• Em meio à crise, desempregados usam a criatividade para garantir o sustento

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  • 13/11/2017 09:05

    Os números sobre o desemprego no país ainda assustam: apesar da pequena reação, de pouco mais de 12%, registrada no último trimestre, há, hoje, 13 milhões de desempregados. Comemorada com certo receio por economistas, a queda é explicada por especialistas como uma mudança no mercado – são desempregados que passaram a trabalhar por conta própria. A petropolitana Cristiane Lima da Silva, 44 anos, é um a delas. Ela cansou de procurar emprego e decidiu voltar a trabalhar com algo que já tinha lhe garantido algum dinheiro anos antes. “Depois de ficar sem resposta e receber não a um pedido de emprego porque consideraram meu currículo muito bom para o cargo que uma loja oferecia, decidi voltar a trabalhar como manicure”, contou.

    Os reflexos da crise econômica do país – que é ainda mais grave no Estado – pode ser visto diariamente nas ruas da cidade: o número de moradores de rua e também de pessoas vendendo todo tipo de mercadoria, principalmente balas e doces, vem crescendo cada vez mais. Caetano Fonseca da Costa, 45 anos, disse que a vida de vendedor na rua ficou muito ruim nos últimos meses, pois aumentou muito o número de pessoas.

    “Antes eu vendia duas caixas de doce rapidamente, mas hoje tem dia em que muito mal vendo uma. As pessoas não compram mais. Têm medo ou não querem gastar. Além disso, tem mais gente oferecendo”, reclamou. Ele é técnico em máquinas e motores diesel. Trabalhou numa empresa em Macaé de 1990 até 2011, quando foi demitido porque a filial foi fechada. Ao retornar para Petrópolis, não conseguiu emprego e passou a vender balas e doces nos sinais, onde trabalha há dois anos. “Mas agora está realmente muito difícil”, lamentou.

    A história de Reginaldo Soares de Souza, 42 anos, é diferente, pois ele veio para Petrópolis para ficar perto do filho. Ele conta que morava em Jacarepaguá, onde estava desempregado, e pensou que, ao vir para a cidade, conseguiria um trabalho. Como não conseguiu, foi vender balas e doces na rua. Ele, assim como Caetano, também tem a mesma avaliação de que nos últimos meses aumentou o número de vendedores e todos, segundo eles, porque ficaram desempregados há mais de um ou dois anos.


    Manicure por amor ao pai 

    – A história de Cristiane Lima trabalhando como manicure tem tudo a ver com o amor que sente pelo pai, Antônio, de 83 anos. Ela conta que, há cerca de três meses, recebeu um telefonema de uma assistente social dizendo que era para ir a UPA, onde seu pai estava internado. “Eu morava e trabalhava no Rio. Naquele dia deixei tudo e vim para Petrópolis. Chegando ao hospital, vi meu pai sozinho e ele realmente estava mal. Nos dias seguintes, procurei o médico e falei da possibilidade de levá-lo para o Rio para morar comigo, mas ele desaconselhou a mudança por causa da idade dele e do clima do Rio”.

    Cristiane conversou com o pai e viu que ele não aceitou bem a proposta, por isso, em uma semana, tomou a decisão de largar o emprego de secretária num escritório de assessoria jurídica, entregar o apartamento e mudar para Petrópolis. “Foi uma decisão difícil, mas fiz pelo meu pai e até agora não me arrependo, pois ele está bem, sai sozinho e eu faço companhia e cuido para que se alimente e tome os medicamentos. Vi que ele precisava de companhia e estamos muito bem”. 

    Se com o pai estava tudo resolvido, Cristiane passou a se preocupar em arrumar um emprego e começou a distribuir currículo em empresas e estabelecimentos comerciais cidade. Até que, numa loja, o proprietário disse que não poderia contratá-la porque o currículo dela era muito bom e a vaga que tinha era para atender telefone. “Fiquei surpresa e disse que aceitava o que tivesse, pois precisava trabalhar, mas não teve jeito. Ele não me contratou. A partir daí, pensei o que podia fazer e, conversando com uma amiga, tive a ideia de voltar a trabalhar como manicure. Ela sugeriu atendimento em domicílio e é o que estou fazendo”. 

    Disposta a virar o jogo com relação ao trabalho, junto com a amiga bolou um panfleto, criou uma página na rede social e batizou o negócio: Amiga me liga… Com isso, passou a atender as mulheres em suas casas. “Percebi que as pessoas gostam deste tipo de atendimento, pois fazem no tempo delas, inclusive aos domingos. Foi a melhor decisão que tomei, pois cuido do meu pai e estou pagando minhas contas, mas quero investir cada vez mais na minha formação”, finalizou. 



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