não era possível, por um tempo, sair. Às vezes, longo tempo. Você já deve ter vivido isso. Etapa a vencer, situação de proteção afetiva, carência econômica, compromisso de família, emprego da subsistência. Até mesmo um país pelo avesso. Não é mesmo agradável. Mas sobrevivi. Aprendi. 

Em guerras, mesmo entre bombardeios, a história mostra pessoas que se organizaram para irem à escola improvisada, se visitarem ainda que se esgueirando, efetuaram trocas ainda que de coisas miúdas, repartiram pão, ainda que escasso, darem abraços, ainda que trêmulos. Até sorriram, ainda que de forma curta. Da melhor forma possível… A vida tinha que seguir. O que se torna inevitável, seja país ruim, relacionamento complicado, emprego que entristece, exige de nós paciência. Jamais desespero. Senso de identidade, sim. Jamais desistência. Consciência de valor sim. Jamais desamor. É preciso dizer de si para si. Você não é este calabouço, esta mediocridade, estas grades. Há sóis em você. Há flores. Estrelas. Tua alma brilha. Você já venceu batalhas. Conquistou medalhas. Abriu trilhas. Então, paciência. Seja forte. Resista. Lembre que na cova dos leões, o profeta Daniel jamais esteve sozinho. Deus estava com ele. Fechou a boca dos leões. E Deus e Daniel conversavam. Deus ouvia sua angústia, acalmava sua alma. Até que um dia, e o dia virá, chega a hora adequada. Você cava com as unhas. A cova se abre. O sol te alcança. Vem liberdade. E você sai. Mais forte. Enriquecido. Valoroso. Na vida de fé, nada é desperdício. Porque isso vivi, é que esse tanto de verbos te digo. 

Colombo viveu mais de dez anos aprisionado em recusas e adversários, um pedinte em palácios, preso em burocracias, acorrentado ao fracasso. Sofria sonhos que podiam dar em nada. Mas não desistiu. Um dia, as caravelas navegaram para dentro da história. Calma. Teus descobrimentos virão. Mandela foi encarcerado 27 anos. Trabalho forçado, isolamento, traições, perseguição. Podia sair dali amargurado, com ódios. Mas o cárcere não o destruiu. Ali ele fez literalmente uma escola. Extraiu ouro da lama. Quando as correntes foram quebradas, tinha pronto um coração cheio de amor e um invencível sorriso que iluminou o mundo para o fim do apartheid e a reconciliação de uma nação.

Então. Ficar entristecido é normal. Mas não se deixe esmagar por circunstâncias ruins e, acima de tudo, por maus pensamentos, que sorrateiros são eles… Cultive desde já bom sorriso. Quem semeia flores em tempos difíceis pode já se alegrar com as pétalas que um dia ao sol brilharão. Fim de dores e a reconciliação com a felicidade te aguardam. Seja, pois, desde já, pessoa disposta à alegria. Treine o sorriso. Mesmo na adversidade. Porque ela vai acabar. A cova dos leões não era para sempre. Daniel sabia. Os espremidos em guerras sabiam. Colombo aspirava. Mandela esperava. E todos saíram da cova dos leões para serem honrados. Respeitados, enobrecidos, se alegrarem. Não se esqueça disso. Deus jamais abandona os que a Ele se entregam. 

denilsoncdearaujo.blogspot.com.