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  • 06/08/2023 08:00
    Por Ataualpa A. P. Filho

    Em paz, consigo. Veja o peso de uma vírgula. Por meio dela, é possível alterar o sentido de uma frase: “em paz consigo”, “em paz, consigo”. Uma vitória torna-se mais fácil quando estamos em paz conosco. Por isso que se diz: “a paz começa dentro de nós”.

    Pacificar-se é um grande desafio. A paz é exigente, requer conciliação, perdão, renega o sentimento de vingança, rejeita o ódio, o rancor e não aceita covardia. Para pacificar-se, é necessário ter consciência tranquila. Por essas exigências, a pacificação não se torna tão simples. Conter as rivalidades é um exercício árduo. Para alguns, flexibilizar o orgulho em gesto de humildade é uma tarefa difícil. A luta que se trava dentro de si tem seus reflexos no ambiente em que se vive. A mesquinhez que se carrega no coração é causa de conflitos.  Desagregações, tanto em família, quanto em ambiente de trabalho, também são provenientes dos desgastes provocados por intolerâncias.

    A hostilidade entre os seres humanos sempre existiu, principalmente quando a vaidade aflora, ou quando a luta pelo poder vira obsessão. Contudo, há uma certeza: Quem criou o homem não o fez para viver da guerra.

    Não consigo assimilar a ideia de que a barbárie seja algo inerente à humanidade, porque o ato de amar é que nos conduz à felicidade. Ser feliz é o desejo de todos. Não há felicidade quando se planta o ódio. A guerra é o desamor, o primitivismo humano, a irracionalidade brutal. Viver não é digladiar.

    Sei que, antes do descobrimento da pólvora, irmão já assassinava irmão. Mas, no estágio em que a civilização humana se encontra, tornam-se inconcebíveis crimes hediondos como o espancamento de criança, o desvio de insumo dos hospitais, o desvio de merenda escolar, as segregações, as guerras ideológicas que tiram a vida de inocentes…

    O egoísmo, a insanidade, a incompreensão daqueles que não enxergam nada além do próprio umbigo dificultam a compreensão do princípio civilizatório que está fundamentado no respeito ao próximo.

    Tenho alimentado as minhas utopias para não perder a esperança no amanhã. Acredito na vitória do Bem. Sou a favor da vida. Considero-a como um direito intransferível. Por isso, acho que ninguém pode tirar a vida do outro. Fato que me leva a posicionar-me contra a pena de morte, contra os massacres regados a ódio.

    Tenho procurado usar essa tecla da paz diante da estupidez inconsequente, da excessiva agressividade. A insensibilidade, a irracionalidade, a incompreensão, os conflitos políticos estão entre as causas que provocam a cegueira da consciência coletiva. O viver em sociedade requer um comportamento cívico regido pelo bom senso que prioriza o bem comum. Quando o individualismo suplanta os interesses da coletividade, quando não há paridade, quando o elitismo predomina, estabelecendo divisões sociais, consequentemente, uma parcela da sociedade passa a viver em situação precária.

    No meu parco conhecimento de história, ainda não encontrei nenhuma ditadura preconizadora da civilidade estruturada no respeito mútuo, sem a necessidade de respaldo bélico, sem a ostentação de um poder fincado em baionetas. A gentileza não está no controle remoto. Ainda somos os mesmos e vivemos em uma aglomeração social, tecnocientificamente evoluídos, mas humanamente primitivos: comer, beber, armazenar alimentos, acumular bens, extasiar-se no coito animalesco propagado em mídia…. Como é pequeno o mundo do eu!…

    O status da mediocridade se envaidece pela fama, pelo sucesso. Há um vazio em egos inflados que se alimentam de glamour, mas só revelam a pobreza interior. Temos que caminhar juntos na criação de uma consciência de direitos e deveres pautados em conduta ética, equilibrada para a construção de uma sociedade mais fraterna e menos competitiva…

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