Empresário morto em Interlagos: asfixia reforça hipótese de briga
O laudo que apontou asfixia como causa da morte do empresário Adalberto Amarilio dos Santos Junior, encontrado em um buraco de obra no Autódromo de Interlagos, na zona sul de São Paulo, reforça a hipótese de briga, segundo a polícia. A investigação retomou a oitiva de seguranças que trabalharam no evento e faz um pente fino nas imagens de câmeras instaladas no autódromo. Diante do laudo, a linha de investigação do inquérito foi alterada para homicídio.
Conforme a Secretaria da Segurança Pública (SSP-SP), o Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) segue com as investigações para esclarecer todas as circunstâncias da morte. As informações são preservadas para garantir a autonomia do trabalho policial, segundo a pasta.
A polícia acredita que Adalberto foi abordado no trajeto entre o local do evento e o ponto em que seu carro estava estacionado. O empresário teria cortado caminho por um local de acesso proibido. Ele pode reagido a uma abordagem dos seguranças ou de pessoas que estivessem no local, onde não há câmeras. Ali havia pouca iluminação naquela noite.
Segundo um fonte da polícia especializada neste tipo de investigação, a hipótese de esganadura com as mãos (estrangulamento) ou enforcamento com o uso de cordas ou laços não são compatíveis com o resultado da perícia, já que deixariam marcas evidentes no pescoço.
É provável que Adalberto tenha sido imobilizado por mais de uma pessoa, o que explicaria também o fato de ter sido encontrado sem as calças e o par de tênis que usava. Enquanto uma pessoa o continha com um golpe de mata-leão – o braço em torno do pescoço, exercendo pressão – a outra o segurava pelas pernas. Um dos laudos apontou uma lesão no joelho, uma escoriação que teria ocorrido com ele ainda vivo.
Adalberto pode ter sido sufocado com a obstrução das vias respiratórias com as mãos, tecido ou plástico, ou sofrido sufocação indireta, através da compressão torácica, com o joelho sobre o tórax, ou com a pessoa sentada sobre as costas, por exemplo. Quando o corpo foi retirado do buraco, que na parte mais estreita tem 45 centímetros de largura, a polícia observou marcas de compressão torácica, inicialmente atribuída ao local onde foi encontrado.
A área já foi esmiuçada pela investigação durante a elaboração de um mapa e de um croquis mostrando a possível trajetória dele. Não foram reportadas marcas de luta no chão, mas novas análises serão feitas. A polícia obteve a lista das pessoas que trabalharam no evento e avança nas oitivas – são mais de 180 pessoas, entre homens e mulheres.
O que falta esclarecer?
A análise do material colhido sob as unhas da vítima podem confirmar se houve a briga, já que normalmente a reação da vítima causa arranhões no agressor. Também foi recolhido material genético – pelos e vestígios de pele – nas roupas e no corpo do empresário e os laudos estão em elaboração.
Outra questão que ainda precisa ser respondida é o paradeiro da calça jeans e dos tênis do empresário. Uma calça encontrada próxima ao local não foi reconhecida como sendo dele. É possível que as peças tenha sido levadas pelos agressores e, provavelmente, destruídas.
O depoimento de um amigo de Adalberto, Rafael, de que ele havia ingerido bebidas e usado maconha durante o evento foi contrariado pelo resultado do exame toxicológico, que deu negativo. No entanto, o tempo decorrido entre a morte e a coleta do material, de cerca de três dias, pode ter eliminado os vestígios de álcool no sangue.
O sangue encontrado no carro é outro ponto controverso. A polícia acredita que Adalberto foi morto antes de chegar ao veículo naquela noite. A hipótese de se tratar de resíduos antigos pode ser confirmada pelo laudo do exame de DNA, que ainda não foi juntado.
A motivação para o crime ainda é desconhecida. Segundo os familiares, o empresário não tinha inimigos e não há registro de desentendimentos que pudessem ensejar uma vingança. Nada foi apurado durante o evento que justificasse uma perseguição a ele, o que reforça a hipótese de uma abordagem ocasional, no percurso até o carro, seguida da briga.
O que já se sabe?
Adepto de esportes de velocidade, Adalberto foi ao Autódromo de Interlagos, no dia 30 de maio, para participar de um evento com motos. Ele chegou por volta das 14h30, deixou o carro no estacionamento e acompanhou as corridas (test rides) até às 17h. Por volta das 19h40, ele assistiu a um show, interagiu com amigos e desconhecidos e, em torno das 21h15, se despediu dizendo que iria para casa, pois jantaria com a esposa.
De acordo com a investigação, ao se dirigir até o local onde estava seu carro – um bolsão ao lado do estacionamento -, Adalberto teria cortado caminho por uma área restrita. Ele não chegou até o carro. Sua esposa denunciou o desaparecimento à polícia.
O corpo foi encontrado na manhã do dia 3 de junho por um trabalhador do autódromo. Ele viu o capacete de Adalberto no interior do buraco e, ao examinar, visualizou o corpo de acionou a polícia. Os bombeiros usaram técnicas de rapel e escalada para içar o corpo para fora da fenda.
Dono de óticas na Grande São Paulo, Adalberto tinha o hobby de viajar de moto e também exibia fotos pilotando kart, modalidade pela qual dizia ter sido campeão paulista três vezes.