Eles varrem o Reino de Deus.
Se há um grupo a merecer os encômios não somente meus, mas dos inúmeros munícipes com os quais tenho conversado, um deles, é certamente o encarregado pela limpeza da Cidade de Petrópolis.
Falo dos varredores-de-ruas. Vem-se pela Avenida Köeler, lá estão eles a varrer e a recolher o lixo e imundícies que se espalham pelas calçadas, outros que se entremeiam por entre os canteiros e tantos quantos inadvertidamente arremessados por transeuntes sem o senso de civilidade, respeito ao meio ambiente, ao próximo e à comunidade que os acolhe, ocasionando danos irreparáveis não somente pela poluição que causam, já que uma enormidade desses excrementos tem como destino o leito do rio.
Como se não bastasse o assoreamento, que por si dificulta o curso d’água, somando-se a toda essa descarga que recebe, facilita a infestação de ratos e insetos a propagarem doenças a exemplo da “dengue” que infelizmente vem ganhando as páginas das manchetes dos jornais e TVs. Permitam-nos os céus que a histórica e Imperial Cidade seja excluída dessa epidemia que assola o Rio de Janeiro e vem ocupando largos espaços em outros Estados brasileiros.
Quando vejo os ocupantes de um automóvel (geralmente de marca e fabricação do ano) abrir as janelas, rebaixarem os vidros e arremessarem latas de refrigerantes e restos de lanches estrada a fora, fico perplexo. E nem sempre são os chamados de “povão”; mas sim aqueles que se dizem “gente bem”.
E os abnegados varredores, em sua maioria Senhoras, pacientemente cumprem seu papel, para mim mais que uma missão, é um apostolado do cotidiano.
E sigo pelo Palácio de Cristal, Praça da Liberdade, Avenida Roberto Silveira, Rua Treze de Maio, passo pela Praça Dom Pedro, entrando pela Dezesseis de Março, chego à Avenida do Imperador e ali estão eles com suas vassouras em punho. E colhendo e recolhendo, tirando entulhos e detritos, e muitos lamentam, outros contritos, cantam e louvam, pelo sol que alimenta e aquece.
Vez por outra em meio à lama que as fortes chuvas têm inundado o Centro Histórico e cercanias eles não esmorecem. Por vezes, trafego pela Paulo Barbosa e Praça Marechal Carmona, sigo pela Marechal Floriano Peixoto, até à Rua Dom Pedro e lá estão eles, zelosos e fiéis guardiões da Terra que Köeler planejou e Dom Pedro consagrou.
Caminha-se desde a Rua da Imperatriz até à Avenida Ipiranga onde faço minha caminhada matinal ou vespertina, ali estão os anjos alados reluzindo este pedaço de céu.
Se em Petrópolis fosse cultivado o hábito do plantio de árvores frutíferas em suas avenidas, a exemplo das Cidades de Atenas (Grécia) e Alandroal (em Portugal), o cenário seria completo pois, em que pesem pequenos senões, o Deus Criador nos presenteou com uma imensurável fatia do paraíso.
Por isso mesmo, salta-me à mente a imagem dos Santos: Francisco, Antônio, Clara e demais que integram à Ordem do pobrezinho de Assis, espalhada nos inúmeros discípulos da ecologia cumprindo o pontificado pelo Irmão nascido da Família Giuseppe Bernardoni, o tão querido São Francisco de Assis, bendizendo o céu, a terra, o fogo, a lua e demais elementos que devem viver em harmonia entre o Criador e as Criaturas tão belamente descritos em Gênesis.
São os anônimos Marias e joãos do dia-a-dia que mesmo sem portarem anéis de grau, bacharelado, pós-graduação, doutorado, galardões, medalhas ou lauréis, usufruem de um privilégio digno de bênçãos e louvores porque vivem a varrer o Reino de Deus.