• Encontro com J. Carlos

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  • 14/03/2018 12:30

    Quem me conhece sabe o quanto aprecio as artes plásticas, com especial interesse pelo desenho em todas as suas técnicas. Em recente crônica, aqui na Tribuna de Petrópolis, comentei o livro biográfico de autoria de Michael Schumacher que enaltece a vida e obra de Will Eisner, maravilhoso cartunista, caricaturista, quadrinista, pintor norte-americano, criador do “The Spirit” e de obras-primas da especialidade.

    Agora, no particular, meu estado de graça se acentua, ao receber de minha amiga e grande guerreira e mulher de luta e fibra, Maria Helena Arrochelas Corrêa, três publicações de homenagem e culto ao maior de nossos desenhistas brasileiros José Carlos de Brito e Cunha, o J. CARLOS ou simplesmente J.C., autor das mais expressivas obras do desenho brasileiro, desde o seu primeiro rabisco, em menino, até a consagração que obteve em vida e cresce e se acentua pelo estudo de sua obra pelos mais renomados especialistas.

    Possuo e tenho como um dos livros de cabeceira, a obra de Herman Lima “História da Caricatura no Brasil (4 volumes)”, onde a veneração do autor por J. Carlos é visível e comovente; mantenho em lugar especial, em meus arquivo e biblioteca, exemplares da “Leitura para Todos”, “Careta”, “Tico-Tico”, “Illustração Brasileira”, “Cinearte”, “Fon-Fon”, recortes sobre o artista na imprensa brasileira, tudo fruto da infinita admiração por J. Carlos, ao lado de outros notáveis artistas do traço, de seu tempo e de tantos que admirei e colecionei em minha juventude e guardo até hoje.

    Agradeço a Maria Helena, que é neta de J. Carlos, filha de meu amigo e saudoso colega bancário Brito Cunha, o presente que coloriu minha alma de belas imagens e rabiscos geniais daquele que retratou as melindrosas como nenhum outro, inspirou artistas, como Lan, o mágico burilador das formas exuberantes das mulheres monumentais que desfilam nas passarelas do maior carnaval do mundo.

    J. Carlos passeou pelos salões das belas de seu tempo, em traços finos, sutis, como exigiam as formas de seus modelos, criando imagens que definiram seu estilo inconfundível de ser sensível e observador, aquarelando a vida com o mais belo continente dos seres da escala biológica, a mulher. E, também, os tipos singulares das ruas, dos becos da capital, das figuras extraordinárias componentes de dias mágicos que ele imortalizou em sua obra. De grande expressão os registros que deixou, principalmente na “Careta”, dos políticos, sempre os mesmos e que ele satirizou de forma admirável, principalmente em tempos do chumbo pespegado pelo ditador Getúlio Vargas, ignorando e trocadilhando os “dips” e assemelhados que sustentam os regimes de exceção.

    Destaco, no belo presente de Maria Helena, a belíssima publicação sobre a Escola de Samba Acadêmicos da Rocinha, que no ano de 2009 levou para a passarela do samba J. CARLOS, seu encanto, sua magia, sob a convocação: “Junte sua energia ao nosso samba! Junte seu amor ao nosso Carnava! Com J. Carlos, França e o Rio de Janeiro, ninguém pode ! Com Acadêmicos da Rocinha também não!

    Integro-me, sim, ao ritmado risco mágico do artista, ao percorrer as sovadas ruas do Rio onde, em cada ponto, é fácil divisar a melindrosa a caráter deitando sutil fumaça pelas pontiagudas piteiras e J. Carlos, anotando o seu amor carioca nos cadernos ou nos punhos das camisas, e no seu atelier, aquarelando o melhor do Rio da “bele èpoque”.

    Imortalidade é isso.

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