Em restauração, Seminário São Vicente de Paulo está próximo de se transformar em residencial Coliving
Durante mais de 120 anos o Seminário São Vicente de Paulo, localizado na avenida Barão do Rio Branco, no Centro Histórico de Petrópolis, abrigou professores e posteriormente seminaristas. Uma construção que data do século XIX e que teve seu valor histórico e arquitetônico reconhecido pelo Instituto Estadual do Patrimônio Artístico e Histórico do Rio de Janeiro – Inepac. Há pouco mais de dois anos, o imóvel foi adquirido por duas construtoras da cidade, que agora buscam ressignificar o espaço, criando o primeiro empreendimento de coliving do município.
O termo vem do inglês e significa (em tradução livre) coabitar, viver em espaços integrados, sustentáveis, de colaboração. Uma tendência alinhada com a crise de falta de espaços físicos nos centros urbanos que crescem cada vez mais. No caso específico do São Vicente, há um alinhamento com o turismo e com o perfil estudantil da cidade. “O residencial vai ficar ao lado da Faculdade de Medicina de Petrópolis, que atrai estudantes de todo o país e está a menos de 700 metros do Palácio de Cristal”, ressalta o engenheiro e diretor presidente da Engeprat (uma das construtoras responsáveis pelo empreendimento), Luiz Fernando Gomes.
Ao todo, estão em construção 151 apartamentos, com tamanhos que variam entre 16,19 m² e 46,56 m², alguns seguindo o conceito de loft, que permitem uma adaptação dinâmica de uso. “O objetivo é que a vida aconteça além dos espaços individuais. Teremos espaços de convivência, uma grande área para ser compartilhada. O projeto vai contar com coworking (um modelo de trabalho que se baseia no compartilhamento de espaço e recursos de escritório), café, lavanderia, academia de ginástica, serviço de faxineira por hora, restaurante, pátio de trabalho ao ar livre, jardim, salas de reunião e cozinha gourmet”, lista Osmar Musse Félix, engenheiro e diretor presidente de outra empresa responsável pela obra, a Solidum Construtora.
Lançado nos dias 26 e 27 de setembro do ano passado, o empreendimento de R$ 35 milhões conta com a previsão de que a primeira unidade de apartamentos seja entregue até o fim do primeiro semestre de 2022. “Queremos que fique pronto já para abrigar turistas na Bauernfest, porque, sobretudo, essa é uma aposta no turismo da cidade. Hoje, a maior parte dos apartamentos foi vendida. E muitos desses apartamentos para investidores que apostam no potencial de locação de imóveis para modelos de superhost (anfitrião), recebendo os visitantes que querem passar dias ou até semana conhecendo Petrópolis”, destaca Luiz Fernando, que revela ainda que a segunda etapa da obra, a entrega dos demais apartamentos residenciais, acontecerá em agosto de 2023.
Resgate da História e abertura ao público
Quando foi lançado no ano passado, o empreendimento contou com uma missa celebrada pelo bispo da cidade Dom Gregório Paixão, na histórica igreja do antigo Educandário, que também será restaurada. O projeto, em parceria com a Congregação da Missão (mantenedora do seminário e educandário), destinará ao espaço celebrações religiosas em datas festivas, como o dia de São Vicente de Paulo, além de casamentos ou mesmo visitações agendadas. “Outro espaço que também fica mantido não apenas para os residentes, mas também para os visitantes é a biblioteca. Já estamos programando a contratação de uma biblioteconomista para classificação, organização, conservação e divulgação do acervo, que ficará disponível à toda a sociedade”, informa Luiz Fernando.
Além da biblioteca e da capela, quem visitar o espaço ainda poderá contemplar o conjunto arquitetônico preservado. Pelo tombamento patrimonial, não apenas a fachada, mas revestimentos e demais materiais originais da construção de 1897 estão sendo aproveitados ao máximo. “A obra preserva todo o conjunto arquitetônico deste prédio histórico e as interferências serão as menores possíveis, já que entendemos se tratar de uma preciosidade”, pontua o diretor da Solidum, que destaca ainda que a criatividade tem sido um ponto fundamental para preservação dessa história. “Cada janela, vitral, tijolo ou madeira retirada está sendo ressignificada”.
120 anos de história
O imóvel onde está o Seminário São Vicente de Paulo foi comprado pela Província Brasileira da Congregação da Missão (Missionários Lazarista) em 1882. Primeiro, com o objetivo de ser uma escola. Mais tarde, na primeira metade do século XX, foi construído o prédio anexo, com quatro pavimentos, para ali funcionar o seminário. Tornou-se assim um complexo que abrigava padres, que também eram os professores, e seminaristas (jovens candidatos ao sacerdócio) oriundos de todas as partes do Brasil, para ali fazerem o Noviciado, Filosofia e Teologia. Na igreja, que faz parte do complexo, foram ordenados dezenas de sacerdotes. Com o passar dos anos, o número de seminaristas foi reduzido e de 1968 a 1974 o seminário interrompeu suas atividades por 12 anos, retomando o funcionamento depois de 26 anos, a partir de 2000, funcionando apenas com o prédio da frente. O que durou até 2008, quando a mantenedora decidiu fechá-lo definitivamente.
Após o reconhecimento do valor histórico e artístico do imóvel e devido ao alto custo de manutenção e preservação, já que o mesmo é tombado pelo Inepac, a mantenedora passou a procurar parcerias e investidores que se interessassem em empreender algum projeto para dar nova utilidade ao conjunto arquitetônico. Um contexto que abriu caminho para a aquisição do imóvel por parte das construtoras, que passaram a desenvolver o projeto de restauração, preservação e adequação das instalações do complexo em estilo francês para um conceito bem britânico de loft e flat, seguindo tendências mundiais de coworking, coliving.