• Em audiência na Câmara, Galípolo volta a defender ampliação do acesso a crédito de menor custo

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  • 09/jul 13:30
    Por Cícero Cotrim e Célia Froufe / Estadão

    O presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, voltou a defender, durante audiência pública na Comissão de Finanças e Tributação (CFT) da Câmara dos Deputados, a ampliação do acesso da população a crédito de menor custo. “Boa parte das famílias e indivíduos vem utilizando de maneira recorrente o crédito que a gente chama de rotativo, que é aquele crédito emergencial, o mais caro, porque ele é utilizado justamente sem qualquer tipo de garantia”, citou, mencionando que se trata de uma linha de acesso rápido, o que facilita sua utilização.

    Esse crédito, conforme o presidente do BC, deveria ser usado apenas em episódios “absolutamente emergenciais” e as demais formas de crédito deveriam ser utilizadas com algum tipo de planejamento. Ele também mencionou que, por outro lado, algumas isenções concedidas permitem que, muitas vezes, empresas captem recursos com juros mais baixos do que o Tesouro, que é livre de risco.

    Para Galípolo, pode ser observado um movimento de deturpação, ou ruído, na transmissão da Selic a algumas modalidades de crédito. Em alguns casos, de acordo com ele, quanto maior o valor absoluto do juro, mais barata fica a tomada de crédito. “É uma coisa estranha. Se você subir o juros, a vantagem relativa subiu. Do outro lado, para as famílias que, muitas vezes, estão endividadas num rotativo, vai pagar 200%, 300% da taxa de juros”, comparou.

    Por isso, de acordo com o banqueiro central, se a Selic for elevada em 100 ou 200 pontos-base, a sensibilidade ao ciclo da política monetária passa a ficar “relativamente baixa” para quem já trabalha com juros de 200 ou 300 pb. “(Os aumentos) acabam produzindo uma transmissão da política monetária que tende a ser menos fluida.”

    O presidente do Banco Central também defendeu nesta quarta-feira a ampliação do perímetro regulatório da autarquia. Ele voltou a mencionar o aumento da participação de instituições financeiras não bancárias (NBFIs), menos reguladas, no mercado.

    “Essa discussão, que perpassa inclusive a PEC do Banco Central, é muito importante para manter o Banco Central na fronteira do que há de mais moderno e de excelente”, disse Galípolo, durante audiência pública na Comissão de Finanças e Tributação da Câmara (CFT).

    O banqueiro central voltou a destacar o aumento, no mundo todo, da participação de NBFIs em leilões de títulos, que tem agregado volatilidade às curvas de juros. Também citou o crescimento do crédito não bancário, menos regulado. Por isso, essas instituições adquirem uma dimensão “sistêmica”, que pode trazer riscos.

    Galípolo também mencionou a entrada de fintechs e instituições de pagamento no ecossistema financeiro e, falando especificamente do Brasil, destacou o papel que o BC teve ao estimular esse processo. Isso gerou uma redução do spread e a bancarização da população, ele disse, mas ponderando que a “revolução” no sistema financeiro não foi acompanhada de uma modernização no arcabouço regulatório e institucional da autarquia.

    “É preciso revisitar essa discussão sobre perímetro regulatório, que é uma discussão que está acontecendo no mundo inteiro”, reforçou o presidente do BC, destacando que a autarquia precisa de “mais luz” para observar os novos atores e poder reagir, se necessário. Ele destacou que um ganho de autonomia não significa que a autarquia não vá prestar contas à sociedade.

    IPCA

    Galípolo disse também que qualquer debate sobre flexibilizar a persecução à meta de inflação – olhando para os núcleos, e não para o IPCA cheio, por exemplo – é “muito pouco desejável” e teria efeito negativo para a economia.

    “Qualquer solução nesse sentido, que tem uma lógica meio utilitarista – ou seja, para tentar flexibilizar e permitir que a moeda possa perder mais valor, quebrar o termômetro, vamos chamar assim – eu acho muito pouco desejado”, disse Galípolo, durante audiência pública na Comissão de Finanças e Tributação da Câmara dos Deputados (CFT).

    O vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, vem defendendo em várias oportunidades que o BC olhe para a média dos núcleos, e não para o IPCA cheio, na hora de calibrar a política monetária, em uma crítica indireta à elevação da taxa Selic. Galípolo não citou Alckmin na sua fala.

