• Em ‘Coração de Neon’, um carro é o herói da história

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  • 21/03/2023 08:00
    Por Matheus Mans / Estadão

    Sabe aqueles carros que entoam mensagens de amor e músicas românticas no meio da rua? Geralmente ainda tem um responsável para ler alguma mensagem do amado e entregar lembrancinhas para a pessoa presenteada. É justamente o carro de telemensagem o protagonista absoluto de Coração de Neon, filme curitibano feito com pouquíssimos recursos, mas que venceu o destino e está em cartaz nos cinemas brasileiros.

    Dirigido, roteirizado, produzido e protagonizado por Lucas Estevan Soares, o longa conta a história de Fernando (Soares), jovem que, ao lado do pai, dirige um carro de telemensagem, o Coração de Neon. Eles sonham em morar nos EUA, mas os planos da dupla são interrompidos tragicamente. É aí que a vida de Fernando muda por completo, impulsionando-o a tentar conquistar seus sonhos.

    Apesar de a história aparentar ser de Fernando, quem toma conta da trama é o carro. Todo enfeitado com néon, o veículo é onipresente. Não só é o meio de locomoção e de sustento de Fernando, como também interliga toda a história – mesmo quando está parado na garagem da casa do rapaz, que insiste em não querer voltar para a vida que tinha antes, ele tem efeitos na história. E isso, conforme conta Lucas Estevan ao Estadão, tem motivo.

    “A ideia de escrever Coração de Neon veio do meu fascínio pelo carro de amor. Sempre achei esse elemento muito interessante, fascinante mesmo, e queria fazer algo em torno do carro”, conta.

    “Comecei a ir atrás de notícias que aconteceram com mensageiros de verdade e fiquei surpreso com o potencial de histórias que poderia ter um roteiro com esse elemento. Comecei a trabalhar com elementos que não são tão explorados na tela. Afinal, o carro já apareceu em alguns filmes, mas nunca foi o protagonista. É sempre apenas uma piada ou algo constrangedor.”

    GUERRILHA

    Coração de Neon é a essência do cinema de guerrilha, feito quase que totalmente sem recursos, exigindo criatividade de produção. “Sempre trabalhei em produções com recursos pequenos, às vezes sem nada. Ser guerrilha é ter que amar muito, de verdade, o cinema. Você trabalha sob condições atípicas, improvisando bastante. (É preciso) estar flexível para mudar de plano o tempo inteiro, pensar criativamente em cenas grandes, trabalhar com equipe enxuta. Há muitas particularidades quando se produz assim, mas também muita liberdade. Liberdade para explorar a história, seja ela como for.”

    Na tela, apesar de tropeços da história, que às vezes a torna exageradamente vazia, Coração de Neon até consegue esconder essa falta de recursos, mas sem nunca esconder sua origem. O carro das telemensagens, por exemplo, é marcante e lembra aquelas produções japonesas mais futuristas. Tem personalidade. Isso se amplifica, ainda, para a casa de Fernando e seu estilo de vida. Tudo tem uma marca muito própria.

    Por fim, isso ainda passa pelo cenário do filme: Curitiba. Ou, mais especificamente, o bairro do Boqueirão. É um cenário atípico para um filme, fugindo do que mais aparece na tela. Lucas, que é de lá, espera que o filme faça com que mais pessoas olhem para o Paraná na hora de contarem suas histórias audiovisuais. “Acredito no potencial de crescimento. Quando tem uma comunidade te apoiando, é inevitável crescer a nível nacional”, diz.

    As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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