Em ‘Depois da Festa’, cada episódio tem um gênero ou linguagem diferentes
Em Homem-Aranha no Aranhaverso (2018), os produtores Christopher Miller e Phil Lord apostaram na ideia de usar diferentes estilos de animação de acordo com os personagens, vindos de diversas realidades. O longa dirigido por Bob Persichetti, Peter Ramsey e Rodney Rothman, que venceu o Oscar de animação, é um dos melhores filmes de super-herói já feitos. Miller e Lord, que concorrem ao Oscar como produtores de outra animação, A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas, voltam com outra mistureba que dá certo: Depois da Festa, no ar pelo Apple TV+.
A série, com oito episódios dirigidos por Miller, é uma comédia mesclada a um “quem matou” que se passa na reunião de 15 anos de formatura de uma escola na Califórnia. Alguns dos antigos colegas de classe depois vão para uma festa na casa de Xavier (Dave Franco), hoje um astro pop de sucesso. Ele termina morto. A detetive Danner (Tiffany Haddish) chega para investigar. Todos ali são suspeitos: o doce Aniq (Sam Richardson), seu antigo crush Zoë (Zoe Chao), o ex-marido dela, Brett (Ike Barinholtz), o melhor amigo de Aniq, Yasper (Ben Schwartz), a ex-garota cool Chelsea (Ilana Glazer) e aquele de quem ninguém se lembra, Walt (Jamie Demetriou).
Miller resolveu usar uma estrutura Rashomon, em que cada personagem tem a chance de contar a sua versão da história. “É uma oportunidade para que o espectador conheça cada um e simpatize com seus dramas”, disse Miller em entrevista com a participação do Estadão, por videoconferência. “Xavier é um babaca, mas espero que as pessoas entendam, porque, no fim, ele só queria que gostassem dele.”
A sacada é que cada episódio é dedicado a um personagem e tem um gênero ou linguagem específicos, que reflete a visão de cada um sobre si mesmo. Então, Aniq acredita que está em uma comédia romântica, Yasper, em um musical, Brett, em um filme de ação, Zoë, em uma animação, Chelsea, um thriller, Walt, uma comédia de escola, e Danner, um policial. Para Zoe Chao, “a série abraça a ideia de que enxergamos o mundo de formas muito diferentes e que cada um de nós é protagonista de nossa própria história”.
Desafio
Miller contou que foi um trabalho divertido e altamente desafiador de fazer. Cada episódio tinha um estilo de câmera e iluminação, figurinos e música próprios. Os atores tinham de interpretar diferentes tons de seus personagens em cada um. “Mas é o tipo de coisa que Phil e eu gostamos de fazer. Só nos interessamos por aquilo que parece impossível. Gostamos de complicar para nosso lado, mas vale a pena.”
O elenco é quase um quem é quem na comédia hoje. “Individualmente, cada um tem seus gostos e seus estilos, mas o que nos unifica é sermos apaixonados por sermos engraçados”, contou Jamie Demetriou, que extrai o máximo dos silêncios e das pausas constrangedoras. Mas Christopher Miller também destacou que cada um não é somente um comediante hilário, mas também um ator com nuance e amplitude. “Porque eles têm de fazer oito tons diferentes, não é a mesma coisa em todo episódio.”
Segundo Ben Schwartz, cada cena parecia um exercício de interpretação. “Porque, quando se está no episódio de algum outro personagem, você não é a estrela e está interpretando a visão que aquela pessoa tem de você.” Por isso, Sam Richardson acredita que Depois da Festa se encaixe na onda de séries cômicas que não evitam o drama e o conflito. “Espero que a noção de que drama é legítimo e comédia é boba esteja começando a desaparecer.”
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.