    O banqueiro central lembrou, ainda, que o IPCA em 12 meses e a taxa acumulada na média dos núcleos estão próximas no momento, em torno de 5,3% e 5,2%, respectivamente. Ele destacou, ainda, que a inflação brasileira hoje não é pontual, e sim, disseminada.

    “Aproximadamente 45% dos índices que compõem a inflação estão superiores ao dobro da meta; aí, quase 60% estão acima do teto. E, como eu já disse, nós temos de acompanhar a meta, e a meta é 3%. Nós temos 72,5% dos itens que compõem a inflação acima da meta. Então, percebam que é uma inflação bastante disseminada”, ele disse.

    Galípolo: questão é como conviver com juro em linha com pares e inflação controlada

    O presidente do Banco Central afirmou na audiência que será preciso uma série de medidas para normalizar a política monetária no Brasil e que algumas reformas extrapolam a área de atuação da autoridade monetária. Para ele, há uma questão, que é a de como conviver com juro em linha com pares e com inflação controlada, e também é preciso, conforme o banqueiro central, facilitar o acesso ao crédito colateralizado pela população com o intuito de reduzir custo do crédito. As observações de Galípolo foram feitas durante audiência pública na Comissão de Finanças e Tributação (CFT) da Câmara dos Deputados.

    “Um grande desafio é a discussão de como é que a gente pode conviver com taxas de juros em patamares que são mais próximos aos nossos pares”, considerou, acrescentando, porém, que “ninguém quer baixar os juros para ter uma inflação lá em cima”.

    “Você quer conviver com uma taxa de juros que possa produzir o mesmo efeito do ponto de conviver com a inflação, porém em patamares que possam ser mais próximos aos nossos pares”, explicou.

    Para ele, está claro que o Brasil precisará de uma série de medidas. “Não vai ter uma bala de prata, não vai ter uma ‘vitória por ippon’, como eu já usei expressão antes.” Por isso, de acordo com o presidente do BC, a ideia de dar acesso à população ao crédito menor custo pode ter como consequência a redução da percepção de risco e isso reduz o custo daquele crédito também.

    Galípolo: BC tem de colocar juro em nível restritivo o bastante para atingir meta no horizonte

    O presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, repetiu há pouco que a autoridade monetária tem de colocar a taxa de juro em um nível restritivo o bastante para atingir meta no horizonte relevante, durante audiência pública na Comissão de Finanças e Tributação (CFT) da Câmara dos Deputados. Segundo ele, críticas sobre Selic a 15% ao ano, às vezes, estão associadas à ideia de que a autoridade monetária não está perseguindo a meta.

    “Muitas vezes, o presidente do Banco Central e toda diretoria da política monetária tem de estar sujeito a críticas e tem que ouvir críticas”, disse a deputados. Ele explicou que a meta de inflação de 3% não é uma sugestão do BC, mas que decorre de um decreto, e que sua banda serve para absorver choques. “Se você tiver algum choque de oferta, algum choque exógeno, você temporariamente absorve esse choque, mas a meta é de 3%”, detalhou.

    Galípolo salientou também que gostaria que a fortaleza institucional do BC se perpetuasse, independentemente de seus comandantes. Por isso, de acordo com ele, seria importante que os nomes dos membros do Comitê de Política Monetária (Copom) importem cada vez menos em análise sobre a função de reação da instituição. “A ideia de que, a partir de que uma pessoa foi para lá, ela pode ser mais leniente, mais condescendente, não cumprir ou cumprir (a meta)”, citou sobre algumas críticas antecipadas que já ocorreram.

    O presidente da instituição salientou que sua atribuição também tem limites. “Não foi conferido a mim interpretar, flexibilizar qualquer tipo de comando legal”, afirmou, salientando que os juros num patamar restritivo, o suficiente e pelo tempo que for necessário visam atingir a meta dentro do horizonte relevante. “Este é o papel. E, de maneira nenhuma, quero fazer parecer aqui que o que eu estou falando sugere a abertura para um debate sobre a meta”, afirmou.

    Galípolo também afirmou que não há nada mais danoso a uma sociedade quanto a destruição da moeda e salientou que o BC reagiu de maneira “inequívoca, e sem tergiversação”, na defesa da sua moeda.

