• Enem digital tem falhas e abstenção recorde

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  • 01/02/2021 07:27
    Por Estadão Conteúdo

    Dos 93 mil candidatos inscritos para a estreia da versão digital do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), mais de 53 mil não compareceram para fazer a prova, segundo o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep). A abstenção, de 68%, ficou acima da registrada no Enem impresso (55%). Alunos que foram ao local do exame no Amapá, Alagoas, Maranhão, Rio Grande do Sul e Distrito Federal relataram não ter feito a prova por falhas no sistema do Inep.

    No Distrito Federal, Larissa Giovana Nascimento de Andrade Xavier, de 19 anos, esperou no local de prova por duas horas, quando foi orientada a ir para casa. “O sistema parou, não liberou as provas”, conta a estudante. “Depois, só passaram um número para reclamação e disseram que faríamos a prova provavelmente só em março.”

    Para Larissa, a situação demonstra descaso. “Moro longe e a gasolina custa mais de R$ 5. É um sentimento inexplicável.” De acordo ela, o problema ocorreu em toda a Universidade Católica de Brasília. O marido de Larissa, que fazia o exame em outro prédio, conseguiu começar o exame, mas foi instruído a fechar e encerrar a prova.

    Em Macapá, Luciene Souza da Silva, de 23 anos, esperou por mais de uma hora na tentativa de ter acesso à plataforma. “O sistema nem abriu. Então, mandaram a gente ir embora”, relata. “Disseram que não era culpa da internet nem dos computadores, mas do sistema. Dos oito laboratórios da escola, só um conseguiu acesso.”

    Em Arapiraca (AL), os computadores nem sequer foram ligados na sala onde Letícia Pereira, de 17, fazia a prova. “Estavam desligados e assim permaneceram”, diz a estudante. “Coordenadores avisaram que não teria a prova e os fiscais disseram que deveríamos remarcar para outro dia.”

    Após um trajeto de 45 minutos de ônibus, Milene Schiavo, de 19 anos, também não realizou o teste, em Pelotas (RS). “Fiquei na sala das 12h30 às 13h30. E aí disseram que, por problemas de conexão, a prova não iria acontecer.” Na escola de Milene, a orientação foi para que todos entrassem em contato com o Inep e pedissem a reaplicação.

    Em São Luís (MA), Railson Lima, de 28 anos, esperava que o sistema abrisse com seus dados na tela, mas não foi o que ocorreu. Na sala ao lado, os estudantes começaram a prova às 13h30, mas não na de Railson. De acordo com ele, a coordenadora deu a possibilidade de os candidatos irem embora antes das 15h30 e serem eliminados por desistência ou iniciarem a prova às 15h30, com término às 21 horas. Os estudantes recusaram. “Assinamos a presença e saímos, porque não tínhamos mais condições nem físicas nem psicológicas”, diz Railson, “Só iríamos nos prejudicar mais do que já fomos prejudicados pelo erro do Inep.”

    À noite, em coletiva de imprensa, o presidente do Inep, Alexandre Lopes, afirmou que os alunos prejudicados poderão se inscrever para fazer a prova nos dias 23 e 24 de fevereiro. “Agora, começamos uma nova jornada, que é o caminho da digitalização das avaliações e exames feitos pelo Inep.”

    Redação

    Na avaliação de professores de cursinho, a temática da redação da versão digital do Enem – “O desafio de reduzir as desigualdades entre as regiões do Brasil” – é importante e possibilita boas reflexões sobre o País. Para a professora de Redação Maria Aparecida Custódio, do Curso e Colégio Objetivo, o candidato teve a oportunidade de fazer um exercício de cidadania. “Ele precisou mostrar algumas causas pelas quais essas diferenças, a maioria históricas, vêm se acentuando”, diz Maria Aparecida. “É importante que se tenha apresentado uma proposta baseada nos argumentos presentes no texto, sempre lembrando que o Brasil se destaca pela desigualdade e por um baixo IDH (Índice de Desenvolvimento Humano).”

    Professor e autor do Sistema de Ensino pH, Thiago Braga considerou a temática de ontem um pouco mais difícil do que a da redação impressa, que ocorreu no dia 17: “O estigma associado às doenças mentais na sociedade brasileira”. “O tema da digital é amplo, o que pode ser perigoso. As diferenças podem ser econômicas, sociais, de oportunidades de trabalho”, explica Braga. “Por isso, o tema é mais dependente da coletânea de textos para entender o que a banca avaliadora quer.”

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