• Em CPMI, Heleno se esquiva de trama de golpe e diz que delação é ‘fantasia’

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  • 27/09/2023 07:25
    Por Weslley Galzo, Augusto Tenório, Gabriel de Sousa e Monica Gugliano / Estadão

    Um dos auxiliares mais próximos do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), o general Augusto Heleno buscou se distanciar de suspeitas que atingem o governo passado e desqualificou a delação premiada do tenente-coronel Mauro Cid. Heleno, ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), classificou como “fantasia” a colaboração do ex-ajudante de ordens da Presidência, que relatou à Polícia Federal ter participado de uma reunião em que Bolsonaro discutiu com a cúpula das Forças Armadas a possibilidade de um golpe depois do resultado da eleição do ano passado.

    “O tenente-coronel Mauro Cid não participava de reuniões. Ele era o ajudante de ordens do presidente. Não existe um ajudante de ordens sentar numa reunião com comandantes das Forças. Isso é fantasia”, afirmou Heleno nesta terça, 26, durante depoimento à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do 8 de Janeiro.

    O deputado Rogério Correia (PT-MG) confrontou o ex-ministro ao mostrar uma fotografia de Cid em uma das reuniões de Bolsonaro com os então comandantes das Forças Armadas, no Palácio do Planalto, em 2019, inclusive com a presença de Heleno. O general então recuou e declarou que Cid não participava “ativamente” dos encontros.

    Embora tenha dito que o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro não fazia parte dessas reuniões, Heleno afirmou aos parlamentares que, por ocupar cargo de natureza civil, não participava de encontros com a cúpula militar. Questionado sobre a reunião citada por Cid, declarou apenas que não teve conhecimento e se valeu do direito ao silêncio.

    Heleno foi ouvido como testemunha na comissão e tentou se descolar das supostas tramas de golpe envolvendo a gestão Bolsonaro. Afirmou que não poderia prestar informações sobre o 8 de Janeiro por não exercer nenhuma função no governo federal na data. Durante questionamentos da relatora, senadora Eliziane Gama (PSD-MA), o general se irritou e chegou a falar palavrões. “Ela fala as coisas que ela acha que estão na minha cabeça. P…, é para ficar p…, p… que pariu.” A senadora havia questionado se ele considerava que houve fraude na eleição. “Já tem o resultado, já tem presidente, não posso dizer que foi fraudado.”

    Minuta

    O conteúdo da delação de Cid foi revelado na semana passada. De acordo com ele, Bolsonaro recebeu de um ex-assessor uma minuta de decreto para prender adversários e convocar novas eleições e levou o documento para a cúpula das Forças. Conforme Cid, a iniciativa obteve apoio do almirante Almir Garnier Santos, ex-comandante da Marinha. O ex-presidente negou as acusações do ex-auxiliar.

    Novamente, Heleno se esquivou. “Nunca ouvi falar na minuta de GLO (Garantia da Lei e da Ordem), minuta do golpe. O presidente da República disse, várias vezes, que jogaria dentro das quatro linhas, e não era minha missão convencer o presidente a sair das quatro linhas. Pelo contrário”, disse.

    ‘DNA’

    Heleno foi ministro-chefe do GSI durante 1.460 dias, sempre próximo de Bolsonaro. Ontem, no entanto, ele afirmou que não deixou seu “DNA bolsonarista” entre subordinados que permaneceram na pasta após a eleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. “Não ficou DNA bolsonarista do general Heleno, porque eu jamais tratei de política com os meus servidores.”

    Dois de seus auxiliares diretos, os generais Carlos José Penteado e Carlos Feitosa Rodrigues, ficaram no GSI nos primeiros dias do governo Lula. Os militares foram exonerados no dia 23 de janeiro e, em abril, foram chamados a depor na Operação Lesa Pátria sobre possível omissão nos ataques às sedes dos Três Poderes.

    Heleno também negou envolvimento em outros episódios ocorridos na reta final do governo Bolsonaro. Sobre os atos do dia 12 de dezembro, em Brasília, data da diplomação de Lula, quando bolsonaristas tentaram invadir a sede da PF e incendiaram carros, o general disse que soube pela TV. “As manifestações ocorreram na área central de Brasília. Fora da minha atribuição. Eu soube pela televisão, sentado na minha casa, e desconhecia de qualquer articulação prévia.”

    Já sobre o atentado a bomba no aeroporto de Brasília, no dia 24 de dezembro, Heleno disse considerar um fato “isolado”. “Tratou-se de um incidente isolado que não contou com a minha participação oficial ou velada, e não contou com a participação de qualquer dos meus subordinados”, disse.

    As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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