    O presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, assegurou durante audiência pública na Comissão de Finanças e Tributação (CFT) da Câmara dos Deputados que o câmbio no Brasil é flutuante e que a autoridade monetária não persegue qualquer nível de cotação. Ele aproveitou para explicar aos parlamentares sobre como a movimentação do dólar interfere nos preços de produtos no Brasil e sobre como isso, portanto, tem influência sobre a inflação, que é observada de perto pelo BC.

    “O repasse cambial para a inflação é especialmente vista para a inflação de alimentos”, disse. Ele calculou, por exemplo, que uma depressão cambial de 10% tem impacto de cerca de 4 pontos porcentuais na inflação de alimentos, considerando-se o que já foi visto nos últimos anos, de acordo com a série histórica da instituição.

    Ainda sobre o comportamento do dólar e de suas transações com a moeda brasileira, o presidente do BC destacou que, depois de ter registrado o pior movimento em relação a seus pares no ano passado, o real registra este ano a melhor performance na mesma comparação

    Transição

    O presidente do Banco Central disse que seu desejo é o de que ocorra uma transição gradual para um novo modelo de funding para o crédito imobiliário no Brasil, durante audiência pública na Comissão de Finanças e Tributação (CFT) da Câmara dos Deputados. Ele salientou que, no País, a questão é complexa e que as fontes de financiamento estão diretamente relacionadas com a poupança.

    “Percebemos que, como a captação livre da poupança vem caindo, cada vez mais há um consenso de que isso é estrutural, porque as pessoas têm cada vez mais acesso a outros investimentos que são mais rentáveis e menos a gente vai colocando dinheiro na poupança”, considerou. “(Queremos) Utilizar a poupança para ajudar a financiar essa transição para um modelo novo. Nada vai ser feito de maneira abrupta”, garantiu, explicando até que o passo mais lento será importante até para se enxergar como as coisas estão sendo feitas.

    Banco Master

    Segundo Galípolo, a autarquia recebeu novas informações sobre o perímetro da operação de compra do Banco Master pelo Banco de Brasília (BRB) nesta manhã. Ele participa de uma audiência pública na Comissão de Finanças e Tributação da Câmara dos Deputados (CFT).

    “Está ocorrendo uma discussão entre os bancos, com o Banco Central pedindo informação de maneira recorrente, para definir o que a gente chama do perímetro da operação, ou seja, o que um banco pretende adquirir do outro. Recebi que tinha sido entregue, hoje, uma nova informação nesse sentido de definição do que seria o perímetro”, ele disse.

    No início de junho, o BRB já havia entregado uma nova leva de informações sobre a compra do Master, mas o BC continuou demandando novas informações. O banco público quer adquirir 58% das ações do Master, mas a transação ainda precisa ser autorizada pela autoridade monetária. O Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) já deu aval à operação.

    Nesta quarta-feira, Galípolo voltou a dizer que o BC não observa a conveniência da operação para o Master ou BRB, mas sim a sua viabilidade.

    Autonomia

    O presidente do Banco Central defendeu durante a audiência que a quantidade de servidores do BC caiu ao mesmo tempo em que a demanda foi ampliada, mas garantiu que o sistema é seguro, sadio e sólido. De forma indireta, Galípolo defendeu, durante audiência pública na Comissão de Finanças e Tributação (CFT) da Câmara dos Deputados, a Proposta de Emenda à Constituição que dá autonomia financeira e orçamentária da autoridade monetária, a PEC 65.

    “Eu entro naquela minha fala sobre a questão da atualização do arcabouço institucional: não é só pessoal, não é só o que a gente tem hoje na supervisão, menos da metade do que a gente tinha antes, com um número, um volume de instituições que é mais do que o dobro do que a gente tinha antes”, disse.

    Para este “mundo novo”, conforme o presidente do BC, a instituição precisa de investimento. “A lógica é a de que é preciso fazer uma atualização, do ponto de vista orçamentário, financeiro e administrativo, para que o Banco Central possa responder a essa atualização que aconteceu no mercado financeiro, ela é absolutamente urgente”, citou. “O sistema hoje está absolutamente seguro, hígido e sólido, mas ocorreram transformações e, junto com essas transformações, para se manter essa infraestrutura e serviços, a gente precisa também ter as condições para que o Banco Central continue fornecendo serviço e fazendo a supervisão necessária”, defendeu.

