Em São Paulo, MITA Festival fica vulnerável a pontos altos e baixos do Anhangabaú
Com um show dançante e enérgico de Florence + The Machine, o MITA Festival encerrou sua segunda edição na noite de domingo, 4, dividido entre erros e acertos da sua estreia no Vale do Anhangabaú. Com as críticas que pipocaram do público no centro de São Paulo e nas redes sociais, a produção do espetáculo afirma que buscou “adaptar o espaço da melhor forma possível”, admite que precisa fazer melhorias, mas defende alguns problemas como “típicos de eventos desse porte” e com saldo final de “sucesso”
Após a Virada Cultural, o MITA foi mais um teste de fogo do novo espaço, que reabriu em 2021 e desde o fim daquele ano é administrado pelo consórcio Viva o Vale. O objetivo é que o local se torne referência para megaeventos na capital paulista, mas espetáculos com atrações internacionais capazes de movimentar multidões e trazer turistas de outros Estados ainda eram inéditos até este fim de semana.
A ideia de levar o conceito da pista premium para um festival, além de uma novidade para o formato no Brasil, foi uma das principais queixas do público que só teve acesso à pista comum, especialmente pelos desafios que a própria estrutura do Vale do Anhangabaú impõe. “Tinha muita gente na frente e o palco principal ficou muito afastado, com o telão também muito longe”, conta Rany Souza, que foi acompanhada da amiga Amanda Padarelli nos dois dias do MITA.
O preço do ingresso para a pista comum de onde as duas jovens de 26 anos tentaram ver o show foi de R$ 350 (meia-entrada) e R$ 700 (inteira). Elas dizem, entretanto, que só conseguiram ver trechos da apresentação de Lana Del Rey, a headliner do sábado, 3, quando se espremia, para encontrar alguma fresta de onde pudessem assistir ao telão. “O palco deveria ser mais alto”, sugere Amanda.
O técnico de seguros Darcy Souza, 29 anos, elogia a estrutura geral do evento, a facilidade de acesso ao local e a organização dos banheiros, comidas e filas, mas repete a queixa das meninas: “Gostei, mas o palco é pequeno. Para quem está muito atrás, não dá para ver o show, principalmente porque tem muitas árvores e postes”.
Seu amigo Jean Cavalcanti, de 31 anos, contrapõe que achou a primeira edição do MITA, no Spark Arena, mais organizada, apesar de a atual ter “nomes mais conhecidos” no line-up.
Eles concordam, entretanto, em um ponto: “A visão da pista comum podia melhorar. O que acho legal de festival é não ter essa divisão, porque aí quem é fã pode chegar cedo e ficar mais perto do palco”, diz.
As duas atrações principais do MITA 2023 foram a britânica Florence Welch, líder da banda Florence + The Machine, e a musa do pop indie Lana Del Rey. Com carreiras que superam a marca de uma década, ambas conquistaram bases fiéis de fãs que já peregrinaram e lotaram shows anteriores no Rio de Janeiro e em São Paulo.
No Rock In Rio, último festival em que Florence se apresentou por aqui, em 2013, a área privilegiada onde ficam celebridades e convidados é composta por camarotes patrocinados ou próprios do evento, que se diferenciam apenas pela distância do palco. Nenhum deles, entretanto, chega a bloquear a visão de quem pagou o ingresso comum. Entre o público e o artista, o único espaço é o chamado “fosso” para fotógrafos, cinegrafistas e outros poucos VIPs privilegiados.
O Lollapalooza, que recebeu o último show de Lana Del Rey no Brasil, em 2018, também não enfrenta o mesmo problema do MITA por ser realizado no Autódromo de Interlagos, onde o relevo da área posiciona o público que está mais distante em uma altura acima do palco, que mesmo de longe continua visível.
No Vale do Anhangabaú, a própria estrutura verticalizada impossibilita que isso aconteça, além de demandar quantidade excessiva de fios cobertos por rampas de isolamento que se espalhavam pelo chão e atrapalham o fluxo.
“O desenho do Vale é exatamente como um grande corredor, e sempre foi assim que recebeu diversos eventos”, diz Luiz Guilherme Niemeyer, sócio de Luiz Oscar Niemeyer na Bonus Track, empresa que produz o MITA Festival com a 30e. “Em um festival, realmente muitas pessoas ficam afastadas do palco e por isso temos telões verticais nos dois palcos, para facilitar a visibilidade, e focamos na qualidade do som.”
‘Podemos melhorar’
Niemeyer diz que o MITA foi dimensionado para o limite de 30 mil pessoas do Vale, cuja área total de 58 mil metros quadrados também era ocupada por estandes de ativação das marcas patrocinadoras, quiosques de comida, bebida e toda a estrutura de um festival. “Em qualquer evento desse porte existe a necessidade de torres de som e de iluminação, que são instaladas ao longo da área.”
“Temos um local de show que é o centro da cidade de São Paulo, e muito da estrutura não pode ser mudada. Buscamos adaptar o espaço da melhor forma possível”, afirma.
A falta de espaços para o público sentar e descansar entre um show e outro, entretanto, ele admite: “É realmente um ponto que podemos melhora.”
Um dos alívios e elogios do público do MITA foi a estrutura de segurança montada no trajeto entre as estações Anhangabaú e São Bento do Metrô e o local do festival. Na última edição da Virada Cultural, realizada uma semana antes, o reforço no policiamento já havia se mostrado eficaz, como o Estadão mostrou, mas a sensação de insegurança no centro da cidade permanece, tanto que o público do evento anterior foi menor do que o habitual.
Entre erros e acertos, Niemeyer não descarta, mas também não confirma que uma próxima edição do MITA volte ao Anhangabaú: “Estamos nesse momento fechando a edição de 2023 e temos certeza que o evento no coração da cidade foi um sucesso. No próximo mês começamos a pensar no evento de 2024.”