• Em sua estreia, Instituto Brasileiro de Teatro investe em dramaturga inglesa

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  • 04/05/2022 07:50
    Por Bruno Cavalcanti / Estadão

    Dramaturga inglesa que segue em produção aos 84 anos, Caryl Churchill se tornou figura tarimbada no teatro brasileiro na última década. Uma série de leituras e montagens bem-sucedidas fizeram da octogenária uma das autoras favoritas dos criadores do teatro paulistano.

    Não à toa, sua obra fascinou um grupo de jovens artistas que, ao ler um apanhado de peças curtas escritas e encenadas em 2019, em Londres, decidiu dar continuidade aos estudos acerca da criadora.

    Com a pandemia, o projeto esfriou, mas levantou uma sequência de questionamentos sobre a arte, a produção cultural no Brasil e, o mais importante, o público e as formas de se comunicar com uma plateia que precisaria se reeducar para voltar ao teatro.

    “Queremos convencer a população a frequentar e consumir teatro, e, para isso, precisamos levar quem nunca foi ao teatro para experienciá-lo”, afirma Guto Portugal, que, unido a Elisa Volpatto, Oliver Tibeau, Samya Pascotto e José Aragão, formam o Instituto Brasileiro de Teatro (IBT), um conjunto de artistas que visa estreitar os laços do mercado cultural com empresários da iniciativa privada.

    “Somos um grupo de artistas e um empresário, e nessas conversas foi ficando cada vez mais claro como empresas e artistas não falam a mesma língua, mas há um grande ponto em comum: o público. Então, o instituto nasceu para ser esse tradutor, uma organização que cria a governança necessária na abordagem das empresas e doadores privados em geral, e que valoriza e sabe se relacionar com a comunidade artística”, conceitua.

    A ideia do projeto é produzir espetáculos que possam chegar à sociedade de maneira acessível, tanto no que diz respeito ao valor do ingresso quanto no acesso geográfico, como explica Elisa Volpatto. “Temos projetos que levam o teatro para onde as pessoas estão, para a rua, e também temos projetos de sala, porque queremos que elas se sintam convidadas e bem-vindas a frequentar esse espaço, o teatro tem de ser um espaço de todos.”

    Samya Pascotto endossa: “A democratização através do valor acessível é apenas uma parte da estratégia. Envolver outros agentes da sociedade civil é de extrema importância, veículos de mídia, artistas, influenciadores digitais, poder público…”.

    Como primeiro passo da ação de democratização do acesso cultural, o grupo estreou Diabinho e Outras Peças Curtas de Caryl Churchill, espetáculo em que encenam textos inéditos da dramaturga que chegaram aos palcos de Londres um ano antes da pandemia.

    QUESTÕES LATENTES. “Resolvemos montar a peça por tratar de questões latentes na nossa sociedade, como a banalidade do mal e a violência”, explica Portugal, que assina a direção da montagem. A obra enfileira quatro textos diferentes: Vidro, Matar, Barba Azul e Diabinho, com elenco formado pelos atores convidados Johnnas Oliva, Rafael Pimenta, Mayara Constantino, Norival Rizzo e Noemi Marinho, além de Elisa Volpatto.

    “Não estamos reinventando a roda, mas queremos dar nossa contribuição sendo mais uma ferramenta para trazer dignidade ao trabalho dos artistas e proporcionar teatro para o povo brasileiro”, afirma Volpatto.

    Em cartaz até o dia 5 de junho no Auditório do Masp, em São Paulo, o projeto dá início a uma série de outras produções, entre elas a remontagem de O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá, de Jorge Amado, em parceria com a Cia. Novelo sob a direção de Maristela Chelala, e um musical autoral para 2023.

    “Nosso sonho é ser um instituto plural, trazendo grandes nomes da dramaturgia brasileira e internacional, assim como fomentando novas dramaturgas e dramaturgos”, explica Oliver Tibeau. José Aragão finaliza: “Essa trajetória é longa, exige uma estabilidade e frequência de ações, mas a cada pessoa que tocamos com o ‘bichinho’ do teatro chegamos mais perto de nosso sonho”.

    As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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