    Inflação fora da meta

    Galípolo também disse nesta quarta-feira que a inflação está fora da meta perseguida pela autarquia, de 3%, em diversas métricas que podem ser observadas. Por isso, ele reforçou o compromisso da autoridade monetária em garantir a convergência do IPCA para o centro do alvo.

    Respondendo a perguntas de deputados durante audiência pública da Comissão de Finanças e Tributação da Câmara (CFT), Galípolo afirmou que o País passa por um momento de pleno emprego. Ele explicou que isso demanda uma ação do BC, que não pode vacilar na condução da política monetária, sob o risco de gerar mais inflação.

    “Esse é o básico do livro-texto de Macroeconomia 1: se falta mão de obra, nós estamos em pleno emprego. Se puxar mais a demanda em pleno emprego, é que nem um leilão”, disse Galípolo. “Quando tem mais gente do que oferta num leilão, o que acontece? Você tem menos produto e mais gente. Você vai dando o lance para cima. Este lance para cima chama-se inflação.”

    Falando sobre maior crescimento com inflação controlada, o presidente do BC destacou que isso depende de um aumento no Produto Interno Bruto (PIB) potencial. Países que alcançam isso, ele explicou, normalmente o fazem por ganhos de produtividade.

    Flexibilização?

    Galípolo garantiu que a autoridade monetária não procurará um meio do caminho para a determinação do nível dos juros. “O BC não vai flexibilizar. O mandato do BC é o de cumprir a meta. O Banco Central não vai flexibilizar, não vai tergiversar. Este é o mandato do Banco Central e o Banco Central não vai se desviar um milímetro dele”, assegurou, durante audiência pública na Comissão de Finanças e Tributação (CFT) da Câmara dos Deputados.

    Ele disse ter a convicção de que nenhum de seus antecessores ou membros da diretoria da instituição tem satisfação em ver juros altos. “Eu tenho absoluta convicção de que nenhum presidente do banco central, que se sentou no lugar que me sento hoje, não tem qualquer satisfação pessoal”, disse,

    Galípolo também afirmou que a ideia que a inflação está controlada não é subjetiva. “Há um comando legal, a meta é 3%. Quando eu digo isso, eu não digo isso para não defender a meta, eu estou defendendo a meta”, declarou. “Admitir que você está confortável com que a moeda perca mais valor ano a ano tem um efeito muito deletério”, continuou, acrescentando que esse efeito acaba se transformando em corrosão dos ganhos das pessoas. Ele enfatizou que é preciso defender o poder aquisitivo das pessoas. “O Banco Central é a última linha de defesa que existe.”

    O presidente do BC enfatizou em sua fala aos deputados que os passivos dos bancos são muito mais sensíveis à Selic do que os ativos e que, ao contrário do que se pensa de forma mais simples, não são estas as instituições que mais compram títulos públicos. Os maiores detentores são os fundos. Mais uma vez ele voltou a defender o real e salientou que nenhum investidor buscará comprar dívida, por exemplo, que esteja denominada em uma moeda que perde 15% ao ano. A ilustração foi feita para que os parlamentares entendam a importância de o BC ser firme com a inflação e com o mercado de câmbio flutuante.

    Ataque hacker

    Galípolo repetiu nesta quarta-feira que o ataque às infraestruturas da C&M na semana passada não atingiu sistemas da autarquia, que continuam íntegros. Nesse incidente, foram desviados ao menos R$ 800 milhões.

    “O Banco Central movimenta aproximadamente R$ 8 trilhões por dia, então, se tivesse acessado o sistema do Banco Central, seria um problema de outra monta”, disse Galípolo, durante audiência pública na Comissão de Finanças e Tributação da Câmara dos Deputados (CFT).

    O presidente do BC repetiu que, de acordo com as investigações policiais, o incidente de segurança na C&M ocorreu por causa de técnicas de engenharia social, e não por um ataque cibernético.

    Na semana passada, a Polícia Civil de São Paulo prendeu um funcionário da C&M, acusado de compartilhar suas senhas com um grupo que teria sido responsável pelos desvios.

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