• Empatia: projeto acolhe vítimas de vulnerabilidade social

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  • 09/06/2019 09:00

    Um tapa no rosto. Um espancamento. Para o relacionamento chegar a esse ponto, muitas pequenas violências vão se acumulando no dia a dia. Uma grosseria gratuita, o controle do círculo de amizades, o ciúme da família, o vitimismo, o menosprezo das qualidades, a humilhação, o controle financeiro. Sim, muitas mulheres não conseguem sair do círculo de violência por dependerem financeiramente de seus parceiros. Por isso, o projeto Costurando com Amor vem na contramão e tem oferecido na cidade, há oito anos, um curso de costura gratuito para mulheres – vítimas de vulnerabilidade social ou não. A formação traz certificado e não exige conhecimento prévio. As aulas são totalmente gratuitas.

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    O Costurando com Amor hoje conta com 28 alunas divididas em duas turmas, uma para iniciantes e uma do segundo módulo. Cerca de 160 alunas já passaram pelo projeto, que surgiu em 2011. À frente da iniciativa está Fátima Bastos, de 70 anos, que trabalhou em diversas confecções de Petrópolis por mais de 40 anos. Ela conta que começou a dar aulas, voluntariamente, uma vez por semana, mas hoje atua praticamente todos os dias. “Para mim esse projeto é uma felicidade. Eu sempre tive o sonho de ensinar as pessoas o que eu sei. São pessoas de uma certa idade, que vem e aprendem. Graças a Deus o projeto está dando certo”, disse.

    No curso, as alunas aprendem desde noções de moda, passando por treinamento em papel, funcionamento das máquinas, costura de bolsas e necessaires, terminando com o feitio das próprias roupas para a formatura no fim do ano. Mas não é só o conhecimento que elas ganham ali, os relacionamentos também ficam.

    “São três horas por semana que a gente fica ali e se desliga dos problemas. Você conversa, faz amizades. Está sendo ótimo”, disse a aposentada Maria de Fátima da Silva Santos Valentim, de 63 anos, que começou a fazer o curso há três meses. Ela conta que tem um filho que está preso e que conheceu o curso por meio da Associação Mulheres Guerreiras (Amugue). “Como já trabalho com revendas, quero aprender a cortar e fazer coisas para mim mesma e revender”.

    Já a dona de casa Divina Lúcia de Freitas dos Santos, de 62 anos, lamenta que o curso aconteça apenas uma vez por semana. “Por mim podia ter todos os dias! Conheci muita gente lá. Está sendo uma maravilha. Já aprendi a colocar fecho-ecler, fazer almofada, bolsa, sapatinho para doação”, disse, empolgada. Ela também está no curso há três meses e conheceu o curso por meio das netas, que fazem outros cursos da Comac.

    Embora o curso seja aberto para qualquer mulher, muitas vêm encaminhadas pelo Centro de Referência em Atendimento à Mulher (Cram) depois de terem passado por situações de vulnerabilidade social. “Em um primeiro momento, o curso serve como uma ocupação para a cabeça, porque quando elas estão aqui estão fora de casa e não estão sofrendo violência. E na relação do dia a dia elas vão trocando experiências e se fortalecendo”, explica a presidente da Comac, Fernanda Ferreira. “Muitas vezes no primeiro momento, a vítima de violência doméstica não se acha capaz de produzir. No decorrer do curso, ela se vê capaz de criar, produzir e ser independente financeiramente”.

    A psicóloga da Comac, Teresa Cristina Lisboa, de 36 anos, explica que o curso representa uma mudança na vida das vítimas. “É poder ver que não acabou para elas. Porque até então muitas vezes a família era a única coisa para elas. Com o curso, elas veem que a vida continua, que as portas se abrem e há outras possibilidades”, afirmou.

    O projeto está fazendo sapatos de moletom para doar neste inverno. Interessados em colaborar podem fazer doações de retalhos de moletom na sede da instituição. Além do moletom, aviamento, malha, tecidos e qualquer material de confecção também pode ser doado. O Costurando com Amor funciona na Rua Doutor Sá Earp, n° 88, no Morin.


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